A Rapariga Alta | Manuel S. Fonseca

Publicada há uma semana no Weekend (Jornal de Negócios) aqui está uma crónica que é uma sentida homenagem a raparigas altas.

A Rapariga Alta

Não se deixem enganar. No mais recatado, sóbrio e sereno dos seres humanos pode esconder-se um vulcão fremente, labaredas e lava incandescente.
Vejam o poeta T. S. Eliot. Epítome da modernidade, era um verde vale de conservadorismo, quase timidez, vestido com a elegância de um fatinho de quatro peças, como o descrevia Virginia Wolf: chapéu redondo, abotoadíssimos casaco, colete e calças.


O erotismo era um cavalo alado que jamais pensaria visitá-lo. Eliot casara virgem e tão mal, com Vivienne Haigh-Wood, que não só a noite de núpcias, conta a lenda, foi dormida num cadeirão do convés do barco da lua de mel, como depois, em 1928, convertido ao anglicanismo, essa forma pela qual os ingleses nacionalizaram o catolicismo, o poeta fez voto de castidade.
Vivienne não escondeu sequer a infidelidade ao poeta de «Waste Land». Bertrand Russell era visita da casa e, no que filosoficamente entendia como uma contribuição para a terapia do casal, proporcionava penetrantes favores à dama com que Eliot não tinha, lá por baixo, a mínima química.

Continuar a ler