Um dos mandatários de Mendes é sobrinho de Soares e nunca votou no PSD: “Ninguém tem o monopólio da independência”, diz o candidato, in Expresso

Eduardo Barroso, médico, sobrinho de Mário Soares e mandatário de Mendes por Lisboa, diz que vai procurar convencer muitos “fiéis eleitores do PS” de que não estarão a “trair” a sua ideologia por votarem no candidato que o PSD apoia: “É um democrata e cumpridor da Constituição, isso basta”. Marques Mendes diz que um PR não serve para demitir ministros, mas para exigir resultados

A corrida aos apoios e ao título de ‘candidato mais independente’ segue a todo o vapor, e foi também nesse campeonato que Luís Marques Mendes jogou quando, esta quarta-feira, apresentou os seus mandatários distritais – muitos dos quais sem filiação partidária, alguns até com proximidades ao PS. Numa sessão num hotel em Lisboa, o candidato apoiado pelo PSD defendeu que a independência “não se proclama, pratica-se”, e que “ninguém tem o monopólio da independência”.

A referência era para o adversário Henrique Gouveia e Melo, que tem tentado rasgar pelo centro e a tirar partido do facto de não vir de um partido político. “Ninguém tem o monopólio da independência e, aí, eu estou exatamente no mesmo plano em que estavam Presidentes como Mário Soares, Jorge Sampaio, Cavaco Silva ou Marcelo Rebelo de Sousa: vieram dos partidos, tinham orgulho na sua vida política, como eu tenho orgulho, não tenho vergonha, e, apesar de terem sido líderes partidários, chegaram à Presidência e foram independentes”, disse Luís Marques Mendes.

Como que para o confirmar, tinha discursado antes de si, Eduardo Barroso, médico-cirurgião, sobrinho de Mário Soares e Maria Barroso, amigo de infância de Marcelo Rebelo de Sousa. “Eu sou um eleitor fiel do PS, nunca votei PSD ou AD, mas vou procurar mostrar que ninguém deve sentir que está a trair as suas ideologias e os seus partidos, porque Marques Mendes é um democrata e cumpridor da Constituição – e isso basta“, disse Eduardo Barroso numa intervenção de improviso (já que achava que a sessão era amanhã e por pouco não tinha faltado), onde procurou mostrar como pessoas como ele – que sempre votaram PS e nunca votaram PSD ou AD – podem votar em Marques Mendes sem, com isso, traírem os seus princípios ou ideologia.

Defendendo uma candidatura “abrangente, agregadora, que junta pessoas dos vários quadros políticos e pessoas sem ligações partidárias”, Marques Mendes apresentou os seus mandatários distritais (mais ilhas), num leque onde, além de Eduardo Barroso, estão o ex-deputado do PS Sobrinho Teixeira, ou o chef de cozinha Rodrigo Castelo, ou António Fontaínha Fernandes, antigo reitor da UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro) e ex-presidente do Conselho de Reitores, que não tem ligações ao PSD. Sobre eles, Mendes destacou a “forte carreira política no ideal da cidadania”, independentemente de terem ou não ligações à política tradicional e partidária.

Para o candidato presidencial que, esta semana, recebeu o apoio do ex-primeiro-ministro do PSD, e ex-presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, a independência “não se promete, pratica-se, e não se proclama, vai-se fazendo”. Puxando do seu passado como líder partidário e como comentador, Marques Mendes disse foi a sua “independência” que fez com que hoje não tivesse certos apoios: quando era líder partidário decidiu que o PSD não apoiaria candidaturas de autarcas investigados por corrupção (ainda hoje Isaltino Morais não lhe perdoa, e apoia Gouveia e Melo) e quando era comentador fez críticas a governantes do seu partido que não esquecem – ainda esta semana, em entrevista à SIC, Rui Rio o lembrou. “Ainda hoje não tenho alguns apoios nesta candidatura porque nos anos de comentário exerci essa independência”, disse Mendes.

Sobre o tipo de Presidente que quer ser, Marques Mendes resumiu em dois ou três pilares: vai promover a estabilidade política e evitar eleições de dois em dois anos, porque fazer isso é “proteger os mais vulneráveis”; vai exigir resultados ao governo, qualquer que ele seja, de esquerda ou de direita; e vai fazer pedagogia pela ambição nacional.

Um PR não existe para avaliar ministros, o PR não existe para pedir a demissão de ministros, isso é matéria da competência dos eleitores, comentadores, e opinadores. O PR existe para exigir resultados“, disse, afirmando também que outro desígnio do Presidente tem de ser o de puxar pelo Portugal positivo e pela ambição do país. Segundo Mendes, não é admissível que, nos últimos 30 anos, Portugal tenha investido um valor recorde em fundos comunitários (“180 mil milhões de euros”) e isso não tenha sido sinónimo de crescimento significativo em termos de PIB per capita face à média da União Europeia. “Isto não é modo de vida, temos de inverter esta situação”, disse.

Para isto, resumiu, é preciso “experiência política”. Até porque, disse, “o cargo de Presidente da República é o cargo mais político que existe no Estado português”. Independência, por um lado, mas experiência política, por outro. É neste balanço que Marques Mendes vai tentar estancar a fuga de votos para o almirante e tentar um lugar na segunda volta da corrida presidencial.

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