Aprender com as artes, por Guilherme d’Oliveira Martins, in DN, 04-03-2025

Dedico esta crónica a Maria Luísa Guerra, minha Mestra, sempre.

António Carlos Cortez acaba de publicar uma antologia intitulada Artes e Educação, na qual diversos autores portugueses escrevem sobre a importância da dimensão criadora na Educação. Estamos no coração da aprendizagem, e a referência às Artes não se reporta a um aspeto marginal na vida da Escola e da educação, mas à procura de uma formação capaz de promover a cidadania ativa, responsável e competente. Carlos Fiolhais recorda Rómulo de Carvalho, professor, cientista e poeta, quando afirmava que o artista e o cientista “desempenham na sociedade o mesmo papel de construtores, de descobridores, de definidores: um do mundo de dentro, outro, do mundo de fora. (…). E que ambos esses mundos exigem a permanente busca, a orientada investigação que em nossos dias, é considerada apenas apanágio da ciência”.

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O declínio dos impérios, por Guilherme d’Oliveira Martins, 04-02-2025 in DN

Mario Draghi, perante o Conselho de Estado português, recusou que o aumento da despesa no setor da Defesa dos países europeus se faça à custa da retirada de fundos ao Estado Social. Aliás, quem tenha lido com atenção o relatório que subscreveu, certamente chegou a essa conclusão sem grande esforço. Trata-se, sim, de dar atenção aos setores cruciais que contribuam para o aumento da produtividade, como o tecnológico e o energético, bem como para a segurança europeia nos setores da Defesa e do Espaço. Para tanto, importa mobilizar capitais públicos e privados, com um planeamento estratégico atuante, para contrariar o declínio.

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Notícias do paraíso, por Guilherme d’Oliveira Martins, 21-01-2025, in DN

David Lodge (1935-2025) foi um mestre do romance satírico britânico e a sua obra encerra uma análise plena de ironia da sociedade em que vivemos, desmascarando a vaidade, a hipocrisia e a mesquinhez que a cada passo encontramos. Discípulo de Jonathan Swift ou de Henry Fielding, seguiu as pisadas de Evelyn Waugh, de Graham Greene ou até de Chesterton, fazendo chegar até nós o saudável espírito de um cristão inconformista, empenhado em distinguir o essencial e o acessório, pondo em primeiro lugar o sentido crítico e o respeito mútuo.

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Economia Humana, por Guilherme d’Oliveira Martins, in Diário de Notícias, 28-05-2024

Foi Eduard Bernstein (1850-1932) quem melhor leu criticamente a obra de Karl Marx, uma vez que acompanhou diretamente o percurso intelectual do autor alemão, sendo também muito próximo de Friedrich Engels, de quem, aliás, foi testamenteiro. Estudioso dos economistas marginalistas, demonstrou com clareza as limitações da conceção de David Ricardo sobre o valor dos bens, corrigindo a dialética de Hegel, com recusa do determinismo e da ideia do capitalismo como fase transitória, antes de um final comunista. Por outro lado, libertou-se do utopismo de Saint Simon, com a distinção de ociosos e laboriosos, pondo a tónica na afirmação essencial do movimento e não do objetivo. Ou seja, o fundamental seria a ideia de reforma gradual associada ao respeito pela liberdade expressa na legitimidade do voto dos cidadãos e na mediação das instituições.

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