A casa da mãe | Daniela Matos Leite

 A casa da mãe tinha toda a luz do mundo e era cálida quando a hora assim pedia. Quente no inverno e fresca no verão, assim era a casa. Entrada a primavera, revivia. Renascia. Chegávamos como se nunca tivéssemos partido. Qual vara de condão, o tempo parava a respiração. Na casa da mãe não havia dor ou morte, só trevos entrelaçados, alguns de quatro folhas, de mãos dadas com a música suspensa no ar coalhado de pássaros. Na casa da mãe havia euforia. Mãos e pés de danças nas tranças da cozinha e sestas e lanches à tardinha. Na casa não havia noite. Havia a luz, pássaros que bicavam ninhos nos beirais e não partiam. A grande casa continua a habitar o coração, mas a ausência esvaziou-a de mistério. 

Hoje está cheia de silêncio. Escura. Fechada. 

Sou essa casa.

Daniela Matos Leite, 

Palavras de Luz e Sombra, Poética Edições