“Vós sois muitos, eles poucos”, Poema de Shelley, by Raquel Varela

Sou filha de dois engenheiros florestais. Percorri o país com os meus pais e o meu irmão, dormindo nas antigas casas dos serviços florestais, num tempo em que se comia numa tasca, barato, onde se sentavam engenheiros e guardas florestais, lado a lado. Não era prova de bondade cristã. Éramos um país menos desigual entre o campo e a cidade. Também mais respeitoso do trabalho manual – sobretudo depois da revolução.

Também havia mais autonomia no trabalho – fui levada pelos meus pais para o trabalho, e era cuidada, pelas empregadas de limpeza (eram fixas, não acordavam às 4 da manhã para limpar sem as vermos), pelos guardas florestais nos trabalhos de campo e, claro, pelos colegas dos meus pais. Tolerantes, com duas crianças que eram crianças a ser crianças, eu e o meu irmão, fazedores de muitas asneiras, graças a Deus, costuma dizer-se.

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