Índia oferece um milhão para decifrar escrita, in jornal “O Observador”, 01-03-2025

Um prémio próximo de um milhão de euros para quem conseguir decifrar a escrita da civilização do Vale do rio Indo, que habitou uma área que corresponde atualmente ao noroeste da Índia e ao sul do Paquistão durante a Idade do Bronze. Foi esse o desafio lançado no estado indiano de Tamil Nadu.

“Para incentivar a investigação, o Governo vai oferecer um milhão de dólares”, anunciou o governador do estado, MK Stalin, nas cerimónias do centenário da descoberta desta civilização, em janeiro deste ano.

“Não somos capazes de decifrar a escrita da civilização do Vale do Indo, que floresceu outrora. Mesmo passados 100 anos, continua a ser um mistério. Arqueólogos, peritos em informática tamil e linguistas de todo o mundo têm-se esforçado por decifrar a escrita“, disse ainda o líder do estado, citado pelo jornal The Hindu.

Os primeiros exemplares deste tipo de escrita foram publicados em 1875, segundo a CNN. Porém, desde então, ninguém conseguiu decifrar o que os símbolos significam. O professor de informática na Universidade de Washington, Rajesh P.N. Rao, que trabalha neste projeto há mais de uma década, acredita que a escrita pode revelar muito sobre a história da região.

“Uma questão muito importante sobre a pré-história do Sul da Ásia poderá ser resolvida se conseguirmos decifrar completamente a escrita”, afirmou o cientista sobre a civilização que floresceu na região há mais de 5.300 anos.

Tudo o que se sabe sobre esta civilização deve-se a várias escavações na região, que descobriram cidades com sistemas de canalização e de gestão de resíduos considerados “sem paralelo” em sociedades contemporâneas, segundo um artigo publicado pela UNESCO.

A escrita do Indo é talvez o sistema de escrita mais importante que ainda não foi decifrado“, sublinhou à BBC, Asko Parpola, especialista em Indologia.

Segundo a BBC, os principais desafios na descodificação do sistema são o baixo número de placas que contêm este tipo de escrita e a pequena dimensão dos exemplares. A maioria dos objetos com inscrições, como placas, selos, ou sinais, têm cerca de cinco símbolos.

“Ainda não sabemos se os sinais são palavras completas, ou parte de palavras ou parte de frases”, ressalvou Nisha Yadav, investigadora no Instituto Tata de Investigação Fundamental, ligado ao Governo federal indiano, que está a aplicar metodologia computacional e estatística para tentar decifrar o enigma.

Apesar deste desconhecimento, a investigadora sublinha que os estudos dão a entender que “a escrita está estruturada e tem uma lógica subjacente“.

Tamil Nadu, o estado indiano que quer agora oferecer este prémio, está localizado na ponta sudoeste da Índia, praticamente na ponta oposta do país face à da localização onde viveu a civilização do rio Indo.

No entanto, o governador MK Stalin é um dos partidários de que a escrita tem origem dravidiana, algo que agruparia a escrita do vale do Indo à família de línguas que se falam no estado de Tamil Nadu e em boa parte do sul da Índia.

Rajesh P.N. Rao contou à BBC que, mesmo antes do desafio, o professor recebia todas as semanas e-mails com hipóteses ou apostas de soluções para o enigma da escrita. No entanto, revela que o anúncio de MK Stalin aumentou a frequência dos contactos.

“Costumava receber cerca de um ou dois e-mails por semana. Mas agora, depois de o prémio ter sido enviado, recebo praticamente todos os dias”, revelou Rao à CNN.

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