Centeno na despedida. “Não há vergonha em ser europeu”, in Observador, 29/9/2025

Que bom seria para Portugal ser o próximo Presidente da República! (vcs)

Não devemos ter vergonha de ser europeus, pelo contrário“, defendeu Mário Centeno, num discurso que deverá ser o último como governador do Banco de Portugal. Num evento que comemora os 10 anos do Mecanismo Único de Resolução, em Lisboa, o (ainda) governador afirmou, perante uma audiência internacional, que “a Europa tem sido, nos últimos anos, o maior pilar de estabilidade em todo o mundo“, acrescentando que nem perante a maior crise económica do século (a crise pandémica) nem perante o surto inflacionista “alguma vez a estabilidade financeira esteve em causa“.

Mário Centeno focou-se em temas europeus, neste discurso em inglês, mas lembrou que Portugal foi, talvez, o país que mais sentiu na pele, até agora, a importância de ter um mecanismo de resolução comum. Numa referência implícita às resoluções do Banco Espírito Santo (BES) – que ocorreu ainda antes da entrada em vigor, de forma plena, do mecanismo europeu de resolução bancária – e, também, do Banif, Centeno lembrou que Portugal foi um dos países onde o “sistema foi testado” e “mostrou capacidade” para reagir.

“Somos um país que experimentou na pele porque é que os mecanismos de resolução são importantes”, referiu Mário Centeno, assinalando os progressos que foram feitos no sistema financeiro português – e europeu – desde então. Além da melhoria substancial dos rácios de capitalização, o governador do Banco de Portugal lembra que em Portugal os bancos tinham uma carteira de crédito malparado de 17,9% dos seus ativos e hoje ronda os 2,2%.

Isso coloca o País numa posição que é ainda melhor do que o rácio de referência (de malparado) de 5% que norteou a preparação do Mecanismo Único de Resolução, recordou o governador, salientando, no entanto, que “a estabilidade financeira não pode ser vista como um dado adquirido“, muito menos no atual cenário de incerteza geopolítica e comercial.

Centeno apelou a uma continuação do trabalho de criação da União Bancária, que se funda na “confiança” entre os estados-membros. “A União Bancária é um projeto de integração e confiança, não há integração sem confiança“, salientou o governador, numa referência ao chamado terceiro pilar da União Bancária – o mecanismo único de garantia de depósitos, que ainda não é uma realidade na zona euro.

A estabilidade financeira é, talvez, o principal sinal de sucesso da zona euro na última década. Mesmo com a pior crise económica que tivemos no último século [a crise pandémica], nem mesmo com o combate a taxas de inflação de dois dígitos, a estabilidade financeira na zona euro nunca esteve em causa”, afirmou o governador do Banco de Portugal.

“A União Bancária ainda é um processo inacabado. Temos de avançar no desenvolvimento da União Bancária”, defendeu Mário Centeno, repetindo que “não devemos ter vergonha de ser europeus, pelo contrário“.

Existe no setor financeiro a convicção de que Mário Centeno, cujo mandato já terminou em julho, deverá ser substituído no Banco de Portugal esta semana, depois de o parlamento ter aprovado a entrada em função de Álvaro Santos Pereira.

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