MAIMÓNIDES E SPINOZA | por Marcos Bazmandegan

Moisés Maimónides é considerado o maior filósofo judeu medieval e, por muitos, o maior da filosofia hebraica.

A sua obra Guia dos Perplexos (Moreh Nebuchim em hebraico) é a obra de referência da filosofia judaica e na Idade Média marcou não só pensadores judeus como também cristãos, entre eles Alberto Magno e Tomás de Aquino. Conhecido pela sua teologia negativa, tentou racionalizar o conteúdo bíblico, afastando os crentes de uma imagem antropomórfica de Deus (um Deus à semelhança do Homem).

Valorizou a filosofia de Aristóteles e tentou conciliá-la com a teologia hebraica. Nasceu em Córdoba (Espanha), onde encontramos esta estátua, mas teve de partir para o Egipto, onde se tornou o médico do sultão, o famoso Saladino.

A sua obra Guia dos Perplexos foi a mais estudada nos círculos cultos judaicos e recebeu inúmeros comentários ao longo dos tempos. Polémica em sua época, esta obra tornou-se a base de um projeto racionalista no seio do próprio Judaísmo.

Muito apreciado na Veneza de Leão Modena e depois na Amsterdão do seu discípulo, Saul Levi da Morteira, ela fez parte da formação filosófica e teológica do jovem Baruch de Spinoza, cuja mente, brilhante e profunda, não se deteve diante dos mistérios mais sublimes e das questões mais difíceis. Spinoza estudou profundamente a obra de Maimónides. Profundamente. Levando o seu projeto racionalista a um outro nível, às suas últimas consequências. Spinoza foi um leitor atento e também crítico de Maimónides.

Para além de a ter estudado na escola de estudos avançados de Saul Levi da Morteira, também a estudou ao longo da vida, tendo um exemplar em hebraico na sua própria biblioteca pessoal. Spinoza cita-o explicitamente no Tratado Teológico-Político, mas encontraremos a sua influência em outros momentos importantes do Tratado e da Ética. É um autor sempre presente no diálogo e no confronto mental de Spinoza.

Ler o Guia dos Perplexos através do olhar crítico de Spinoza é uma viagem fascinante ao universo mental de Baruch.

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