Afectos | Inês Salvador

Ines Salvador -200É uma tristeza das maiores o embaraço português em dizer “amo”, “amo-te”. Gosto, gosto muito, adoro, mas amo, ’tá quieto. Até os emoticons aqui no facebook traduzem o coração para “adoro” e não para “amo”, como devia ser. É que amar é perfeito, mas adorar, às vezes, é um bocado parvo. Até a tuguice mais recente, supostamente mais evoluída, mantém este pudor patético de quem não aprendeu a ser feliz, de quem sente culpa na felicidade. E então disfarçar-se o amo-te com um love you, ou pior, luv u e vai de volta um luv u 2. Chega o pudor ao beijo que vai em kiss ou que se repenica com duas letras e toma lá um bj e não digas que vais daqui. E depois não querem falar de afectos, porque é piroso e tal… Também não querem porque não sabem, atrapalham-se, seca-se-lhes a boca, ruborizam, contorna-se com um luv u e está despachado. Deve-se isto a quê? Será a pesada matriz católica, a poeira dos pudores salazarengos que ainda acinzenta os dias? Falta de literatura? Tudo junto e de tudo um pouco? É que não vejo que adorar dê grande entusiasmo a alguém. Adorar diz-se sem culpa ou consequência, é também por isso que é tão fácil de dizer. Adoro-te! Também te adoro, até amanhã! Pois parece-me que isto deve ser retificado e a assertividade das palavras deve ser encontrada. Amar quando se ama e não ter medo de dar beijos. É que quem dá bjs é bjs que recebe de volta e ficam todos mal servidos. É uma espécie de pobreza, chega mesmo a ser uma miséria não conseguir dizer “Amo-te”.

Retirado do Facebook | Mural de Inês Salvador

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