O 18º. PACOTE DE SANÇÕES DA UE … mais um passo para o abismo?, por João Gomes.

A União Europeia acaba de aprovar o seu 18.º pacote de sanções contra a Rússia, apresentado como “um dos mais duros até agora”. Contudo, longe de representar um avanço para a resolução do conflito, esta nova medida levanta sérias dúvidas quanto à sua eficácia, intenção real e consequências globais – não apenas para a Rússia, mas para o próprio bloco europeu e para o futuro das relações internacionais.

A ausência de diplomacia e o esquecimento de Minsk

Desde o início do conflito em 2022, a UE tem adotado uma linha rígida e exclusivamente punitiva, alheando-se de qualquer papel diplomático autónomo ou de mediação real. Ignora-se, nas narrativas institucionais e mediáticas, que o conflito não começou em 2022, mas tem raízes claras no fracasso do cumprimento dos Acordos de Minsk – assinados com o objetivo de dar autonomia às regiões do Donbass dentro de uma Ucrânia unificada.

A própria ex-chanceler alemã Angela Merkel reconheceu que os acordos serviram para “dar tempo à Ucrânia” para se fortalecer militarmente – uma afirmação que descredibiliza por completo a sua natureza diplomática e lança sérias questões sobre a boa-fé das partes envolvidas.

A NATO, a geoestratégia e o cerco à Rússia

Paralelamente, o avanço da NATO para leste – algo que Moscovo sempre viu como ameaça existencial – foi progressivo e constante, apesar de promessas políticas feitas no pós-Guerra Fria de que a aliança não se expandiria para além da Alemanha unificada. Este avanço, conjugado com a crescente militarização da Ucrânia sob patrocínio ocidental, alimentou as percepções de Moscovo de que o Ocidente procurava desestabilizar a sua esfera de influência.

Mais do que proteger a Ucrânia, a estratégia ocidental visa diretamente o enfraquecimento económico e geopolítico da Rússia, criando as condições para isolar simultaneamente a China e reconfigurar a ordem global – um movimento arriscado e de consequências imprevisíveis.

Sanções: símbolo de força ou fragilidade estratégica?

Este novo pacote inclui a limitação ao financiamento de bancos russos, a tentativa de banimento dos gasodutos Nord Stream, o bloqueio à exportação de tecnologia usada em drones, a penalização da Rosneft na Índia e até o sancionamento de indivíduos envolvidos na “doutrinação de crianças ucranianas” – num gesto que mistura o económico com o simbólico.

Mas a pergunta-chave permanece: vai isto parar a guerra ou aproximar a paz? Provavelmente, não. A Rússia adaptou-se a mais de dois anos de sanções com:

– desvio do comércio energético para Índia e China;

– reforço da indústria militar;

– substituição tecnológica gradual;

– e crescente integração com os BRICS e parceiros não alinhados, que se mantêm alheios às medidas ocidentais.

A tentativa de atingir instituições financeiras chinesas ou estruturas económicas internacionais associadas à Rússia pode ter o efeito oposto ao pretendido: reforçar alianças alternativas, acelerar a desdolarização da economia global e criar blocos estanques que rejeitam o diálogo.

Fechar o mundo à paz, abrir a porta à escalada

Ao persistir numa política de sanções sem abertura a qualquer canal diplomático real, a UE arrisca-se a tornar-se um ator secundário numa guerra que não pode vencer economicamente nem sustentar politicamente a longo prazo. O seu envolvimento está a alimentar uma nova bipolarização mundial: entre o Ocidente político-militar e um eixo euroasiático em expansão.

Sem mediação, sem diplomacia e sem reconhecer as causas profundas do conflito, o mundo caminha para um conflito prolongado, com risco real de escalada regional e até global. O fecho do diálogo transforma as sanções em instrumentos de prolongamento do conflito, não de resolução.

O impacto na economia europeia

Enquanto isso, a economia europeia sofre danos colaterais diretos:

– preços energéticos ainda elevados;

– desindustrialização crescente, especialmente na Alemanha;

– aumento da dependência dos EUA em setores como energia e defesa;

– inflação estrutural alimentada por rupturas nas cadeias de abastecimento;

– e desgaste político interno, com crescimento de forças populistas e eurocéticas.

O 18.º pacote de sanções pode parecer mais uma demonstração de força, mas é, na prática, um reflexo da ausência de estratégia diplomática da UE. Longe de enfraquecer rapidamente a Rússia, estas medidas arriscam reforçar o eixo alternativo BRICS, agravar a crise económica europeia, e fechar definitivamente a janela para a paz. Ao escolher a punição sobre a negociação, Bruxelas compromete o seu papel histórico como promotor de estabilidade e diálogo, e arrasta o continente para um conflito que não pode controlar – e talvez nem compreender na sua totalidade.

João Gomes, 17 Julho 2025

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