LIVROS | OS NOVOS | por Isabel Rio Novo | Mário Cláudio

Uma literatura é tanto mais rica, parece-me, quanto houver homens e mulheres de todas as idades e gerações a escreverem e a publicarem. Fico contente com os novos livros de novos autores, ou de autores novos (sobre os quais costumam recair as perguntas que me fazem durante as entrevistas), mas confesso que também fico contente por escritores que já nada têm a provar, como Mário CláudioJoão de Melo, Luísa Costa Gomes, António Lobo Antunes ou Mário de Carvalho, continuarem a manter um ritmo de publicação assinalável e a oferecer-nos livros extraordinários. No caso de Mário Cláudio e João de Melo (não conheço tão bem os outros), temos, além do mais, dois escritores generosos, que se interessam por acompanhar e encorajar a literatura que os mais novos produzem.
Aceitem, pois, a minha mais recente sugestão de leitura. O livro mais novo de um grande escritor.

Isabel Rio Novo

Retirado do Facebook | Mural de Isabel Rio Novo

O Fotógrafo e a Rapariga, de Mário Cláudio

O_Fotografo_MCCom O Fotógrafo e a Rapariga, conclui Mário Cláudio uma trilogia dedicada às relações entre pessoas de idades muito diferentes, iniciada em 2008 com Boa Noite, Senhor Soares – que recria o microcosmo do Livro do Desassossego, trazendo para a cena um aprendiz que trabalha no mesmo escritório de Bernardo Soares – e continuada em 2014 com Retrato de Rapaz – fascinante relato da vida atribulada de um discípulo no estúdio do grande Leonardo da Vinci.

No presente volume, os protagonistas são o britânico Charles Dodgson, que se celebrizou com o pseudónimo Lewis Carroll com que assinou, entre outros, o clássico Alice no País das Maravilhas, e Alice Lidell, a rapariga que o inspirou, posando provocadoramente para os seus retratos e alimentando as suas fantasias.

Nas livrarias a 24 de Fevereiro

Citando Mário Cláudio

Retrato de Rapaz

Se se curava de afeiçoar os lábios de uma excelsa cortesã, uma dessas que retinham o direito de se sentar à mesa ducal, pelando uma laranja com as unhas rebrilhantes de óleo de amêndoas doces, o impulso de Salai tendia a representá-los carnudos de incontida sensualidade. E quando se tratava de suspender sobre uma paisagem de montanhas longínquas um inconsútil véu de neblina, logo ele o transformava numa nuvem pardacenta, e ameaçadora de borrasca. Cabia pois ao pintor mitigar-lhe os deletérios ímpetos da juventude, significados na busca do que se afirma intenso em prejuízo do que se mostra ameno, coisa que tão-só os génios desprovidos de idade, sobrepondo-se às contingências do tempo, são capazes de contrariar. E um tal extravio dos sentidos, ou um afogadilho assim da vontade, revelava-se na selecção das cores que o jovem empregava, investindo nesse apetite dos extremos que orienta a conduta dos adolescentes de sempre.

Retrato de Rapaz, de Mário Cláudio, D. Quixote

leia a recensão no Acrítico – leituras dispersas.

Retrato de Rapaz, de Mário Cláudio

Retrato de RapazFarto do descaminho de Giacomo, o pai vem deixá-lo ao estúdio de banho tomado, mas ainda com andrajos e piolhos, para que o artista que exuma cadáveres e constrói máquinas voadoras o endireite e faça dele seu criado. A beleza do rapaz impressiona Leonardo, que logo pensa nele para um anjo, concluindo porém que lhe assentam melhor corninhos de diabrete, e assim o rebaptizando como Salai. Serão, de resto, os pecadilhos do rapaz que o farão cair nas boas graças do amo e o elevarão à categoria de aprendiz sem engenho mas com descaramento para emitir opiniões, borrar a pintura, traficar pigmentos e até surripiar desenhos. E, num jogo de pequenas traições mútuas, vai-se criando entre Salai e o pintor uma cumplicidade que os aproximará como se fossem pai e filho.

Retrato de Rapaz é uma novela fulgurante sobre a relação entre mestre e discípulo, nem sempre isenta de drama e decepção, e sobre a criatividade de um artista genial em tudo, mesmo na gestão dos seus afectos.

É a Guerra


guerraÉ a Guerra
, Aquilino Ribeiro

Prefácio de Mário Cláudio

No ano em que se assinala o centenário do início da Primeira Guerra Mundial, a Bertrand Editora reedita É a Guerra, o diário de Aquilino Ribeiro, composto na fase inicial do conflito, em Paris, onde o autor então residia.

Um retrato pessoal e íntimo de Aquilino Ribeiro sobre um dos mais importantes acontecimentos da História mundial recente, com a qual a Bertrand dá continuidade à publicação das obras do grande escritor português. O livro integra também um conjunto de edições através do qual a Bertrand revisita a Primeira Guerra Mundial e o contexto em que a mesma se desenrolou.

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