Ainda houve Jogos! | Carlos Matos Gomes

Os Jogos Olímpicos de 2020 terminaram no Verão de 2021. Os seus patrocinadores esticaram o calendário gregoriano para escapar aos efeitos catastróficos causados por um reles vírus e passaram as atuações dos estádios para os estúdios de televisão. O vírus reduziu a um videojogo o grande espetáculo dos Jogos Olímpicos. Mas houve Jogos em casa dos consumidores planetários! Era o que interessava. Quanto aos próximos não sabemos. Valha-nos a inteligência artificial!

Os Jogos 20–21 foram a vitória de Pirro dos que iludem os seus semelhantes sobre a vitória da humanidade contra a natureza. Desta vez a chama olímpica ainda conseguiu tornar invisíveis as fontes das calamidades que inundam a Europa e a Ásia, do degelo nas zonas polares, dos incêndios na Austrália, na Califórnia, na Grécia, das secas, das migrações de milhões de seres sem condições de sobrevivência. Desta vez os senhores dos Jogos ainda conseguiram calar qualquer manifestação que acusasse as políticas que conduziram ao desastre resultante da sobrexploração de recursos naturais e da iníqua distribuição deles. Nem sequer foi permitido um minuto de silêncio a recordar as duas bombas atómicas lançadas sobre o Japão, a prova de que é possível aos dirigentes da humanidade conduzirem-na a um harakiri apocalítico e evitar reclamações.

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