A ESPINGARDA DE HEMINGWAY, por Manuel S. Fonseca, in Facebook

Mas que coisa é essa, intrigante, confusa, perplexa, de ser-se escritor?! Como se eu pudesse saber…

A vocação está na ponta de uma espingarda. Pelo menos para Ernest Hemingway. Mario Vargas Llosa cujo espírito paira agora por aí como uma erótica máquina lírica, descobriu que queria ser escritor – essa pulsão que se diz rasgar as entranhas –, ao ler «Madame Bovary», romance de um senhor francês, dado a crises nervosas, chamado Flaubert. O polaco Joseph Conrad alistou-se na então gloriosa Marinha britânica e aprendeu inglês, língua que foi sua musa inspiradora. 

Mas que rumor é esse que faz os escritores estarem de bem connosco e de mal consigo? Poetas e romancistas serão inspirados por um demónio ou eleitos de Deus? E existirá essa chusma de musas, que imagino de maminhas veladas por tules a roçarem-se pelas meninges dos escritores? No caso das escritoras, serão faunos de infantis pilinhas divertidamente erectas e que quando dedilhadas fazem dó, ré, mi?

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A EXTINÇÃO DOS DINOSSAUROS, por Manuel S. Fonseca, publicado no Jornal de Negócios

Retirado do Facebook | Mural de Manuel S. Fonseca

Dou a palavra a uma ou duas perguntas do meu neto. Que, diga-se, muito ajudaram a educar o avô.

Foi o cometa Halley que agarrou em Mark Twain e o tirou de um qualquer buraco negro para o fazer nascer na terra. O Halley o trouxe, o Halley o levou: 75 anos depois, estava Halley o mais próximo que lhe é dado estar do Sol, pimbas, puxou Twain pelo fundilho das calças em direcção ao infinito, como se fosse Huckleberry a arrebatar o escravo Jim, no célebre romance de amor em fuga dos dois. Ou talvez Halley tivesse puxado Twain pelas ceroulas, que em geral é de roupa interior e íntima que se parte para a eternidade.

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A nádega e a fina agulha, por Manuel S. Fonseca, 22-02-2025, in “A Página Negra”

Foi uma fuga hiperbólica. Os diabólicos Rolling Stones tinham sido enganados por um austero contabilista e as finanças inglesas queriam trucidá-los. Tal como eu e o meu amigo Rui, em bolandas com a tropa, nos enfiámos clandestinamente no Lobito, nos idos de 74 e 75, os Stones zarparam Mancha abaixo, fintando Sua Majestade, e desaguaram na sumptuosa vivenda Nellcôte, na aldeiazinha que dá pelo delicioso nome de Villefranche-sur-Mer, em plena Côte d’Azur.

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A CAMARADA GRETA GARBO, por Manuel S. Fonseca, in Jornal de Negócios e Facebook

Gosto de quem muda de opinião. E muito mais se quem muda de opinião é a sueca Greta Garbo. Ainda mais quando muda de um sorumbática tristeza para um riso esfuziante.

A CAMARADA GRETA GARBO

De que matéria é que se fazem os sonhos? De letras, diria eu. Ora vamos e vejamos, os sonhos dos filmes, antes de serem sonhos, antes de serem aventuras, antes de serem gargalhadas, são palavras escritas. Há, para cada filme, um argumentista, a senhora ou senhor que escreve os textos, que hão de guiar o realizador e ser frases na boca aos actores. Há tempos, os argumentistas mais reputados em actividade elegeram o melhor de sempre na profissão.

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