Gosto de pensar Spinoza como máquina de guerra. | Marcos Bazmandegan

Gosto de pensar Spinoza como máquina de guerra. Máquina revolucionária, máquina subversiva de conceitos, máquina irredutível à captação normalizadora. Spinoza, o traidor – assim o chamou Emmanuel Levinas, por ter traído o Judaísmo, por ter traído os judeus no seu Tratado Teológico-Político. Spinoza, o ateu, para todos aqueles que viram na sua filosofia uma ameaça radical ao poder teológico-político instituído e estabilizado. Spinoza desestabilizador sereno, anarquista coroado de Artaud, fogo que desperta os afetos mais potentes e água que racionaliza os ânimos agitados. 

Conta-nos um dos seus mais antigos biógrafos, Colerus (1647-1707), que estando hospedado na casa onde outrora Spinoza vivera, o mesmo senhorio de ambos, o Sr. Van der Spijck, mostrara-lhe um caderno de desenhos feito por Spinoza.

Neste caderno, Spinoza desenhara vários personagens com quem se correspondia, alguns dos quais o tinham visitado (como terá retratado Leibniz?). No entanto, num destes retratos estava o revolucionário napolitano, o pescador Tommaso Aniello (ou Masaniello), cuja fisionomia era antes a do próprio Spinoza, o seu autorretrato no dizer do Sr. Van der Spijck. Este último, aquando da venda dos seus livros e pertences, quisera conservar aquela recordação de Spinoza, que se manteve entre a família até à sua perda. 

Spinoza via-se em Masaniello, na sua vida e ação revolucionárias, como máquina de guerra semelhante a este líder da revolta contra os governantes espanhóis de Nápoles  e a nobreza napolitana em 1647.

Deixo aqui o registo biográfico escrito por Colerus:

“Tenho em mãos um livreto completo dos seus desenhos, no qual ele retratou várias pessoas proeminentes que eram conhecidas por ele e que ocasionalmente o visitavam. Vejo, por exemplo, na quarta folha, um pescador desenhado de camisa, com uma rede de pesca aos ombros esticada, como o notório líder rebelde napolitano Tomasso Aniello é retratado nas fotos históricas. Deste [desenho], o sr. Hendrick van der Spijck, seu último senhorio, disse que ele se assemelhava completamente a Spinoza e que ele, sem dúvida, o havia desenhado com o seu próprio rosto. Sobre outras pessoas proeminentes retratadas [no caderno de esboços], ficarei em silêncio por razões óbvias.”

A ilustração apresentada não é o desenho de Spinoza, mas um exemplar das famosas ilustrações de Masaniello, das quais Spinoza terá se inspirado para se autorretratar.

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