HERMÍNIO DA SILVA CAPAZ MANHA, 1923-2023 | por João Querido Manha

Faz hoje 100 anos que nasceu, em Minde, o meu pai, Hermínio da Silva Capaz Manha, o Hermínio da Troça na piação dos charais do Ninhou, o Hermínio das Malhas Bebé na história da indústria têxtil, o senhor Hermínio, simplesmente.
O meu “paizinho” – tratamento de íntimo e exclusivo carinho que as novas gerações urbanas substituíram pelo “papá” universal — foi o melhor filho, melhor irmão, melhor marido e melhor pai que conheci. Infelizmente, só me dei conta disso quando senti, como sinto, a falta dele, porque naquele tempo tudo me parecia normal, partia do princípio de que todos os homens “velhos” morriam na sua hora.
Mas, no dia em que faleceu, fui surpreendido por uma frase, dezenas de vezes ouvida naquelas horas de desnorte e sufoco:
“Era tão novo!”

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O recorde de Eusébio e os coreanos | João Querido Manha

“Colored” e “olhos em bico” foram duas expressões que aprendi em 1966, por altura do histórico Eusébio versus Coreia do Norte. Eram usadas nos jornais que me ensinaram a ler, sobretudo o Diário Popular, como compreensíveis e lógicas, carinhosas até, sem vislumbre de xenofobia ou ódio. Era o “velho normal”.

Dos coreanos, dizia-se meio a brincar, meio a sério, que eram todos iguais, que todos se chamavam Park qualquer coisa, que talvez tivessem substituído os onze da primeira parte por outros onze ao intervalo e que podia ter sido isso, não a sua qualidade atlética nem o efeito surpresa, a provocar a eliminação prematura da poderosa Itália. Quando a “equipa da Disney”, como lhe chamou Otto Glória pela comicidade dos passinhos de corrida, vencia Portugal por 3-0 aos 25 minutos de jogo, esses eram os comentários que ouvia à minha volta: “olhem como eles correm, parece que são mais que os nossos e ao intervalo ainda vão trocá-los por outros iguais, isto não devia ser permitido!”

Mas a fé em Eusébio, aquele ‘sprint’ com bola pelo lado esquerdo até ser derrubado dentro da área, a frieza a marcar os penaltis, a tranquilidade corajosa, o cavalheirismo na vitória, a liderança natural e a classe insuperável tudo dissolveram, como uma barrela ao preconceito. A maior reviravolta da história dos campeonatos do Mundo, um recorde irrepetível!

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