José Miguel Júdice: “Rio não serve para primeiro-ministro porque não vai conseguir fazer aquilo a que se propõe” | Entrevista com Rosália Amorim e Pedro Cruz (TSF)

O líder do PSD “não serve para primeiro-ministro”, mas não deve demitir-se “se perder as eleições”, defende José Miguel Júdice. O comentador e antigo bastonário da Ordem dos Advogados deixa críticas ao programa do PSD em matéria fiscal e à “falta de energia” de Costa.

Foi ativista político. Esteve preso em Caxias depois do 25 de Abril e hoje, aos 72 anos, o antigo advogado que também já foi bastonário, deixou a toga e regressou ao comentário e à análise política.

Ouvindo os seus comentários semanais televisivos parece pessimista e desencantado. Concorda?
Se eu não fosse um otimista não tinha o programa na televisão que tenho. Continuo a acreditar que se todos e cada um de nós fizer um bocadinho o país pode melhorar. E o país está muito melhor do que o país que conheci quando era jovem, quer antes do 25 de Abril quer depois. Mas há muita coisa para melhorar, há muita coisa que é inconcebível que esteja tão mal, mas tenho uma visão muito mais positiva. Só que há uma insatisfação – ou a parte juvenil que ainda não perdi -, uma insatisfação que está dentro de mim, portanto, contribuo com a minha crítica, sem dúvida, para tentar que as coisas possam melhorar. Talvez os meus netos se interessem – os meus filhos não se interessam assim tanto – e um dia, quando estiver nos últimos momentos da vida, eles digam “avô, olhe que o que fez na televisão teve alguma importância”. Se ouvir isso dos meus netos antes de morrer, já vou mais tranquilo.

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Duelo | o jogo viciado | Carlos Matos Gomes

Miyamoto Musashi e Sasaki Kojiro eram dois espadachins japoneses que se encontraram para um duelo final. Musashi fora escolhido para ganhar. Quando chegou foi rapidamente atacado por Kojiro, num movimento chamado Corte de Andorinha. No entanto, alguém de fora, antes de Kojiro atingir Musashi, desferiu-lhe um golpe sorrateiro que o matou. Os apoiantes de Kojiro indignaram-se, mas Musashi regressou ao seu barco e os organizadores recolheram o dinheiro das apostas. (História de um duelo no Japão sec XVII)

Os duelos são tão antigos como a humanidade e a nossa cultura, grega, assenta em duelos de deuses. Cada fação escolhia um deus/campeão e eles lutavam entre si. O vencedor matava o adversário e subjugava os seus apoiantes. Já existia a política espetáculo. O povo divertia-se, aplaudia o campeão, o imperador colocava-lhe uma coroa de louros e ia sentar-se, fortalecido, no trono! Ninguém lhe perguntava pelos atos do seu governo.

O que estamos a viver aqui em Portugal, como nos Estados Unidos, ou em França, ou no Brasil são adaptações viciadas do duelo e da política espetáculo. Agora, em vez da vitória ser a morte do adversário, (KO), foi criado o conceito de vitória por pontos. Esta tem várias vantagens, a menor é que os contendores derrotados podem ser reutilizados noutros espetáculos, a maior é que o organizador do duelo pode determinar o resultado, escolher o vencedor. Entretanto: o pagode entretém-se a discutir quem foi o vencedor e não vencedor de quê, ou porquê. 

É esta a principal caraterística dos atuais duelos espetáculo: o empresário escolhe o vencedor e leva o povo a esquecer-se do que lhes propõem com a vitória! Os empresários são os patrões das televisões e as empresas clientes para a publicidade.

O resultado de qualquer debate é decidido por eles à partida e segundo as conveniências dos organizadores. O povo discute os vencedores nas tabernas, nos templos, nos barbeiros e até na rua!

Num duelo televisivo (político, de talentos, ou de orgias) o segredo está em dar uma aparência de seriedade à “coisa”. É o papel dos jurados, no momento do duelo e dos comentadores e dos figurantes que fazem o pretenso contraditório nos tempos a seguir, do off side.

Retirado do Facebook | Mural de Carlos Matos Gomes

O verdadeiro papel da educação | Edgar Morin

“A educação deve ser um despertar para a filosofia, para a literatura, para a música, para as artes. É isso que preenche a vida. Esse é o seu verdadeiro papel.”

O filósofo francês Edgar Morin fala sobre um dos temas que o tornou uma influência mundial, a educação. Morin fala sobre a necessidade de estimular o questionamento das crianças, sobre reforma no ensino e sobre a importância da reflexão filosófica não tanto para que respostas sejam encontradas, mas para fomentar a investigação e a pluralidade de possíveis caminhos. Leia abaixo:

O senhor costuma comparar o nosso planeta a uma nave espacial, em que a economia, a ciência, a tecnologia e a política seriam os motores, que atualmente estão danificados. Qual o papel da educação nessa espaçonave?
Ela teria a função de trazer a compreensão e fazer as ligações necessárias para esse sistema funcionar bem. Uso o verbo no condicional porque acho que ela ainda não desempenha esse papel. O problema é que nessa nave os relacionamentos são muito ruins. Desde o convívio entre pais e filhos, cheio de brigas, até as relações internacionais — basta ver o número de guerras que temos. Por isso é preciso lutar para a melhoria dessas relações.

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DEBATE ANTÓNIO COSTA – RUI RIO | 5 ASPECTOS | por António Carlos Cortez

1. Costa esteve melhor, pois conhece os dossiers e tem experiência governativa desde 1995. Em três ocasiões foi incisivo: quando confrontou Rio com declarações suas sobre o salário mínimo, que Rio disse ser erro gravíssimo; quando desmentiu Rui Rio mostrando a manchete do Expresso de Setembro de 2015, por ocasião do que o PS faria caso nas eleições a direita fosse minoritária; quando desmascarou Rio relativamente ao que, no programa do PSD, é o ataque à classe média a respeito do fim do serviço tendencialmente gratuito do SNS e que Rio quer ver mais nas mãos dos privados;

2. Costa mostrou-se sereno e Rio sempre um pouco mais histérico. Com certa ironia, Costa desmontou falácias do líder do PSD, como por exemplo a que diz respeito à TAP. A TAP não foi nacionalizada, como disse Rio, a TAP foi (e bem) salva pelo Estado e a empresa Barraqueiro, uma vez que 50% da TAP ficou nas mais desses dois accionistas;

3. Costa foi claro a respeito do que será o seu futuro político caso não tenha maioria. Vincou por 4 vezes a ideia: “Eu não viro as costas a Portugal”.

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