Pedro Abrunhosa sobre o despedimento de Raquel Varela da RTP, 11-10-2025

A historiadora, investigadora, ensaísta e professora universitária Raquel Varela foi ‘dispensada’ pela Direcção da RTP onde, na RTP3, mantinha um espaço de debate e comentário político com outro comentarista. A sua voz sempre foi de uma meridiana lucidez analítica, ou não fosse o seu ADN o da ciência e do rigor. Ao contrário de emitir opiniões, alicerçava a sua visão nos dados oficiais e no impacto destes no espectro sociológico, económico e geográfico. Isto é: conhecia a realidade e a diversidade do país como poucos.

Por realidade entenda-se ‘não subscrever as teses neo-liberais do mercado auto-regulado’. A pobreza sistémica e o cada vez maior fosso entre classes, dominante e trabalhadora, saltavam do seu discurso como evidências não opinativas. Era, na RTP, a voz que , infelizmente, o jornalismo perdeu rendido que está às audiências e à banalidade.

Não se constrói uma sociedade aos berros nem o bem-comum com tiktokes. Raquel Varela, clara e genuinamente fora-do-sistema, era a voz incómoda que não cabe no comentarismo engravatado & profissional dos beijoqueiros de tribuna. Quando sabemos da interferência cirílica nas manobras de alguns partidos e da ascenção do terraplanismo na Ciência, perder a análise e o rigor de Raquel Varela no canal público é alarmante.

Boa sorte para todos ! @raquel_cardeira_varela @rtppt