O mito de Orfeu | por Maria Helena Manaia

“Notável tocador de cítara e de lira, Orfeu emocionava os corações mais insensíveis que se detinham contemplativos e sonhadores a ouvir o seu canto e a sua música. Quando  Eurydice, a quem amava perdidamente, morreu picada por uma serpente, desceu aos infernos acompanhado da sua lira, para resgatá-la das trevas, depois de se ter abandonado a um silencioso e profundo desgosto. Graças à sua arte, comoveu os deuses da obscuridade, conseguindo permissão para trazê-la de volta à luz e à vida, com a condição de não se voltar e de não a olhar, nem lhe falar, antes de estarem ambos de novo no mundo dos vivos. Mas, à saída do inferno, vencido pela tentação, Orfeu não pôde impedir-se olhar para trás para se certificar de que Euryidce o seguia, perdendo-a, assim, para sempre”.

Para mim, Orfeu é talvez o mais tocante dos mitos gregos. Por causa da sua relação com a poesia e a música, mas também pela indissociável ligação entre o amor e a morte, tema recorrente em toda a literatura ocidental; e que sempre me interessou.

O amor levado até aos limites, o prazer extremo por oposição à mais excessiva dor, a importância do instante que tudo decide, do momento que é simultaneamente redenção e perdição…

É tudo isto que me fascina, ou tão somente me identifico com a impossibilidade de resistir à tentação?

Retirado do Facebook | Mural de Maria Helena Manaia | 24-03-2024

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