OS TINTUREIROS/AS | por José Gabriel

É assim: se se promove uma manifestação de milhares de pessoas por uma boa causa, tudo o que dela veremos, se tivermos sorte, serão uns segundos num recanto de um telejornal.

Se, pela mesma causa, um atrevido – ou uma atrevida – numa sessão mais ou menos solene, atirar uns borrifos de tinta a um ministro, deixando-lhe na caxemira do fatinho umas manchas, terá direito a abertura de telejornais, comentários de treta ou até com incursões psicossociológicas às profundezas da mente do/a autores, quiçá com uns pozinhos de psicanálise para totós. Mas a causa é falada, o efeito é conseguido.

É a natureza do jornalismo – chamemos-lhe assim – televisivo desde que se descobriu que, se as notícias derem um espetáculo entretido, se pode com ele fazer pingues lucros em publicidade. É que o bizarro, o rasca, o sensacionalismo, a emoção barata, a proximidade pessoal, vendem mais que o jornalismo a sério. Até na esfera política se vê isso. Muitas vezes, a televisão não anda com os Venturas deste mundo ao colo porque as mensagens deles a entusiasmem ou sejam especialmente interessantes, mesmo como manifestação patológica bizarra. É que vendem. Margarinas e óleos dão-se melhor com promotores destes que com gente séria. Os manifestantes borrifa-tintas e outros que tais já perceberam isto.

Não os censuro – as lavandarias também não, suponho. Não me parece que, no fim de tudo, façam muito pelas causas. Mas lá que as agitam, agitam. E nem arriscam muito, porque – e a polícia sabe-o – não se pode estragar a respeitabilidade das sessões com os senhores ministros. Que são coisas solenes, que diabo.

Retirado do Facebook | Mural de José Gabriel

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