Paulo Portas sobre as tarifas de Trump: “Se isto tem lógica, então escapa-me o que é lógico”, in CNN Portugal

No seu habitual espaço de comentário, Paulo Portas analisou o recuo de Donald Trump na política de tarifas, considerando-o a primeira derrota significativa do presidente em matéria de política económica externa. Para Portas, Trump, que defende fervorosamente as tarifas, demonstra dificuldade em compreender a dinâmica da economia global, e este retrocesso revela fragilidades na sua abordagem a este tema. “Têm sido semanas caóticas. E esta, em particular, redundou naquilo que é, e objetivamente, a primeira derrota séria em matéria de política económica externa, de um presidente que acredita nas tarifas e tem dificuldade em compreender uma economia global”.

Portas identificou três razões principais para o recuo de Trump. Primeiro, a reação negativa dos mercados financeiros, que foi severa. Segundo, a insatisfação de eleitores republicanos defensores do livre comércio, já impactados economicamente. Terceiro, a resposta ainda incerta da China, que poderá ter influenciado a decisão. “Primeiro, fez a asneira, depois diz que a asneira é para sempre e que não vai haver exceções”. “E, depois, recua”. “E recua porque a pressão foi muito grande”.

Uma lição a reter, aponta o comentador, é que “não há uma direção lógica ou estratégica nesta política das tarifas”. “Ele começa por ter como inimigo os seus principais amigos, Canadá e México”. “Os três têm um acordo comercial”. “Depois chega para a Europa, a seguir para o mundo inteiro, criando uma hostilidade e uma incerteza que têm como alvo os Estados Unidos”. “E, finalmente, acaba por aterrar na China que ele tinha poupado no início”. “Se isto tem lógica, então escapa-me o que é lógico”.

A hesitação do presidente norte-americano — ora impondo, ora suspendendo tarifas — “aumenta o custo da incerteza”, afirma Portas, que questiona também a ideia de Trump de que os EUA podem isolar-se, reforçando que o país depende mais do mundo do que o presidente reconhece. “É extraordinário como é que ele atira para lançar tarifas de 145% sobre a China  sem perceber que a América ficava sem iPhones ou sem iPads ou até sem computadores”. 

E, depois, no sábado foi “obrigado a fazer um segundo flick-flack, um segundo mortal à retaguarda e dizer que afinal as tarifas não atingem esses bens”. “Isto é uma prova de que ele não compreende a economia global e acho que há duas questões que quero aqui salientar”.

“Neste grau de irracionalidade”, sublinha Paulo Portas, “há rumores de que a China terá vendido, nas últimas semanas pelo menos, cerca de 50 mil milhões da dívida que tinha”. Ou seja, “um vigésimo da dívida americana que detinha”. Além disso, continua o comentador, aconteceu outro “míssil financeiro”: “A China tem 75% das terras raras do mundo”. “Se porventura a China, mesmo com danos para si própria, começa a banir à séria a exportação dessas terras raras, termina ou suspende uma parte da economia tecnológica de que os Estados Unidos são líderes”.

Numa reflexão final sobre o tema, Paulo Portas afirma que, “nestes 11 dias, e em particular nos últimos dois meses e meio”, as pessoas viram o que é um mundo com protecionismo sistémico. “E ficaram preocupados com os preços, com o investimento, com a inflação, com a diminuição do crescimento, com a loucura dos níveis de escalada a que se chegou”.

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