Tic tac, tic tac. O relógio da Europa “está a chegar ao seu termo”, avisa Paulo Portas, in CNN Portugal, 21-07-2025

Começando por Bruxelas, Paulo Portas considera que a Comissão Europeia apresentou uma proposta orçamental “ambiciosa”. Prova disso, é o facto de nem todos terem ficado convencidos. A reação do chanceler alemão, Friedrich Merz, foi, por palavras do comentador, “tipicamente alemã”.

Na opinião de Paulo Portas, o risco da proposta passa por Ursula von der Leyen querer juntar múltiplos fundos – como o da Coesão ou a Política Agrícola Comum – num só envelope nacional por Estado-membro, entregue à gestão de cada governo. O facto de a distribuição destes fundos passar a “depender das agendas eleitorais de 27 países”, pode ser uma “fragmentação perigosa”. Pior ainda, na opinião do comentador, seria uma renacionalização da Política Agrícola Comum, que, na sua opinião, deve ser encarada como sendo vital para a “Segurança e Defesa da Europa”, não como uma “política menor”.

Em Paris, o ambiente é de tensão permanente. O primeiro-ministro francês apresentou as orientações para o orçamento de 2026 e antes de falar já havia quatro moções de censura anunciadas, considera. Paulo Porta lembra que a dívida francesa sobe 5 mil euros por segundo, sendo “muito acima da portuguesa” e a margem de manobra é “mínima”.

“A França é o país europeu mais difícil de governar”, insiste, considerando que a França tem mesmo de olhar para as suas finanças com seriedade. “A derrapagem foi monumental e não há inocentes nessa história”.

Do outro lado do Atlântico, Trump prepara-se para avançar com tarifas de 30% sobre produtos europeus. Isso é, nas palavras de Paulo Portas, uma barbaridade. “O relógio está a chegar ao seu termo. Tic tac, tic tac, tic tac”, avisa.

Portas considera que “a Europa não deu nenhum sinal de deslealdade na negociação”. No entanto, “o mesmo não se pode dizer do outro lado”. Para o comentador, retaliar com inteligência é o caminho: “fazer aos americanos o que eles estão a fazer, mas fazer com inteligência, onde lhes dói”.

Ainda sobre Trump, Paulo Portas tem dúvidas se a relação do presidente norte-americano com o seu homólogo ucraniano está a atravessar “um arrufo” ou “uma viragem”.

“Putin humilhou-o publicamente, fez Trump passar por um pateta que estava a ser manipulado pela Rússia todos os dias”, considera. Ganhou com isso seis meses em que os EUA suspenderam o apoio à Ucrânia. Agora, Trump parece querer recuperar, mas oferece à Rússia 50 dias. “Cinquenta dias nesta guerra são uma eternidade”, alerta Portas. É tempo para avanços no Donetsk, para novas ofensivas e sobretudo para reforçar laços com países compradores de petróleo e gás. Esta pausa é, na opinião de Portas, “bizarra”.

O caso Jeffrey Epstein voltou a assombrar Trump. Paulo Portas considera que o que está “a lesar” o presidente norte-americano nas sondagens não é o possível conteúdo da lista, mas a contradição: “disse uma coisa na campanha, fez outra no governo”.

Portas não acredita que Trump esteja na lista, uma vez que se estivesse, “os democratas já teriam dado por isso”. No entanto, considera que Trump a esteja a guardar para “chantagear terceiros”. Entretanto, vai usando distrações, como a “bizarra” proposta de mudar a receita da Coca-Cola.

Por fim, Gaza. Paulo Portas é claro: “É uma barbaridade a continuação das operações militares com este nível de violência em Gaza.” O comentador considera que Netanyahu prolonga o conflito externo para tapar as divisões internas, uma vez que sabe que, se perder as eleições, vai preso. “A probabilidade é muito alta”, conclui. 

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.