Instituto Superior Técnico | A.S. Curvelo-Garcia

Uma magnífica Escola de Ciência, que hoje quero fraternalmente saudar

Tive a sorte de ter feito a minha formação técnica e científica numa reputadíssima Escola de Engenharia, a nível internacional: o Instituto Superior Técnico (da Universidade de Lisboa), hoje a maior escola portuguesa de Engenharia, Arquitetura, Ciência e Tecnologia, sendo considerada uma das mais reputadas instituições de Engenharia da Europa. 

Foi fundada em 1911 pelo Engenheiro Alfredo Bensaúde, com a criação dos primeiros cursos de Engenharia (Minas, Civil, Mecânica, Eletrotécnica e Químico-Industrial). 

A partir de 2013, integra a maior universidade portuguesa (Universidade de Lisboa), tendo, até então e desde 1930, integrado a Universidade Técnica de Lisboa. 

Em 2016, tinha 11 458 alunos e 853 docentes e investigadores. Integra hoje a rede Cluster (Consortium Linking Universities of Science and Technology for Education and Research), reunindo 12 das melhores universidades europeias de Ciência e Tecnologia, e a rede UNITE!, uma aliança de 7 universidades que pretende criar uma universidade europeia de referência. 

Terminei a minha Licenciatura de Engenharia Química, de 6 anos, em 1968-69. Entre as 39 Cadeiras que compunham a parte escolar da Licenciatura, tive Grandes Professores, que muito contribuíram para a minha formação e que foram autênticos pilares da atividade de Investigador científico que vim a percorrer em toda a minha vida. Vou citar alguns dos mais importantes para essa minha atividade.

Professor Catedrático Jubilado J. J. FRAÚSTO DA SILVA, infelizmente já falecido, eminência internacional em Química Inorgânica e em Química da Vida, meu Mestre de Química Analítica, especialidade que eu próprio viria a seguir na minha vida profissional e que inclusivamente redigiu a Apresentação do livro de que fui autor “Controlo de Qualidade dos Vinhos”. Foi claramente o que mais me marcou em toda a minha vida profissional. Em 1996, foi inclusivamente o Principal Arguente das minhas Provas Públicas no concurso para Investigador Coordenador. Em 1998, foi quem muito me apoiou na organização do Congresso Internacional da Vinha e do Vinho, realizado em Lisboa. E veja-se quem foi esta figura, que tanto me ajudou e ensinou ao longo de uma vida. Foi tão só um dos mais jovens Doutores da Química em Portugal (da Oxford University), Doutor em Engenharia Química (Universidade Técnica de Lisboa), Professor Catedrático e Diretor do Instituto Superior Técnico, Professor Convidado de duas Universidades do Brasil, Ministro da Educação e Ciência e Conselheiro de Estado. Por outro lado, Fraústo da Silva foi uma personalidade bem conhecida no mundo das letras e das artes em Portugal, tendo designadamente sido Presidente da Fundação das Descobertas e impulsionador de toda a atividade do Centro Cultural de Belém, uma das mais importantes estruturas da Cultura em Portugal. Faleceu em 2022.

Foram ainda colaboradores próximos de Fraústo da Silva, alguns amigos meus, como ALBERTO ROMÃO DIAS, LUÍS VILAS BOAS (com quem colaborei em diversos projetos de investigação e na lecionação de aulas no IST) e ANTÓNIO XAVIER, com quem colaborei em diversa atividade, quer no Instituto Nacional de Investigação Agrária, quer no Instituto de Tecnologia Química e Biológica, instituição por si fundada; foi um cientista considerado pioneiro em Química Bioinorgânica e um dos responsáveis pelo desenvolvimento desta como ciência autónoma a nível mundial.

Professor Catedrático Emérito JORGE CALADO, meu Professor de Química-Física, prefaciou o livro “Química Enológica – métodos analíticos”, do qual fui um dos editores científicos. Para além disso, deu-me uma importante colaboração, ao proferir uma magistral lição sobre o Vinho, no Congresso Mundial da Vinha e do Vinho, realizado em Lisboa em 1998. Foi um dos maiores críticos de Ópera portugueses, constituindo assim um magnífico exemplo de como a atividade de um cientista pode ser significativamente valorizada quando alicerçada em vincadas preocupações de ordem cultural, constituindo, pois, um seu importante complemento. 

Foi colaborador próximo de Jorge Calado, o meu amigo VIRGÍLIO MEIRA SOARES, originário de Portalegre, Professor Catedrático de Química da Faculdade de Ciências de Lisboa, com vasta obra publicada, no domínio da termodinâmica, Secretário de Estado do Ensino Superior (1985), Reitor da Universidade de Lisboa (1986-1998) e Presidente do Conselho Executivo da Fundação das Universidades Portuguesas (1992-2002), situação em que com ele colaborei em diversas ações de avaliação de Cursos de Licenciatura. 

Professor Catedrático FERNANDO DIAS AGUDO, certamente o docente da área das Matemáticas de quem guardo as melhores recordações. O elevado nível do ensino desta área foi responsável pela desistência do curso por centenas ou milhares de alunos. Tenho hoje perfeita consciência que foi com ele que aprendi os grandes conceitos de Álgebra linear que me foram de uma enorme utilidade na minha vida científica. O matemático foi ainda membro da “The New York Academy of Sciences “e da “Academia Scientiarum et Artium Europaea”, entre outras sociedades científicas. Foi diretor da Faculdade de Ciências de Lisboa, Presidente da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (1974-1976), e Presidente do Instituto Nacional de Investigação Científica.

Professor Catedrático Jubilado LUÍS AIRES DE BARROS, meu Professor de Mineralogia e Geologia, matérias que também me foram de grande utilidade no desenvolvimento da minha carreira científica, muito em especial em projetos do final dessa minha carreira. Recordo as magníficas e importantes aulas de cristalografia.

Professor Catedrático BERNARDO HAROLD, meu Professor nas Cadeiras de Química Orgânica, matéria que ocupou grande parte da minha atividade científica. Recordo designadamente as grandes lições que recebi no âmbito da nomenclatura de compostos orgânicos, que me foram de enorme utilidade em diversos projetos que desenvolvi e em diversas publicações que produzi (sobre ácidos orgânicos, aminas, amidas, polifenóis, glúcidos, aminoácidos…). A última vez que estive com ele foi no funeral do Prof. J. Fraústo da Silva, quando me confidenciou ter abandonado a Química após a sua aposentação, dedicando-se agora ao estudo das plantas aromáticas e à sua influência na Medicina natural.

Foi colaborador próximo de Bernardo Harold, o meu amigo JOSÉ EMPIS, infelizmente já falecido, com quem mantive estreita colaboração no âmbito da Sociedade Portuguesa de Química (Química dos Alimentos), e da Ordem dos Engenheiros, designadamente quando assumiu a Presidência do Instituto Nacional de Investigação Agrária e das Pescas, onde eu exercia funções.

No que se refere à minha colaboração com o IST, em projetos de investigação e em docência, para além do que já referi com Luís Vilas Boas e José Empis, cito ainda a colaboração que tive com a Professora MARIA NORBERTA DE PINHO.

De salientar também o enorme papel assumido pela Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico (AEIST). É bem conhecida a sua ação de primeiro plano, durante a Ditadura fascista, na luta contra essa Ditadura e no âmbito do movimento associativo académico. Mas também grandes cientistas iniciaram a sua atividade no interior da AEIST. Cito dois grandes nomes, que foram Presidentes da Associação, enquanto eu era estudante do Instituto: JORGE DIAS DE DEUS (1963-1964) e JOSÉ MARIANO GAGO (1969-1970). O primeiro foi um grande físico das partículas, criador de um centro de investigação que ligou a física de partículas à astrofísica, tendo estado inclusivamente na génese de três licenciaturas do IST. Mariano Gago foi investigador no domínio da física experimental das partículas elementares, Presidente da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (1986-1989), Presidente do Laboratório de Física Experimental de Partículas, por si criado, e Ministro da Ciência e da Tecnologia (1995-2002), o primeiro titular de um cargo ministerial vocacionado exclusivamente para a área da ciência e da tecnologia.

Muitos foram os engenheiros diplomados pelo IST que vieram inclusivamente a exercer elevados cargos administrativos, designadamente de Ministros em diversas pastas. Mas, de entre todos eles, julgo destacar o meu amigo e colega de curso JOÃO DE DEUS PINHEIRO (Ministro da Educação e Comissário Europeu) e ANTÓNIO GUTERRES (Primeiro-Ministro e Secretário-Geral da ONU).

Seria uma tarefa gigantesca elaborar uma lista mais completa e detalhada dos grandes profissionais diplomados por esta grande escola de engenharia, ao longo de mais de um século. Refiro, para finalizar, três engenheiras químicas da minha geração, diplomadas pelo IST que, tal como eu, desenvolveram atividade de investigação no âmbito da Enologia: Investigadora Principal MARIA ISABEL SPRANGER (INIA), infelizmente já falecida, Investigadora Principal MARIA CRISTINA CLÍMACO (INIA) e OLGA LAUREANO (ISA).

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