Anda a sentir falhas acentuadas de memória? António Damásio explica porquê.

O neurobiologista esteve na Fundação José Neves para explicar a importância dos sentimentos na nossa vida e na saúde mental. E dizer-nos como a consciência é o princípio para a regulação e equilíbrio do nosso corpo

Se depois deste confinamento pandémico começou a ter falta de memória, não é de admirar. Este pode ser um quadro generalizado ao ser humano depois da crise pandémica. Esquecemo-nos dos nomes (até dos colegas), dos sítios, do que deveríamos fazer… A que se deve? Ao “retiro do treino individual”, na opinião do neurobiologista António Damásio, que esteve à conversa com José Neves no evento anual da Fundação.

“A falta de treino acarreta falta de memória”, porque o nosso cérebro “precisa de uma reativação constante para que se mantenha no nosso mundo”, explica o neurobiologista atualmente a viver em Los Angeles, Estados Unidos. “Há coisas que as pessoas só agora se vão aperceber”, avisa, alegando ainda que “há toda uma série de fenómenos que terão de ser estudados” decorrentes desta disrupção causada no mundo pela pandemia. “E que podem abrir novos caminhos no campo da Ciência”, projetou o cientista, mostrando-se esperançoso e otimista.

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António Damásio, “A Estranha Ordem das Coisas. A Vida, os Sentimentos e as Culturas Humanas”, Temas e Debates, 2017 | in A VIDA BREVE

O neurocientista luso-norte-americano António Damásio nasceu em Lisboa, a 25 de Fevereiro de 1944.

“ ____ No entanto, para considerar os nossos dias como sendo os melhores de sempre seria preciso que estivéssemos muito distraídos, já para não dizer indiferentes ao drama dos restantes seres humanos que vivem na miséria. Embora a literacia científica e técnica nunca tenha estado tão desenvolvida, o público dedica muito pouco tempo à leitura de romances ou de poesia, que continuam a ser a forma mais garantida e recompensadora de penetrar na comédia ou no drama da existência, e de ter oportunidade de refletir sobre aquilo que somos ou que podemos vir a ser. Ao que parece, não há tempo a perder com a questão pouco lucrativa de, pura e simplesmente, “ser”. Parte das sociedades que celebram a ciência e a tecnologia modernas, e que mais lucram com elas, parece estar numa situação de bancarrota “espiritual”, tanto no sentido secular como religioso do termo.

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‘Os sentimentos têm papel essencial no progresso — ou no atraso — civilizatório’ – diz neurocientista António Damásio | in Revista Prosa e Verso e Arte

O impacto do sentir
Cientista António Damásio argumenta, em novo livro, que os sentimentos têm papel essencial no progresso — ou no atraso — civilizatório
– entrevista realizada por Filipe Vilicic | revista Veja*

O neurocientista português António Damásio consagrou-se, em seus 74 anos (2018), como um dos intelectuais que mais compreendem o funcionamento do nosso cérebro. Ao lado da mulher e colega de profissão, a também portuguesa Hanna, de 75 anos, ele chefia o centro de pesquisas de sua área na Universidade do Sul da Califórnia. Em seu primeiro best-seller, O Erro de Descartes (1994), Damásio explorou a ideia de como o conjunto de mente e corpo nos define. Em seu novo livro, A Estranha Ordem das Coisas, lançado em junho no Brasil pela Companhia das Letras, acrescenta outro elemento essencial a essa fórmula: os sentimentos. Na entrevista a VEJA, por telefone, o acadêmico explicou como a raiva, a alegria e outras expressões humanas foram e são motores do processo civilizatório, mesmo que, por vezes, emoções coletivas possam levar a retrocessos. Radicado nos Estados Unidos desde os anos 1970, ele falou em português — mas, em alguns termos técnicos, resvalou no inglês. A seguir, sua entrevista.

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