Afinal Havia Outro Modo, por João Gomes, in Facebook

Trump não tem medo do “imperialismo russo” e pretende negociar um Acordo de Paz para o conflito ucraniano que poderia ter sido obtido em 2022.

A UE e os dirigentes europeus, em maioria, mostraram ao longo de três anos completos a sua incapacidade de tentar resolver um conflito baseados na constante mentira propalada de que “a Rússia quer atacar a Europa”, porque Putin tem uma política de ambições imperialistas.

Esse argumento de “ambições imperialistas de Putin” perde agora força e razão de ser não apenas porque, afinal, existe a possibilidade de uma solução negociada, como a realidade se reduz a ações que Putin tomou com justificação na defesa objetiva do seu território especifico, politicas especificas e objetivos muito concretos de poder tornar a Federação Russa numa nação capaz de usar as suas potencialidades num Mundo Económico em mudança permanente.

O argumento de que a Rússia tem “ambições imperialistas” que foi lançado durante três anos, muitas vezes partiu de uma análise superficial e alinhada com a narrativa ocidental predominante, ignorando nuances históricas e geopolíticas importantes.

Vamos desconstruir essa acusação com base em fatos e contextos:

. Putin e outros líderes russos, desde o colapso da URSS, alertaram repetidamente para o avanço da NATO em direção às fronteiras russas. Em 1990, há registos de promessas ocidentais (feitas a Gorbachev) de que a NATO “não avançaria uma polegada para o leste” em troca da reunificação da Alemanha. No entanto, essa promessa foi ignorada, e a aliança expandiu-se sucessivamente, incluindo países do antigo bloco soviético e até ex-repúblicas da URSS, como os Estados Bálticos.

Essa expansão tem que ser vista como uma violação do equilíbrio estratégico que havia sido estabelecido, levando a Rússia a adotar medidas defensivas. A segurança nacional de um país não pode ser analisada de forma isolada – se uma potência nuclear vê uma aliança militar hostil aproximar-se das suas fronteiras, é natural que tome contramedidas.

. Se a Rússia fosse um Estado imperialista agressivo, não teria priorizado a construção de laços comerciais estratégicos com a Europa durante décadas. O projeto Nord Stream, por exemplo, era uma prova da tentativa russa de integrar-se economicamente ao continente. No entanto, essa cooperação foi desmantelada não pela Rússia, mas por ações políticas dos EUA e de certos setores europeus.

. Um verdadeiro império expansionista buscaria anexar territórios e estabelecer colónias, mas a Rússia, ao contrário dos EUA, não tem bases militares espalhadas pelo mundo nem um histórico recente de invasões múltiplas.

O conflito na Ucrânia é frequentemente citado como “prova” do imperialismo russo, mas há uma série de fatores negligenciados:

– O golpe de 2014 em Kiev, apoiado pelo Ocidente, instalou um governo hostil à Rússia.

– A repressão contra populações russófonas no Donbass levou a uma guerra civil que durou anos antes da intervenção russa em 2022.

– Os Acordos de Minsk, que previam a autonomia para as regiões separatistas, foram ignorados pela Ucrânia, que, segundo declarações ocidentais posteriores (como as de Angela Merkel e François Hollande), nunca teve intenção real de cumpri-los.

A ação russa na Ucrânia pode ser vista como uma resposta estratégica à crescente militarização da região e à ameaça direta que representava para a sua segurança. Não se trata de uma guerra de conquista territorial clássica, mas de uma tentativa de reverter o avanço ocidental sobre um espaço historicamente ligado à esfera de influência russa.

Imperialismo, no sentido clássico, envolve expansão territorial sistemática, domínio económico sobre outras nações e controle político direto. A Rússia, ao longo das últimas décadas, não tem um histórico comparável ao dos EUA, que interveio militarmente em dezenas de países e manteve ocupações prolongadas (como no Afeganistão e no Iraque) e, agora, já fala em controlar a Groenlândia, em comprar a Faixa de Gaza, em açambarcar o Canal do Panamá, etc.

Se há um ator no cenário global que mantém uma política claramente imperialista, é a NATO liderada pelos EUA, que força alinhamentos políticos, promove golpes de Estado e impõe sanções económicas contra nações que não seguem a sua linha.

Essa acusação de “ambições imperialistas russas” parece mais um slogan político do que uma análise objetiva da realidade e tem que se reconhecer que a Rússia tem adotado políticas defensivas diante da crescente pressão do Ocidente, e sua atuação na Ucrânia, embora possa ser questionável pelos métodos e não pelos objetivos, não pode ser vista isoladamente sem considerar o contexto geopolítico dos últimos 30 anos.

Por outro lado, a política ocidental em relação ao conflito na Ucrânia foi, em muitos aspectos, um enorme erro estratégico e um desastre económico para a própria Europa. Vários fatores demonstram que uma solução diplomática teria sido mais benéfica desde o início, mas foi deliberadamente sabotada por interesses políticos e geopolíticos específicos. Nos primeiros meses do conflito, houve negociações reais entre a Rússia e a Ucrânia, mediadas por países como a Turquia. O próprio governo ucraniano, sob pressão das suas forças armadas que estavam sofrendo pesadas baixas, mostrou-se disposto a aceitar um acordo. No entanto, (a mando de quem) Boris Johnson, então Primeiro-Ministro do Reino Unido, foi a Kiev e pressionou Zelensky para não assinar qualquer tratado, garantindo que o Ocidente continuaria a apoiar a Ucrânia militarmente.

Isso significou que, em vez de encerrar rapidamente o conflito e evitar destruição massiva, o Ocidente optou por prolongar a guerra, numa tentativa de “enfraquecer a Rússia” através de uma guerra por procuração.

A UE embarcou numa política de sanções contra a Rússia que não apenas falhou em colapsar a economia russa, como prejudicou gravemente as próprias economias europeias. A dependência do gás russo foi subestimada, e as alternativas (como o gás natural liquefeito dos EUA) mostraram-se muito mais caras. A desindustrialização da Alemanha e o aumento do custo de vida em toda a Europa foram consequências diretas dessa má estratégia.

Além disso, a Europa perdeu acesso a um mercado de exportação valioso e competitivo, e a decisão de seguir as diretrizes de Washington na política energética teve um impacto negativo direto na sua competitividade industrial.

Durante quase três anos, o Ocidente tentou alimentar a narrativa de que a Ucrânia poderia vencer militarmente a Rússia, fornecendo armas, apoio logístico e financiamento. No entanto, isso ignorou realidades estratégicas fundamentais:

– A Rússia tem uma capacidade industrial militar superior.

– A Ucrânia tem um problema de recrutamento cada vez maior, enquanto a Rússia conseguiu mobilizar centenas de milhares de soldados.

– A NATO não poderia intervir diretamente sem risco de escalada nuclear.

Agora, com Trump indicando que deseja negociar um fim para o conflito, percebe-se que toda essa estratégia ocidental apenas prolongou desnecessariamente o sofrimento ucraniano.

Muitos governos europeus que apoiaram a política anti-Rússia sofreram desgaste interno:

– Macron enfrenta instabilidade na França.

– Scholz lida com uma economia alemã em crise e crescente insatisfação.

– O Reino Unido passa por dificuldades económicas e políticas após o governo de Johnson.

– A política ucraniana da UE alienou milhões de eleitores, que percebem agora que os sacrifícios feitos não levaram a resultados concretos.

Se Trump, depois da posse, realmente buscar um acordo com Putin, isso evidenciará que toda a abordagem ocidental foi um erro desde o início. Em vez de garantir segurança para a Ucrânia e estabilidade para a Europa, a guerra prolongada trouxe destruição, crises económicas e instabilidade política. O erro do ocidente, e em especial da UE, foi não ter aceitado negociar em 2022. O erro foi permitir que interesses externos à Europa ditassem a política de segurança do continente. Agora, resta aos europeus pagar o preço dessas más decisões.

João Gomes

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