VASCO GRAÇA MOURA | VAI-SE A LASCIVA MÃO

vai-se a lasciva mão devagarinho

no biquinho do peito modelando

como nuns versos conhecidos quando

uma mulher a meio do caminho

era de vento e nuvens, sombras, vinho,

e sonoras risadas como um bando.

os dedos lestos vão desenredando

roupa, cabelos, fitas, desalinho.

a noite desce e a nudez define-a

por contrastes de luz e de negrume

ponto por ponto, alínea por alínea.

memória e amor e música e ciúme

transformados nos cachos da glicínia,

macerando no verão sombra e perfume.

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