A Paz não pode ser uma língua morta, por Viriato Soromenho-Marques, in DN, 19-10-24

A atribuição do Prémio Nobel da Paz à organização japonesa Nihon Hidankyo revela, por entre o “som e a fúria” que varre o mundo, um Comité Nobel ainda capaz de visar o essencial. Os derradeiros sobreviventes japoneses de Hiroxima e Nagasáqui foram escolhidos, não como tributo retrospetivo, mas por serem os únicos seres humanos que já viveram o inferno para onde toda a Humanidade será empurrada se continuarmos por este caminho abissal.

Há qualquer coisa de justificadamente desesperado neste prémio. Ela consiste numa tentativa de revelar ao auditório mundial, pelas consequências, aquilo que ele não parece conseguir apreender pelo conhecimento das causas. E esse auditório não é a massa dos milhares de milhões de seres humanos para quem a luta diária para sobreviver e cuidar dos filhos já é suficientemente épica. Estou a referir-me aos milhares de decisores – por esse Ocidente fora, sobretudo na velha Europa – sentados, distraidamente, nas cadeiras do poder.

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