De Gaulle adoraria estar vivo agora, por André Abrantes Amaral, in “Observador”, 02-03-2025

A 27 de Janeiro de 1964 a França reconheceu a República Popular da China. A iniciativa valeu a Paris protestos de Washington que Charles de Gaulle recebeu com satisfação. De uma assentada, a França da Segunda Guerra Mundial ficava para trás e a França verdadeira, a França eterna estava de volta. 

Na conferência de imprensa que teve lugar dias depois, de Gaulle explicou ao mundo as suas razões: primeiro, que a China era um grande povo e uma grande civilização que precisava de se integrar no mundo moderno e, em segundo, que a ideologia comunista não apagava as rivalidades entre a Rússia (URSS) e a China. O presidente francês foi o primeiro a ver essa realidade e os EUA precisaram de tempo para assentarem a fúria e, também eles, seguirem Paris e reconhecerem Pequim.

De todos os motivos que de Gaulle tinha para reatar relações com a República Popular da China há um que não consta da conferência de imprensa que mencionei em cima: a necessidade de marcar posição face aos EUA. Sempre que podia, de Gaulle não perdia a oportunidade para o fazer. A ideia de grandeza que tinha da França obrigava-o e a inexistência de uma União Europeia (a CEE da altura só contava com seis estados) dificultava-lhe a vida. Por vezes teve de se conter; por outras, como foi o caso com a China, fez o que queria.

O que faria de Gaulle se fosse vivo, se fosse presidente da França e se tivesse de lidar com Trump? Muito provavelmente iria a Pequim. Não a Moscovo, que ataca a Europa, mas a Pequim que está longe e é a principal ameaça aos EUA, que negligenciam a Europa. Basicamente, concluiria que se a Europa precisa dos EUA e estes se afastam, a melhor forma de os europeus se fazerem valer será aproximarem-se dos chineses, adversários dos norte-americanos.

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