SIMPLEX ? | por João Paciência, Arquitecto

Houve um tempo em que entrar num curso de Arquitetura teria que se saber desenhar, bem, mal, assim assim …

Depois os nossos professores ensinavam a pensar e como dominar o espaço interior e a forma daí resultante, as dimensões básicas de tudo quanto um ser biológico que é o Homem necessita para nesses espaços e formas viver, ergonomia e escala, cor texturas e luz natural , opacidades e transparências, a História da Arte, as teorias de Arquitectura e a evolução dos conceitos e culturas, dos ritmos e contrastes que nos tocam a Alma, que uma boa música de fundo nos estimulava a desenvolver hipóteses de solução para os diferentes temas que nos iam sendo progressivamente colocados, aprendemos tecnologias e coisas fantásticas se foram conseguindo com as novas ferramentas tecnológicas que se foram descobrindo e aplicando em formas cada vez mais complexas e paramétricas!

O programa Cátia ajudou a desenhar aviões, naves espaciais e os mais variados espaços museológicos de Gehry e Zaha Hadid.

As recentes e aceleradas transformações climáticas trazem a esse Homem uma renovada atenção sobre a preservação da Natureza e a necessidade de se voltar mais e mais para os prazeres do espírito e do bem estar, procurando novos habitat e modos de se organizar em comunidades estimulantes para a vida!

Muitos autores reclamam progressivamente atenção sobre como conseguir um novo código sensitivo que permita a EMOÇÃO na urgente necessidade de se conseguir recuperar essa coisa um pouco esquecida que é ARQUITECTURA!

As Academias corrigir-me-ão, mas parece que agora para se fazer Arquitectura o fundamental é conhecer Regulamentos e Normativas Jurídicas, que se entrecruzam num mar de regras bem diferentes daquelas que definiram gerações com outro tipo de pensamento, em nome de fazer mais depressa a caminho do algoritmo e da inteligência artificial que irá ela própria tornar obsoletas essas mesma regras !

Foi-me dada a oportunidade de me debruçar há anos sobre as questões do desenho do território e da sua relação com o ambiente biofísico , o paisagismo, os traçados s viários, as implantações mais adequadas para se construir, e em particular sobre o desenho urbano, ou seja desde as conhecidas figuras dos Planos Directores Municipais, aos Planos de Urbanização, aos Planos de Pormenor, aos Loteamentos, às agora chamadas Unidades de Execução.

Dialoguei com uma ampla cadeia de técnicos das diferentes áreas e tenho bem consciência da importância do estabelecimento de Regras , que a meu ver deveriam ser mais PROGRAMÁTICAS e atendendo às específicas condições culturais e paisagísticas de cada região , e não DETERMINISTICAS ou DOGMAS rígidos e generalizados como tenderá a ser rapidamente assumidos como os correctos.

Dessas experiências percebi a relação estreita e bi- unívoca que existe entre o desenho urbano e a arquitectura dos edifícios e foi também isso que os desenhadores de cidades como Cerda ou Aldo Rossi, definiram como  os lotes que definiram Barcelona , Paris ou os TIPOS e MODELOS teorizados por ROSSI na Escola de Veneza e podemos perceber bem nas nossas Avenidas Novas.

Mas a Rua e a Praça já não são os únicos modelos de espaço público do séc . XX, e a Mobilidade dentro e fora da cidade , deixará de ser apenas no chão, e os espaços de vida interior , tenderão a subir em altura, pelo acelerado custo do terreno e infraestruras que lhes darão suporte , como bem se pode perceber já no Dubai ou Singapura.

Essa coisa das MÉDIAS e MODAS de cérceas e outros alinhamentos, são coisas que só poderão fazer ainda algum sentido em centros históricos tendencialmente museológicos e não para o desenho urbano do futuro!

E chamem-se Arquitectos ou outra coisa qualquer , terá que haver sempre pessoas do desenho e do pensamento que dê o tal SENTIDO DE PRESENÇA que fala Zumthor no seu livro Atmosferas, a edifícios e urbes estimulantes que o ALGORITMO talvez não consiga e muito menos regras rígidas de como fazer edifícios e cidade.

Retirado do Facebook | Mural de João Paciência

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