Agostinho da Silva, Dostoievsky – O Grande Inquisidor, edição de autor, 1941

DOSTOIEVSKY – O GRANDE INQUISIDOR

«O tema essencial da vida de Dostoievsky é a desgraça. Com uma ascendência em que se misturavam o melhor e o pior, êxtases de místicos e impulsos de assassinos, mas em que o tom geral era o do desequilíbrio e da doença, nasceu o escritor em Moscovo, em 12 de Outubro de 1821. 

O pai era médico dos hospitais e logo de início teve Dostoievsky, como ambiente de vida, as conversas sobre doentes, a atmosfera lenta e mórbida dos pavilhões, as faces desalentadas e tristes dos internados. Em casa, o pai comportava-se como um tirano sombrio, com crises terríveis de mau humor; todo o mundo em volta se conjurava para dar ao pequeno a impressão de que a vida era um fardo trágico, de que a nossa existência se devia passar na resignação ou na revolta, sem lugar para as construções compreensivas e serenas. O colégio, como era natural, não fez mais do que acentuar esta visão da vida e o conflito interior de Dostoievsky entre uma necessidade de expansão em que todas as forças internas lhe pareciam destruir o próprio corpo e uma timidez, um jeito de sofrer, que já o tinham desacostumado de toda a esperança e de toda a alegria.

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