O “fardo perdido do homem branco”, por Viriato-Soromenho Marques, in DN 12-10-2024

Quando em 1898, R. Kipling publicou o seu famoso poema – The White Man’s burden – exaltando a anexação colonial das Filipinas pelos EUA, a autoconfiança imperial do Ocidente estava no seu auge.

Pelo contrário, a atual deriva de Washington, enredada na perigosa teia de guerras que julgava poder controlar – na Europa e Médio Oriente –, reconduz-nos ao tema, também vetusto, do declínio do Ocidente. Mesmo antes de, após o fim da guerra-fria, a hegemonia unipolar dos EUA ter iniciado o seu errático trajeto de intervencionismo bélico e incompetência estratégica, que nos conduziu à beira do abismo onde nos encontramos hoje, vozes sensatas, como a de Samuel Huntington, denunciavam o perigo da hubris norte-americana e ocidental, dessa arrogância de tentar impor uma cultura unidimensional a um mundo com múltiplas vozes e civilizações.

Em 1996, aconselhava Huntington: “Uma postura prudente para o Ocidente seria não tentar suster a deslocação do poder, mas aprender a navegar em baixios, a suportar tormentas, a moderar as apostas e a preservar a sua cultura”.

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