Histórias da guerra – 3 | O BIGODES – um guarda costas e peras | por Agostinho Nogueira

Chamava-se, se bem me lembro, Joaquim Manuel Charrréu Charruadas – nome tipicamente alentejano como era o seu dono. Charréu, para os alentejanos, é um pássaro igual aos pardais do resto do país. Apesar de não constar do Dicionário, suponho que o nome vem da forma de se expressarem – mais parecida com um ralo do que com um rouxinol. Charruadas parece vir de charrua, instrumento que os alentejanos aprenderam a manusear a seguir à enxada, muito antes do trator, que, para o Bigodes, era feminino – uma tratoraaaa…

Na tropa toda a gente recebe um baptismo. Ali mesmo, sem padrinho nem madrinha, muitos passam a ser conhecidos pelo nome da terra donde vêem – havia o Setúbal, um mecânico não sei se mais habilidoso que maluco, ou vice versa, o Grândola que tinha o negócio das fotografias, o Brinches, o cabo Ferreira que era de Ferreira do Alentejo e morreu afogado a tomar banho no mar (azar dum gajo… ir para a guerra p´ra morrer afogado a tomar banho …) E havia ainda o SPM…iniciais de Serviço Postal Militar…porque o SPM da Companhia era o 2666…e aquele militar tinha esse número…

Para o Charreu Charruadas, sabe-se lá porquê, a imaginação colectiva ditou outra alcunha – era o jeep. Nunca soube a origem do apelido nem quem foi o primeiro que o chamou assim…devia fazer parte das NEP’s, como muitas outras coisas da tropa que eram só para fazer, não eram para entender…

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