Carlos Branco, Major-General, “Estamos Tramados”

A histeria sobre a ameaça russa à Europa permite à burocracia europeia destinar mais fundos à defesa e, em última análise, desenvolver uma narrativa que pode conduzir a um ponto sem retorno.

São imensos os casos na história de operações de falsa bandeira para justificar guerras. Ficaram célebres o afundamento do Maine (1898), o incêndio do Reichstag (1933), o incêndio da baía de Tonquim (1964), o bombardeamento do Mercado de Sarajevo (1995), o dito massacre de Račak (1999), entre outros. Eric Frattini escreveu em 2017 um livro sobre o tema com o título “Manipulação da Verdade”. Com estas operações procura-se culpar o adversário de algo inaceitável e ter assim um pretexto para o atacar preparando, simultaneamente, a opinião pública para apoiar a guerra. É, portanto, uma prática antiquíssima e frequente. Quando posteriormente se prova a falsidade dos factos é tarde, porque os efeitos pretendidos já foram atingidos. É impossível reverter a história.

O clima de insegurança que se vive na Europa provocado pelos alegados drones russos tem contornos que se assemelham aos de operações de falsa bandeira. Fazia sentido tentar confrontar diplomaticamente os russos com provas, o que infelizmente não tem acontecido. No seguimento dos 19 drones (19 setembro) que entraram e caíram ou foram abatidos em território polaco, Moscovo disponibilizou-se para falar com Varsóvia sobre essas ocorrências, mas as autoridades polacas recusaram fazê-lo, sem explicarem o motivo da recusa. O mesmo se aplica às aeronaves russas que terão violado o espaço aéreo da Estónia. As provas são exíguas ou mesmo inexistentes.

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Os indigentes | Carlos Branco, Major-General

Retirado do Facebook | Mural de Mena Barbosa Batista Moraes

A Europa é chefiada por indigentes e Trump perdeu-lhes o respeito, se é que alguma vez o teve. Além de despedaçar a Europa, Trump mostra o seu desprezo pelo projeto europeu que poderia vir a desafiar o poder norte-americano.

Carlos Branco, Major-General

Hoje, 00:09

Há uns tempos escrevi um texto sobre as vulnerabilidades estratégicas da União Europeia (UE) e como elas condicionam a sua autonomia. Parece que os dirigentes europeus ainda não as interiorizaram. Para que a UE possa sobreviver e tenha margem de manobra política, faz sentido que os seus dirigentes em Bruxelas identifiquem essas vulnerabilidades e o impacto que possam provocar no seu relacionamento com as grandes potências ou blocos comerciais.

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Para que serve o rearmamento da Europa, Carlos Branco, Major-General, 01 Abril 2025

Parece não restarem muitas dúvidas de que os líderes europeus não têm nas suas mentes uma estratégia de dissuasão, mas sim outra mais exigente em meios, para além de ser mais perigosa.

O debate em redor do rearmamento da Europa passou a dominar as manchetes dos jornais e a abertura de telejornais. A Europa está desarmada, qual capuchinho vermelho prestes a ser triturado pelos dentes afiados do lobo mau, que um dia virá de leste. Mas a realidade dos factos é que nem a Europa está desarmada nem a psicose de massas artificialmente fabricada se justifica com uma ameaça russa em aproximação, desprovendo de sentido a urgente corrida armamentista que se anuncia como inevitável e em que a Europa se prepara para embarcar.

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A paz justa na Ucrânia | Carlos Branco, Major-general e Investigador do IPRI-NOVA | in O Jornal Económico

Goste-se ou não, não é à luz do Direito Internacional, da moral ou dos sentimentos de justiça ou injustiça que o resultado do conflito vai ser determinado.

A obtenção de uma paz justa para o conflito na Ucrânia surgiu recentemente no léxico de alguns spin doctors.

A palavra “paz” transporta uma noção de compreensão, harmonia. Ornamenta a dialética. O súbito “abandono” seletivo do discurso belicista precisa, no entanto, de ser dissecado. Estes seres não passaram de falcões a pombas do dia para a noite. Não vêm propor uma solução de soma positiva. Para eles, paz justa é a paz nos termos de Kiev, i.e., a vitória de Kiev em toda a linha, em particular, a adesão da Ucrânia à NATO, e a retirada completa e total das tropas russas de todo o território ucraniano.

Por ser subjetivo, o conceito de “paz justa” é de pouca utilidade. Não nos ajuda a compreender os acontecimentos. A sua apreciação depende do lado da barricada onde se está entrincheirado, é preconceituoso.

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