Lições esquecidas | As duas primeiras regras da guerra | Marechal Montgomery

“Para chegar a uma decisão sobre esse assunto, primeiro precisamos ter clareza sobre certas regras da guerra. A regra nº1, (a estampar) na 1ª página do Livro da Guerra, é esta: “Não marche sobre Moscovo”. Vários o tentaram antes, (designadamente) Napoleão e Hitler, e nada de bom daí resultou. Essa é a primeira regra. Não sei se vossas excelências conhecerão a regra nº2 da guerra. Ela dita: “Não vá lutar com seus exércitos terrestres na China”. É um país vasto, sem objetivos claramente definidos, e um exército lutando lá seria engolido pelo que é conhecido como Ming Bing, o povo em revolta.”

Marechal Montgomery, no Parlamento britânico, em 1962

Retirado do Facebook | Mural de Carlos Fino

Os franceses são uma inspiração, por Miguel Esteves Cardoso, in Público 28 julho 2024

Os franceses são uma inspiração.
O que é um bocadinho de chuva, quando se trata de mostrar ao mundo a cidade mais maravilhosa que o mundo já viu?

https://www.publico.pt/2024/07/28/opiniao/opiniao/franceses-sao-inspiracao-2099037


A solidão alemã | Teresa de Sousa, in Público

28 julho 2024 | Tal como a generalidade dos seus parceiros europeus, a Alemanha não está imune a uma fragmentação política a que não estava habituada. A paralisia política em Berlim contamina Bruxelas.

1. Olaf Scholz confessava em público, há dois dias e com um largo sorriso nos lábios, a sua convicção de que Kamala Harris pode vencer as eleições americanas de Novembro. De algum modo, o chanceler alemão traduzia o alívio sentido na maioria das capitais europeias com a vertiginosa evolução dos termos em que as eleições presidenciais americanas vão decorrer.

Os europeus viviam o pesadelo de ver Donald Trump cada vez mais próximo da Casa Branca, em circunstâncias europeias e mundiais ainda mais dramáticas do que as que viveram no seu primeiro mandato. A guerra está de regresso ao velho continente, com uma nova-velha ameaça permanente à sua própria segurança. Um mundo mergulhou em profunda turbulência para a qual não se quis preparar a tempo. Internamente, o regresso de uma direita nacionalista e populista, mais ou menos amiga de Trump e de Putin, ameaça a sua própria coesão.

https://www.publico.pt/2024/07/28/opiniao/opiniao/solidao-alema-2099032

Etologia europeia | Viriato Soromenho-Marques, in DN 26-07-2024

Em tempos que parecem hoje quase lendários, por tão distantes e estranhos ao estado presente das coisas, a UE aparentava ter a visão de um desígnio estratégico comum. Promessas de paz, sustentabilidade, cooperação internacional davam-lhe rosto próprio.

Sobre isso se derramou muita tinta nas páginas de revistas de ciência política e relações internacionais. Será que o euro iria disputar a hegemonia global do dólar? Será que a condenação aberta, em 2003, por parte da França de Chirac e da Alemanha de Schröder, da ilegal, injustificada e sangrenta invasão norte-americana do Iraque, poderia prenunciar uma autonomia crescente da UE no seio de um mutável sistema internacional? Será que a proximidade entre Alemanha e Rússia, em matéria energética, poderia ser o embrião da formação do temível titã geopolítico, do Atlântico ao Pacífico, pensado pelos estrategistas Mackinder e Haushofer, e que nunca sai dos pesadelos anglo-saxónicos?

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ÉTICA | ESPINOSA | TRADUÇÃO, INTRODUÇÃO E NOTAS DE DIOGO PIRES AURÉLIO

TRADUÇÃO, INTRODUÇÃO E NOTAS DE DIOGO PIRES AURÉLIO

«São muitas as razões que fazem deste livro uma obra singular, a menor das quais não é, certamente, o seu título: Ética Demonstrada segundo a Ordem Geométrica. Porquê Ética, se as questões do bem e do mal só aparecem na Parte IV, depois de as três primeiras especularem sobre ontologia, epistemologia, física e psicologia, e se, além disso, desde ainda antes da sua publicação, o livro foi sempre visto como um libelo ateísta, inspirado em Lucrécio e na forma como este encara “a natureza das coisas”?»
[Da Introdução]

«Penso que Espinosa tem de ser sentido como um santo. Penso que todos temos de lamentar o facto de não o termos conhecido pessoalmente, tal como deploramos não ter conhecido, pelo menos é o que me acontece a mim, Berkeley e Montaigne.»
[J. L. Borges]

«Espinosa é profundamente relevante para a discussão sobre a emoção e os sentimentos humanos. (…) A alegria e a tristeza foram dois conceitos fundamentais na sua tentativa de compreender os seres humanos e sugerir maneiras de a vida ser mais bem vivida.» [António Damásio, Ao Encontro de Espinosa]

«Pode dizer-se que todo o filósofo tem duas filosofias, a sua e a de Espinosa.» [Henri Bergson]

SOBRE O AUTOR:
Baruch de Espinosa nasceu em Amesterdão a 24 de Novembro de 1632, tendo sido um dos principais filósofos do século XVII, a par de Descartes e Leibniz.

Nasceu no seio de uma família judaico-portuguesa, oriunda da vila alentejana da Vidigueira e fugida às perseguições da Inquisição.

Recebeu dos pais o nome de Benedito de Espinosa, mas assinou Baruch em várias das suas obras, devido à sua condição de judeu nascido em Amesterdão. Acabou por adoptar o nome Benedictus, ou seja, a correspondente palavra latina, depois da excomunhão hebraica ditada pela sinagoga portuguesa de Amesterdão em 1656.

Espinosa foi um profundo estudioso da Bíblia, do Talmude e de obras de filósofos judeus, como Maimónides. Estudou Sócrates, Platão e Aristóteles, De Rerum Natura de Lucrécio, os epicuristas e o pensamento heterodoxo de Giordano Bruno.
Hermeneuta da Bíblia, Espinosa considerava-a uma obra metafórica e alegórica que não exprimia a verdade sobre Deus.

Opôs-se a todo o género de superstições, tendo-se notabilizado pela sua frase «Deus sive natura» («Deus, ou seja, a natureza»). Não admira pois que, da expulsão decretada em português pela sinagoga de Amesterdão, faça parte a imprecação de que «Deus jamais lhe perdoe os seus pecados» e que «a cólera e a indignação do Senhor o cerquem e para sempre se abatam sobre a sua cabeça».

Para subsistir, Espinosa trabalhou no polimento de lentes nas épocas em que viveu em casas de famílias de Outerdek e Rijnsburg. Recebia, contudo, corres- pondência de personalidades tão destacadas como o filósofo Leibniz, o médico Ludovico Meyer, Henry Oldenburg, da Royal Society, e o cientista holandês Huygens.

Luís XIV ofereceu-lhe uma pensão para que Espinosa lhe dedicasse um livro, o que ele recusou. Em 1670, Espinosa trocou Amesterdão por Haia, onde concluiu o seu Tratado Teológico-Político, que recebeu críticas dos poderes políticos e religiosos. Recusou o convite da Universidade de Heidelberg, para poder manter a independência de pensamento. Morreu no domingo de 21 de Fevereiro de 1677, vitimado por tuberculose.

Tinha 44 anos, e muitos anos depois o escritor Jorge Luis Borges haveria de dizer que era um dos homens com quem mais teria gostado de conversar. Ética teve publicação póstuma devida à dedicação dos seus amigos.

“Lamento de uma América em Ruínas. Memórias de uma família e de uma sociedade em crise”, da D. Quixote, Autor J. D. VANCE, por José Manuel Correia Pinto

No Verão de 2017 encontrei este livro nas bancas do Continente da Guia. Folheei-o, li umas coisas e achei que poderia ter interesse. Nem sequer era caro. Custava 14€ e qualquer coisa. Li-o num fôlego. Era um retrato cru, implacável de uma classe média branca do Ohio, oriunda dos estados mais a sul (Kentucky), tradicionais fornecedores de trabalhadores destinados à indústria automóvel dos estados dos lagos, uma classe média que o neoliberalismo, com tudo o que lhe está associado, condenou à miséria moral e à pobreza.

Nunca tinha ouvido falar do Autor, nem ele era conhecido fora de certos círculos restritos. Não era de esquerda, nem ele nunca como tal se assumiu. Mas descreveu-me aquela miséria moral da sociedade americana, aquela desestruturação da família, e a pobreza de quem não tem emprego e se refugia no álcool, noutros vícios e até na violência com um realismo tão cruel e sem futuro que me fez lembrar outros romances americanos da grande depressão. Com a diferença de que este não é um romance. É um lamento ou um requiem por uma América em ruínas.

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