Já ouviram falar em sensibilidade filosófica? Marcos Bazmandegan

Deleuze, nas suas aulas sobre Spinoza, apresenta-nos esta teoria que ele gostaria de desenvolver mais tarde e que considera fulcral no filosofar: do mesmo modo que há uma sensibilidade artística ou musical, através da qual alguém sente uma afinidade com um determinado artista ou músico, assim também algo semelhante acontece na filosofia.

Há filósofos que nos fazem vibrar, que nos fazem encontrar qualquer coisa de nós mesmos nos seus pensamentos, fazem-nos sentir em casa quando os lemos. Outros não nos dizem nada, não nos entusiasmam, não estabelecem nenhuma comunicação interior connosco.

É uma questão de encontros e de afinidades. Não é algo que possa ser considerado certo ou errado. É algo que se sente, uma sensibilidade. Alguns filósofos aumentam a nossa potência de pensar e agir. 

Por isso, Deleuze aconselha a cada um encontrar o que gosta, sem criticar ninguém. Para usar um imagem da biologia, é como encontrar as moléculas que se correspondem connosco. Cada um deve procurar as suas moléculas, aquelas que o regeneram. É preciso encontrar esses livros.

Deleuze diz que é uma pena alguém envelhecer sem encontrar os livros que teria amado. Quando isso acontece, a cultura é amarga e o conhecimento azedo. Temos o intelectual amargurado. 

Ser spinozista, mais do que conhecer toda a filosofia de Spinoza, é ter vibrado com certos textos e pensamentos de Spinoza. É ter sentido essa conexão, essa afinidade de pensamento e de vida. O mesmo podemos dizer a respeito de qualquer outro filósofo.

Sentir-se como um modo de ser não é a mesma coisa do que sentir-se como um ser. Há consequências práticas em tudo isso. Tudo muda de figura: a maneira como vemos a vida, a enfermidade e a morte. 

Encontrem os vossos livros!

Marcos Bazmandegan, 11-06-2024

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