“Ternura” | Poema de David Mourão-Ferreira, no dia do seu nascimento, 24 de Fevereiro

Retirado do Facebook | Mural de Maria Helena Manaia

Desvio dos teus ombros o lençol,

que é feito de ternura amarrotada,

da frescura que vem depois do sol,

quando depois do sol não vem mais nada…

Olho a roupa no chão: que tempestade!

Há restos de ternura pelo meio,

como vultos perdidos na cidade

onde uma tempestade sobreveio…

Começas a vestir-te, lentamente,

e é ternura também que vou vestindo,

para enfrentar lá fora aquela gente

que da nossa ternura anda sorrindo…

Mas ninguém sonha a pressa com que nós

a despimos assim que estamos sós!

Foto abraço floral