António Paiva

António Paiva, nasceu a 21 de Março de 1959, em Santo André, Vila Nova de Poiares, uma vila situada entre a Serra da Lousã e o Rio Mondego. Cresceu na aldeia de Travasso, concelho de Penacova.

Por lá estudou e pastoreou até à idade de 18 anos, a partir daí foi para a cidade de Coimbra, onde prosseguiu os estudos e iniciou a sua vida profissional. No ano de 2000 decidiu rumar à bela ilha da Madeira, onde residiu até Março de 2010. Em Abril de 2010 fixou a sua residência no Seixal, tendo como cenário dos seus dias a magnífica Baía do Seixal e o rio Tejo.

Apesar de a escrita o acompanhar desde muito cedo. Só em finais de Agosto de 2006, surge a publicação do seu primeiro livro de poemas, “Juntando as Letras”. Em Maio de 2007, é editado o seu segundo livro, “Janela do Pensamento”, uma compilação de poemas e prosa poética. Quase a terminar o ano, em Outubro de 2007, nasce mais um livro de poemas e prosa poética, intitulado “Navegando nas Palavras”. No ano de 2008 fez parte de um grupo de onze autores, que lavraram e assinaram as páginas do livro, “Leituras Soltas”, uma edição conjunta da Fnac e da editora O Liberal, lançado a 13 de Dezembro.
Abril de 2009 é editado o seu primeiro livro exclusivamente em prosa “Pedaços de Vida e Fantasia”. Em Outubro do mesmo ano é editado o seu livro “70 poemas por um sorriso”. Em Abril de 2010 edita de novo em prosa “Livro Imperfeito”. Maio de 2011, “À Conversa Com Alves Redol & As Sequelas” saiu da gaveta para habitar as páginas de um livro.

Obras colectivas em que participou:
Leituras Soltas – 2008, Antologia Poético-Literária 7 Pecados – 2010, Colectânea Arte Pela Escrita III – 2010, Antologia de Poesia Contemporânea Entre o Sono e o Sonho Volume III – Chiado Editora, 2012..

Prefácios a obras de outros autores: Brisas do Mar, de Vanda Paz, Novembro de 2008. Pedaços do Meu Sentir, de Vítor Cintra, Maio de 2009, Uma Prosa… Um Verso, da escritora brasileira Ibernise Maria, Novembro de 2009, Águas de Ternura, de António MR Martins, Março de 2011.

Em Dezembro de 2007, O Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais, confere-lhe o Diploma de Honra e Mérito ao Escritor.

Página pessoal:
http://www.antoniopaiva.net

António Paiva

António Paiva

Talvez uma crónica por António Paiva

Nascemos impregnados de uma estranha substância que nos deprime, e nos confere uma estranha apetência cultural para a infelicidade. E ao que parece só a inacção nos consola, porque nos preserva o gozo de sofrer.

Secretamente todas as mulheres desejam um homem que tenha em si algo de poeta. Durante o ritual de conquista todos eles ensaiam versos até no olhar. Elas encarnam o papel de musas. Mas a convivência prolongada acaba por provocar a erosão. O erotismo arrefece e inicia-se a terrível dança do suportar a presença do outro com mais ou menos subtileza. É terrível de dizer, é chocante ler, constrangedor falar, insuportável admitir. Mas é a realidade disseminada no lar doce lar comum. À noite vem a ânsia de apagar a luz, esconder suspiros na almofada e fixar o olhar na parede – vidas tão comuns como o respirar.

Habitamos um mundo de tal modo organizado que perdemos a liberdade, abdicamos das emoções e censuramos o desejo. A eficiência e a eficácia material anulam o saber do espírito, tornamo-nos autómatos como as máquinas que nos substituem nas tarefas. Dizem que crescemos intelectualmente, que nos tornámos mais inteligentes – não estou certo disso – o que sei é que perdemos a coragem e a determinação. Porque ligar uma máquina que nos substitui não carece de coragem nem de determinação. Basta um gesto vulgar; pressionar um botão. O homem delega e ao delegar demite-se – anula-se.

Passamos tanto tempo nos lugares e nunca lá estamos. Vamos mas não estamos. E às vezes bastava um pequeno gesto, uma carícia, para nos colocar lá, e tudo seria substancialmente diferente, substancialmente melhor. Temos muitas vidas terrenas antes da última, mais nenhuma depois dela – já escutei crenças – não mais do que isso. Em que acredito eu?, acredito que o medo corrompe e corrói, e temos tanto medo de nós, que culpamos terceiros. E porque ainda ninguém a escriturou notarialmente como propriedade sua – a culpa morre sempre solteira.

António Paiva