Ah o crepúsculo, o cair da noite, o acender das luzes nas grandes cidades | Álvaro de Campos

E a mão de mistério que abafa o bulício 

E o cansaço de tudo em nós que nos corrompe

Para uma sensação exacta e precisa e activa da Vida!

Cada rua é um canal de uma Veneza de tédios

E que misterioso o fundo unânime das ruas.

Das ruas ao cair da noite, ó Cesário Verde., ó Mestre.

Ó do ” Sentimento de um Ocidental” !

Que inquietação profunda, que desejo de outras coisas.

Que nem são países, nem momentos, nem vidas.

Que desejo talvez de outros modos de estados de alma

Humedece interiormente o instante lento e longínquo !

Um horror sonâmbulo entre luzes que se acendem.

Um pavor terno e liquido, encostado às esquinas

Como um mendigo de sensações impossíveis 

Que não sabe quem lhas possa dar…

Álvaro de Campos | (Desenho de Júlio Pomar)

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