SPINOZA, LEITOR DE MAQUIAVEL | por Marcos Bazmandegan, in Facebook

Em termos políticos e não só, Spinoza foi um leitor atento de Maquiavel e Hobbes. Contudo, era para Maquiavel que a sua admiração se voltava. Chamando-o de “agudíssimo” e “prudentíssimo” em seu Tratado Político, última obra da sua vida que não pôde completar. A visão política de Maquiavel não se fundava numa visão utópica da natureza humana, mas na realidade do que ela é, com as suas paixões e ambições, forças e fraquezas. Uma política realista deveria ser feita em função dessa perspetiva de humanidade e não daquelas idealizadas por Platão, Aristóteles e pelos moralistas posteriores.

De certo modo, Spinoza transferiu essa mesma noção, não só para a sua política, mas também para a sua metafísica. Ou melhor, construiu uma metafísica que fundamentasse essa visão política totalmente realista e atenta ao ser humano real e não imaginário. 

Se a Política e a Religião são domínios em que o imaginário prevalece, a visão de quem as compreende deve situar-se no domínio da visão atenta e da compreensão astuta daquilo que podemos chamar de natureza humana. Sem essa compreensão a nossa política é destinada ao fracasso próprio das utopias.

Spinoza possuía em sua biblioteca pessoal as obras de Maquiavel. Das obras de Maquiavel, destacam-se “O Príncipe”, sua obra principal, a “Arte da Guerra”, um livro de estratégia militar, e “Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio”, que abrange e aprofunda os temas tratados nas obras anteriores.

Hoje, que vivemos uma transformação da ordem política mundial, faz falta uma leitura atenta de Maquiavel e Spinoza. Muitos devem recordar-se daquele famoso livro de filosofia prática “Mais Platão, menos Prozac!”. Hoje talvez possamos advertir os estudiosos políticos:

“Mais Maquiavel, menos Platão!”.

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