Novo Conselho Estratégico do PS, por Cipriano Justo, 24-07-2025

De acordo com os considerandos, o novo Conselho Estratégico do PS visa dotar este partido de “pensamento a longo prazo, abertura à sociedade e capacidade de antecipação estratégica”.

Nesse sentido, as temáticas sobre as quais se irá debruçar são “Transição Demográfica”; “Revolução Digital e Inteligência Artificial (IA)”; “Sustentabilidade e Clima”; “Energia e Recursos Naturais”; “Soberania Alimentar”; “Geopolítica, Segurança e Defesa”; e “Democracia, Cultura e Cidadania”.

Caberá, então, a este laboratório de ideias, geralmente conhecido por “think tank”, produzir pensamento prospectivo, antecipatório do que irá acontecer no médio e longo prazo.

Pela natureza que lhe foi atribuída, constitui a recuperação do antigo e clássico oráculo de Delfos, agora baseado não tanto em pitonisas, 

mas na melhor evidência para cada um dos temas. Tudo quanto seja tentar, porque é disso que se trata, agir politicamente a partir dos dados da investigação, seja ela laboratorial ou social, é uma medida que irá dar à informação e conhecimento o relevo que ela merece, passando a estar bem mais perto da construção das propostas e soluções que este partido vier a adoptar.

Porém, não deixa de causar perplexidade  a ausência de dois temas chave, que deviam merecer tratamento privilegiado, seja qual for o índice das matérias a tratar: “mais saúde e melhor esperança de vida”, “trabalho digno e condições de vida decentes”. Excluir estes dois temas do pensamento estratégico equivale a dizer que o PS não está interessado no que mais interessa às pessoas, o seu bem-estar, representado pelo seu estado de saúde e a maneira como enfrentar a vida.

A exclusão desta duas matéria poderia significar que elas iriam estar presentes em todas as outras, era um método, porém, o documento em parte alguma nos diz que foi essa a escolha.

E, no entanto, pela sua natureza, estas matérias têm uma elevada influência sobre todas as outras e, se não forem devidamente acauteladas, representam um risco para a boa concretização das propostas que o PS venha a apresentar. Ou seja, o conhecimento sectorial é bom na medida em que ele é exaustivo e contribui para o pensamento geral, para o momento em que é obrigatório realizar-se a síntese, porque sem esse desenlace o pensamento não deixa de ser fragmentado, talvez o principal mal do pensamento político, certamente por contaminação do pensamento neoliberal.

Tratando-se de uma iniciativa em que todos poderão estar interessados, mesmo que não façam parte do perímetro partidário do PS, deve-se questionar a razão para aquelas ausências. Se for para fugir à polémica, ela será inevitável, e mais vale tê-la na oposição do que na altura em que for governo. De um partido que foi autor da legislação que esteve na origem do SNS, não se esperava que não estivesse interessado em produzir conhecimento sobre o ar que vier a soprar na evolução da política de saúde, designadamente.

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