SPINOZA | Deleuze & Guattari e os devires, por Marcos Bazmandegan

Tenho lido Deleuze & Guattari a falar dos devires: devir-intenso, devir-animal, devir-imperceptível. E ao falarem dos indivíduos e da melhor maneira de os definir, trazem-nos Spinoza e a sua maneira de olhar para as coisas.

Um corpo não se define pela sua forma, nem por ser substância ou sujeito, nem pelos órgãos ou funções que o constituem, nem por categorias, géneros ou representações de qualquer espécie. Um corpo define-se, antes, pelo conjunto de elementos materiais que lhe pertence através das relações de movimento e repouso e pelo conjunto de afetos intensivos de que ele é capaz.

Resumindo: as coisas são o conjunto de relações que as constituem e aquilo de que são capazes (afetar e ser afetadas).

A experimentação (das relações e dos afetos) tem precedência sobre toda a interpretação (imaginação e finalismo).

Alberto Caeiro, um poeta spinozista, o mais spinozista dos poetas, de modo muito belo descreve o que temos vindo a dizer no seu poema sobre S. Francisco, o poeta de uma natureza interpretada. Nele lemos o Anti-Édipo:

Leram-me hoje S. Francisco de Assis.

Leram-me e pasmei.

Como é que um homem que gostava tanto das coisas,

Nunca olhava para elas, não sabia o que elas eram?

Para que havia de chamar minha irmã à água, se ela não é minha irmã?

Para a sentir melhor?

Sinto-a melhor bebendo-a do que chamando-lhe qualquer coisa.

Irmã, ou mãe, ou filha.

A água é a água e é bela por isso.

Se eu lhe chamar minha irmã,

Ao chamar-lhe minha irmã, vejo que o não é

E que se ela é a água o melhor é chamar-lhe água;

Ou, melhor ainda, não lhe chamar coisa nenhuma,

Mas bebê-la, senti-la nos pulsos, olhar para ela

E isto sem nome nenhum.

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