Comunicação social e poder político

kjhhTenho, como se sabe, há muito uma vi­são crítica da comunicação social e da sua relação com o poder. Essa relação é bipolar: incorpora com facilidade a lin­guagem do poder e assume-se retoricamente como contrapoder. Nenhuma das duas atitudes é particularmente saudá­vel para aquela que deve ser a sua função essencial, que, por bizarro que pareça, tem de ser lembrada: informar-nos. Não é educar-nos, nem industriar-nos, nem mobilizar-nos, nem recrutar-nos. É in­formar-nos e, se o fizer com eficácia, tudo o resto vem daí.

Por isso, os moods da comunicação so­cial são particularmente perversos nes­tes dias, tão próximos que estão da lin­guagem do poder. Os jornalistas podem pensar que fazem muitos estragos com as denúncias dos governantes-swap, e que com isso cumprem a sua função. Mas o pior é o resto, o quase tudo do dia-a-dia, as background assumptions do que “escrevem”, o seu discurso. Por exem­plo: alguém me pode explicar por que razão a diminuição do IRC para as em­presas é “positiva” e saudada com parangonas e o corte retrospectivo das pen­sões de reforma não é “negativo” (quan­do não é apresentado como “positivo” no mambo jambo da “reforma do Esta­do”)? Como se dizia nos reclames do res­taurador Olex, um “preto com cabelo louro ou um branco com carapinha” não é “natural”.

O que se passa é que os jornalistas, muitos deles, aceitam como “natural” o discurso do poder, e tendem a repeti-lo sem o questionar. Interiorizaram uma visão ideológica da realidade e a sua “inevitabilidade” e, como não são os alvos de muitas das medidas contra a função pública e os reformados, são in­diferentes a essas pessoas. E fazem os seus títulos, escrevem os seus edito­riais, constroem as suas notícias em fun­ção disso.

José Pacheco Pereira
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