À procura da estrela perdida, por Cristina Branco

Há um tom sépia na memória do universo, como se cada átomo que nos compõe tivesse sido revelado numa fotografia antiga, manchada pela luz das supernovas. Os cientistas recordam-nos: somos feitos de poeira de estrelas. Mas essa verdade, tão austera no laboratório, torna-se súbita ternura quando lembramos que também nos apaixonamos por partículas da mesma estrela, reencontradas, por acaso, num olhar ou num gesto.

O corpo é a partitura, o cabelo o fio ténue onde ressoam memórias cósmicas. Cada átomo da queratina, forjado em sóis desaparecidos, traz consigo um passado mais vasto que o tempo humano.

E, ainda assim, é no encontro íntimo que essa herança ganha cor: quando duas pessoas se tocam, não são apenas corpos, mas fragmentos de galáxias que, finalmente, se reconhecem.

«les étoiles se cachent dans nos silences»,

Et ce n’est pas toi , garçon tellement solene, que j’aime, c’est les particules d’étoiles de mes cheveux qui cherchent a s’entremêler avec les tiennes dans l’espoir fou de se compléter ! lembrando que até o silêncio entre duas almas guarda ecos de constelações antigas.

O princípio desta crónica é o incêndio das estrelas. O meio, o absurdo quotidiano que nos devolve esse incêndio em formas triviais, um fio de cabelo perdido na almofada, uma gargalhada partilhada à mesa. O fim, talvez, é esta consciência delicada: quando passamos a mão pelos cabelos, tocamos não só em nós, mas no pó luminoso que ardeu há bilhões de anos, e que agora repousa numa pele humana, pronta a amar e ser amada.

A vida é isto: uma sucessão de encontros improváveis entre partículas dispersas.

E o amor, talvez, seja apenas a recordação secreta de que viemos da mesma estrela.

Talvez isso justifique o absurdo de se apaixonar , afinal é um encontro entre pó de estrelas 💫✨💛🪽

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