RAIVA E FALTA DE SENSO | Fernando Couto e Santos

Num dos livros mais interessantes da rentrée literária francesa intitulado Croix de cendre (Cruz de cinza) publicado pelas edições Grasset, o escritor Antoine Sénanque relembra através da voz de uma das suas personagens – uma das muitas que povoam o livro, entre as quais o conhecido Mestre Eckhart- um episódio elucidativo ocorrido em 1347 durante a batalha e o cerco de Kaffa (actual Teodósia na Crimeia) – batalha que, de acordo com alguns historiadores, pode ter estado indirectamente na origem da propagação da Peste Negra na Europa – que diz muito ainda hoje da perspectiva que alguns têm do sentido de justiça (ou falta dele) que deve presidir à vida humana. 

Ao cair da noite, um grupo de mulheres iludiu a vigilância e terá bloqueado uma das carroças repletas de corpos de soldados tártaros, falecidos, que foram deitados na rua. As mulheres terão mutilado o sexo dos soldados, colocando em seguida esses pedaços de carne amontoados na rua para assim serem queimados. Por que razão terão tido estas mulheres tão selvática atitude? Eram cristãs e acreditavam na eternidade, mas não estavam certas de que a eternidade respeitasse a sua vingança. Para exercerem qualquer castigo, não tinham confiança em ninguém, nem sequer em Deus. Quando os inquisidores desenterravam os ossos dos hereges para os queimarem em fogueiras públicas, faziam-no para prolongar a punição porque receavam, como as mulheres de Kaffa, que, podendo Deus ser bondoso, a simples morte entravasse o que consideravam erradamente ser a justiça. A personagem do romance acrescenta: «o mundo é povoado por implacáveis. São eles os hereges». 

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José Luís Carneiro sugere que deixará passar governo minoritário do PSD: “Não será por mim que o Chega chega ao poder” | in Expresso

O candidato à liderança do PS que está já no terreno, José Luís Carneiro, atacou este domingo o seu opositor, Pedro Nuno Santos, amarrando-o aos partidos da esquerda anti-NATO, e às opções do Governo, de que Pedro Nuno se quer afastar

José Luís Carneiro começou a posicionar-se na sua candidatura à liderança do PS no polo oposto ao do seu adversário, Pedro Nuno Santos. Numa curta entrevista à TVI, quis amarrar Pedro Nuno Santos não só ao Governo de que fez parte como também ao Orçamento do Estado, que votou enquanto deputado no Parlamento.

“Pressuponho que o meu camarada Pedro Nuno Santos representará uma parte dessa herança (do Governo). Ele próprio fez parte do Governo e ele próprio aprovou o Orçamento do Estado. E, portanto, pressuponho que não tenha questões de ruptura com o que está na proposta de Orçamento do Estado”, disse.

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