DRAGÕES COSPEM O FOGO DO FUTURO

Numa altura em que a guerra na Ucrânia se aproxima do seu quarto aniversário – e do quarto bocejo do mundo perante as promessas de paz – Trump decidiu apontar o dedo mágico da diplomacia em direção a Pequim.

Segundo o presidente norte-americano, Xi Jinping seria o homem certo para ajudar os EUA a pôr fim ao conflito. Bonito gesto – se não fosse um pequeno detalhe: Xi é o aliado mais estratégico da Rússia. Trump, que gosta de falar com a mesma segurança com que muda de ideias, parece acreditar que a China vai abdicar do seu parceiro russo apenas porque Washington pede “educadamente”. Mas a geopolítica não é um jogo de caridade. É um tabuleiro onde cada dragão sopra fogo para o lado que lhe aquece os interesses.

A verdade é que Pequim dificilmente inverterá a sua posição, não apenas por pragmatismo, mas porque a parceria sino-russa é uma peça essencial no confronto económico com os EUA e a União Europeia. A Rússia fornece energia e matérias-primas; a China oferece tecnologia, produção e diplomacia estratégica. Um casamento de conveniência, sim – mas sólido enquanto houver um “inimigo comum” a oeste.

Assim, quando Trump diz “vamos trabalhar com a China”, o mundo escuta e pensa: ele vai trabalhar, mas o dragão continua a comandar o fogo. O futuro, ao que tudo indica, pertencerá a quem souber soprar com mais força – ou, pelo menos, a quem não se deixar queimar.

João Gomes