“Viver com Trump”, Francisco Seixas da Costa, in blog “duas ou três coisas”, 24-01-2025

Trump tem fortes razões para estar orgulhoso. E isso ficou claro no seu discurso de posse. Regressar ao poder, com a forte legitimidade eleitoral que conseguiu arregimentar, com confortável base legislativa e judicial, deve dar uma muito agradável sensação de poder. Um poder que recuperou depois de ter descido aos infernos, com uma derrota eleitoral sofrida mas nunca aceite, com processos judiciais cumulativos e humilhantes, depois de ter sido exposto como cúmplice de uma agressão constitucional sem precedentes ao Capitólio. Capitólio esse onde agora reentra pela porta principal, sob o olhar impotente dos seus inimigos, com esse passado conflitual recente colocado entre parêntesis. Como vingança, reconheça-se, Trump não poderia ter desejado mais e melhor.

https://duas-ou-tres.blogspot.com/2025/01/viver-com-trump.html

OUTRA ESQUERDA E OUTRA DIREITA, por Joseph Praetorius, in Facebook, 23-01-2025

A ponderação da evolução política alemã, não dispensa a análise das presenças de Sahra Wagenknecht e Alice Weidel.

A primeira, oferece um percurso consistente desde a sua militância comunista na Alemanha Oriental, tendo seguido todas as transformações do partido, até à ruptura, consumada com a fundação do seu próprio partido, agora com a singularidade de trazer o seu nome.

No outro lado do leque político, Alice Weidel da AfD é outra figura interessante, por motivos diversos. Fez doutoramento em Economia e pretende também a recuperação dos fornecimentos russos de energia, como o pretenderá quem quer que não seja lunático.  

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Trump deu uma “mão decisiva”. Biden parece “fora de tempo”. Mas houve uma colaboração “sem precedentes” no cessar-fogo no Médio Oriente, in CNN Portugal, 18-01-2025

No dia em que se celebrava aquele que pode ser o início do fim da guerra entre Israel e o Hamas, uma outra guerra surgia, desta vez nos Estados Unidos da América (EUA) mas, neste caso, uma guerra de palavras. Os protagonistas são o atual e o futuro presidente norte-americano, Joe Biden e Donald Trump. Em causa está quem foi mais decisivo para o acordo de cessar-fogo no Médio Oriente.

“Temos um acordo para os reféns no Médio Oriente. Vão ser libertados em breve. Obrigado!”, escrevia Donald Trump na sua rede social, a Truth Social, mesmo antes do ainda presidente dos EUA anunciar o plano de paz. O presidente eleito não perdeu tempo a agradecer a todos, afirmando que este resultado só foi alcançado graças aos resultados “históricos” das presidenciais de novembro de 2024, que lhe permitiram regressar à Casa Branca. 

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Eleições presidenciais 2026 (6): “Estrada real” para o Almirante?, por Vital Moreira, 17-01-2025

1. A clara liderança do Almirante Gouveia e Melo nas sondagens de opinião nesta fase preparatória das eleições presidenciais, a realizar daqui a um ano, tem a ver não somente com o seu brilhante desempenho à frente da missão anti-Covid e o assertivo comando da Marinha, mas também por ser militar e, nessa qualidade, ser percebido pela opinião pública como o contrário de Marcelo de Rebelo de Sousa em três aspetos onde este falhou: 

– voltar a conferir ao cargo presidencial a elevação, a discrição e o recato institucional, que MRS deliberadamente desbaratou;
– dar garantias de exigente independência partidária e equidade política no exercício do cargo, o que MRS descuidou em alguns momentos críticos;
– respeitar o perfil constitucional do Presidente como “poder moderador” e a autonomia política do Governo, sem pretender ser cotitutlar da função governativa, como foi a tentação de MRS.

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Trump, o clarificador, por Viriato Soromenho-Marques, in DN, 17-01-2024

As palavras de Trump sobre uma eventual expansão dos EUA, por compra ou imposição, para o Canadá, Gronelândia e Panamá, causaram sobressalto na UE. A maioria dos analistas europeus de geopolítica assemelha-se àqueles estudantes de Medicina que não suportam a visão de sangue…

Não há impérios benignos. Trump não rompe com a vontade de hegemonia norte-americana, antes lhe pretende determinar um novo e não menos arriscado caminho. Assume o saldo desastroso de quase três décadas de deriva intervencionista de Washington, sob o mito de um “mundo regido por regras” (impostas pelos EUA, sem a elas se sujeitarem). Um caminho que colocou os EUA num distante segundo lugar como potência industrial, provocando um imenso caudal de guerras e sofrimentos que nos trouxeram à beira da III Guerra Mundial.

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Imigração: desenvenenar o debate e fazer bem feito, Carta semanal de Rui Tavares, 17 de janeiro de 2024

Se a imigração é um facto relevante na nossa vida atual, a verdadeira questão não é se ela existe ou não: é se as políticas públicas ligadas à imigração estão bem feitas ou mal feitas.

Na verdade, nenhum partido, nem sequer a extrema-direita, nega que Portugal precise de imigrantes. E o facto essencial é este mesmo: sendo pessoas, os imigrantes não são anjos nem demónios, não são autómatos que vêm trabalhar e se desligam depois, não praticam só o bem, não praticam só o mal. É envenenar o debate pretender reduzi-los, ou então associá-los obsessivamente, a uma pretensa ligação com a criminalidade, que nenhum dado comprova, e que vários aliás refutam.

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Planos de expansão: EUA consideram invadir o México? | História de thedailydigest.com

Trump quer expandir os EUA | A política externa do presidente Donald Trump segue envolta em mistério, gerando preocupações com suas recentes declarações.

Trump mencionou a possibilidade de intervenção dos EUA no México e chegou a sugerir a anexação de territórios como a Groenlândia ou até o Canadá.

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Perguntas sobre o Natal. 1 | Anselmo Borges, in DN, 03-01-2025

Já estamos no ano de 2025 em todas as partes do mundo – desejo a todos um 2025 com saúde, paz, boas realizações… -, mas quantos tomaram consciência de que a data se refere ao nascimento de Jesus?

Precisamente por causa do Natal, muitas pessoas vêm ao meu encontro com perguntas, e nesta e na próxima crónica tentarei dar respostas ainda que breves, por vezes até com algumas repetições.

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2025: Ano da Clarificação, José Luís Carneiro, in DN, 01-01-2025


Entramos hoje no ano de 2025. Na equipa do DN, saúdo todos os jornalistas enquanto esteios vitais da nossa vida democrática. Por força de muitos dos acontecimentos vivenciados nos últimos anos, 2025 pode ser decisivo na definição da futura ordem internacional, quer no plano político, quer no plano económico. E no plano interno, também haverá clarificação política.

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Com a esperança certa, um Ano Novo melhor, por João Oliveira, 28-12-2024, in DN

Quero despedir-me do ano velho e apontar a perspectiva de um Ano Novo melhor. Mas quero fazê-lo com o sentido real da esperança que brota das circunstâncias em que transformamos a realidade que vivemos.

Escolho despedir-me de 2024 e encarar 2025 com a referência do 50.º aniversário da revolução do 25 de Abril e com a experiência das suas profundas transformações sociais, económicas, culturais e políticas.

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Economia de guerra? Quem lucra e quem perde?, por Carlos Matos Gomes, 26-12-2024

Economia de guerra. A partir do momento em que os políticos europeus e americanos deixaram de poder vender aos seus cidadãos a promessa de vitória sobre a Rússia na guerra da Ucrânia, o seu discurso passou a focar-se nas vantagens económicas da guerra. O governo português alinhou pelo discurso comum, um Âmen que também é comum.

A alteração do discurso da vitória, agora com o foco nas vantagens e oportunidades da guerra, deve-se à já indisfarçável crise da economia europeia. A dos Estados Unidos é outra história.

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Jesus, figura determinante, por Anselmo Borges, 22-12-2024, in DN

Numa troca célebre de cartas entre o cardeal Carlo Martini, arcebispo de Milão, aquele que afirmou que a Igreja anda atrasada pelo menos 200 anos, e o agnóstico Umberto Eco, publicadas com o título “Em que crê quem não crê”, este escreveu: Mesmo que Cristo fosse apenas o tema de um grande conto, “o facto de esse conto ter podido ser imaginado e querido por bípedes implumes, que só sabem que não sabem, seria miraculoso (miraculosamente misterioso)”. O Homem teve, a dada altura, “a força religiosa, moral e poética, de conceber o modelo de Cristo, do amor universal, do perdão aos inimigos, da vida oferecida em holocausto pela salvação dos outros. Se fosse um viajante proveniente de galáxias longínquas e me encontrasse com uma espécie que soube propor-se este modelo, admiraria, subjugado, tanta energia teogónica, e julgaria esta espécie miserável e infame, que cometeu tantos horrores, redimida pelo simples facto de ter conseguido desejar e crer que tudo isto é a Verdade”.

Ouço falar no Natal pelo menos desde Agosto. Parece impossível, porque só se pensa em compras, esquecendo o essencial, que é o nascimento de Jesus. Não quereria ser tão pessimista, mas é possível que o famoso teólogo José I. González Faus tenha razão: “O que se celebra hoje no Ocidente a cada 25 de Dezembro é o nascimento do messias Consumo, filho único do deus Dinheiro. O que os cristãos celebramos no Natal é o nascimento de um Messias ‘pobre e humilde’, filho único do Deus Amor. Ambos são absolutamente incompatíveis.”

Evidentemente, o Natal implica festa e alegria, o Natal é talvez a grande festa da família, mas não se pode esquecer o essencial, determinante. Seria uma perda incomensurável ignorar ou esquecer que o Natal está vinculado ao nascimento de Jesus. Ele representa, na História, a maior revolução, como reconheceram grandes pensadores como Hegel, Ernst Bloch, Jürgen Habermas… Foi através dele que soubemos da dignidade inviolável de cada pessoa. Jesus revelou que Deus é bom, Pai/ Mãe de todos os homens e mulheres e quer a alegria, a felicidade, a realização plena de todos como seus filhos e filhas, a começar pelos mais frágeis e abandonados. É aqui que assenta, em última análise, a fraternidade humana.

Jesus Cristo é figura “decisiva, determinante” da História da Humanidade. Quem o disse foi um dos grandes filósofos do século XX, Karl Jaspers. Hegel afirmou que foi pelo cristianismo que se tomou consciência de que todos são livres. Ernst Bloch, o ateu religioso, escreveu que é ao cristianismo que se deve que nenhum ser humano pode ser tratado como “gado”. Jürgen Habermas, o maior filósofo felizmente ainda vivo, da Escola Crítica de Frankfurt, agnóstico, afirma que a democracia, com “um homem, um voto”, é a transposição para a política da afirmação cristã de que Deus se relaciona pessoalmente com cada homem e cada mulher. Frederico Lourenço, o grande especialista em literatura clássica e bíblica, agnóstico, escreve: “Não tenho nenhum problema em afirmar que, pessoalmente, considero Jesus de Nazaré a figura mais admirável de toda a História da Humanidade.” Jesus foi “o homem mais extraordinário que alguma vez viveu.”

Mahatma Gandhi deixou estas palavras: Jesus “foi um dos maiores mestres da Humanidade. Não sei de ninguém que tenha feito mais pela Humanidade do que Jesus.” Mas acrescentou: “O problema está em vós, os cristãos, pois não viveis em conformidade com o que ensinais.”
Bom Natal!


Escreve de acordo com a antiga ortografia 

Yanis Varoufakis: DiEM25 had predicted Europe’s decline by 2025. Plus what we must do next, 23-12-2024

23/12/2024 | In this powerful New Year message, DiEM25 co-founder Yanis Varoufakis reflects on Europe’s precarious future as it approaches 2025—the year DiEM25 warned would determine whether the European Union would democratise or collapse.

Yanis Varoufakis critiques the EU’s failure to address the root causes of Europe’s crises, from enduring austerity and technological stagnation to the rise of xenophobia and fascism. He calls out the EU’s political elites for their obsession with military spending while ignoring urgent issues like the war in Ukraine and the genocide in Gaza.

Yanis Varoufakis ends by laying out a vision for a different Europe—one that prioritises peace, human rights, economic democracy, and a universal basic income. With democracy under threat and Europe facing a slide into a dystopian future (more so than our present), he urges everyone to join DiEM25 in demanding real change before it’s too late.

No labirinto do “governo invisível”, por Viriato Soromenho-Marques, 21-12-2024, in DN

O resto foi explicado por Hannah Arendt, num artigo de 1967, “Verdade e Política”: os interesses instalados criaram uma indústria de “mentira organizada”.

O turbilhão de acontecimentos que atinge a Europa é deliberadamente ilegível, tal a intensidade de narrativas fabricadas, encarniçadas contra a debilidade da verdade material. Querer substituir a dureza dos factos pelas opiniões convenientes, é receita certa para o desastre. Tentemos, pelo menos, entender o essencial.

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Mãos ao alto pelo Natal (parte de uma quadra inventada), por João Oliveira, 21-12-2024, in DN

Convencera o filho de que a vida seria melhor. Mudariam de país e deixariam tudo o que conheciam, mas teriam uma vida nova que lhes daria aquilo que, de outra forma, seria impossível ter.
Revelou-se mais difícil do que pensava. Trabalhava sem descanso e tentava enxertar no horário o tratamento da burocracia que ainda restava por resolver. Pensava no filho, nas promessas que lhe fizera e na alegria que lhe via agora nos olhos. Lá continuava a insistir em organizar a vida.

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Soares e o novo rapto da Europa, por Viriato Soromenho-Marques, in DN, 08-12-2024

Imagino muitas vezes o que Mário Soares pensaria sobre este tempo que nos é dado viver, aparentemente contrário a toda a esperança. Um século depois do seu nascimento, reaprendemos como todas as vidas são incompletas, pois finita é a condição humana, mesmo quando o sonho é grandioso.

Tive oportunidade de testemunhar, o modo como o seu caráter se manteve intacto, apesar da metamorfose do mundo decorrer na direção oposta ao que ele, como socialista e estadista, sempre desejou. Soares possuía as três qualidades fundamentais que Max Weber identificava na vocação política: “paixão, sentido da responsabilidade e capacidade de avaliação”. Mas a dominante era a primeira, a paixão, essa força singular de, mesmo mergulhado em perigosa incerteza, soltar aquele “no entanto!”, começando logo a antecipar uma possibilidade de mudança positiva, em sinais, para os outros, quase invisíveis.

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O negócio da guerra a criar excêntricos todos os dias, por João Oliveira, in DN, 07-12-2024

O secretário-geral da NATO, Mark Rutte, sugeriu o uso de uma fracção dos gastos na Saúde e nas Pensões para o orçamento da Defesa.

Isto não é uma gaffe. O  que foi sugerido foi mesmo o sacrifício das verbas destinadas à Saúde ou às Pensões para aumentar os montantes destinados às despesas militares. E ainda acrescentou que os governos terão de dar explicações se não fizerem tal opção.

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Mário Soares — o extraordinário político prático, por Carlos Matos Gomes, 06-12-2024

Mário Soares desempenhou um papel decisivo na política portuguesa da segunda metade do século XX. Por formação, cultura, carisma, senso, interveio na definição do regime em que vivemos. Desempenhou o papel que escolheu desempenhar e essa é uma demonstração da sua personalidade, apenas está ao alcance dos talentosos. Demonstrou uma qualidade pouco comum: o da coragem histórica. É uma das grandes figuras da nossa História sem ser, nem ter querido ser santo ou herói.  

Um provérbio africano ensina que a cabra come onde está amarrada. A transposição desta sabedoria para a grande política tomou o nome de realpolitik. Que é uma outra forma de designar o pragmatismo.

Mário Soares é o exemplar mais sofisticado do político português pragmático, juntamente com Melo Antunes e o processo político português a partir de 25 de Abril de 1974 desenrolou-se subordinado ao pragmatismo, ao anti-idealismo desses dois homens que perceberam onde a “cabra” estava amarrada, onde tinha que comer e viver e da cerca de onde não podia sair. Ou, na afirmação de Gil Vicente na Farsa de Inês Pereira, representada pela primeira vez no Convento de Cristo em Tomar: Antes quero asno que me leve do que cavalo que me derrube.

Ao ver chegar o 25 de Abril de 1974, Mário Soares, que recebera a herança política da República e vivera as tensões da política do Estado Novo na Guerra Civil de Espanha, da tensão entre as fações pró-Aliados e pró-Eixo na Segunda Guerra, os jogos que levaram os Aliados a preferirem manter Salazar e a ditadura no governo em vez do risco de um regime mais ou menos democrático trazer comunistas para a zona do poder, que assistira à troca dos Açores pela entrada na NATO; o apoio dos Estados Unidos pós Kennedy à guerra colonial, não tinha dúvidas que o novo regime e os novos políticos iriam ser sujeitos a um exame de admissão a um clube reservado a sócios credenciados.

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A Índia e a China à margem da conferência dos BRICS, por Carlos Matos Gomes

Um artigo do jornalista António Caeiro, correspondente da Lusa durante longos anos em Pequim, «China — Índia, a hora do degelo», refere o “pormenor” de, pela primeira vez em cinco anos, os líderes da China e da Índia se terem encontrado e que esse encontro ocorreu em Kazan, na Rússia, enterrando o machado de guerra que ensombrava as relações entre os dois países mais populosos do planeta.

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Novembro, in Mural de “Francisco Seixas da Costa”/Facebook, 16 Novembro 2024

Rodrigo de Sousa e Castro, subscritor do Documento dos Nove, foi um dos “vencedores” do 25 de novembro, tal como Vasco Lourenço, presidente da “Associação 25 de Abril”, organização que não vai estar presente na cerimónia que a Assembleia da República vai fazer no próximo dia 25.

Com a indiscutível autoridade que a sua posição em 1975 lhe concede, escreveu no Twitter esta síntese brilhante, que vale a pena ler :

“O VI governo, que vigorou antes (desde setembro de 1975) e após o 25 de novembro até ao I governo constitucional (julho de 1976), tinha elementos do PS, PPD/PSD e PCP e ainda militares e independentes. 

A Constituinte manteve-se exactamente na mesma, antes e depois do 25N. 

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O livro de poemas ALUCILÂMNAS que referencia Sylvia Plath, de Silas Corrêa Leite, premiado na UBE-União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro

“Temo somente uma coisa, não ser digno do meu tormento.” Fiódor Dostoiévski/Eu pertenço a momentos rápidos e fúteis de sentimentos intensos. Sim, pertenço a momentos. Não para as pessoas. Virgínia Woolf./Não me pergunte quem sou e não me diga para permanecer o mesmo. Michel Foucault./

A sede da UBE-RJ a cada dois anos escolhe livros de qualidade técnico-editorial de renome para serem premiados, em confraternização que acontece na cidade maravilhosa. Entre os escolhidos para o biênio 2023/2024 está o livro ALUCILMNAS de Silas Correa Leite, que evoca, homenageia, referencia e reverbera e em tese continua a singular e portentosa obra da poeta norte-americana Sylvia Plath.

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Germany’s Scholz urges Putin to end Ukraine war during first call in 2 years, in “politico.eu”

November 15, 2024 3:54 pm CET | By Nette Nöstlinger and Veronika Melkozerova

Volodymyr Zelenskyy had warned the German chancellor that engaging with Russia’s president could be counterproductive, an official in Kyiv told POLITICO.

BERLIN — German Chancellor Olaf Scholz urged Russian President Vladimir Putin in a conversation Friday to “end” his war on Ukraine and to “withdraw troops.”

The conversation, which took place over the phone, lasted for about an hour and constituted the first direct exchange between the two leaders in nearly two years, according to German media reports.

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Associação 25 de Abril recusa convite para sessão solene do 25 de Novembro, por José Pedro Santos, in LUSA, 15-11-2024

Lisboa, 15 nov 2024 (Lusa) – A Associação 25 de Abril recusou o convite do presidente da Assembleia da República para assistir à sessão comemorativa do 25 de Novembro no parlamento por considerar que representa uma “clara deturpação dos acontecimentos vividos” na caminhada do MFA.

“A História não pode ser deturpada. Nós, os principais responsáveis pela consumação do 25 de Abril, com a aprovação da Constituição da República, não o permitiremos!”, salienta-se numa nota da Associação 25 de Abril, com data de quinta-feira, assinada pelo seu presidente, Vasco Lourenço.

Para a associação, a decisão dos deputados de comemorar apenas o 25 de Novembro, além da Revolução dos Cravos, “provoca uma enorme e clara deturpação dos acontecimentos vividos na caminhada para o cumprimento do Programa do MFA”.

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Entre a mentira e o logro, por Carlos Matos Gomes

Uma eleição livre e justa é possível num regime de mentira e de canalhas, de pós-verdade?

Nós, a multidão, passámos estes últimos anos a ser bombardeados com um novo léxico político: “desinformação”, “fakenews”, “nova normalidade”, “intrusão”.

A relação dos seres gregários funda-se na confiança. É assim num formigueiro, numa colmeia, numa alcateia, numa tribo, numa formação militar, num gangue. Na constituição de equipas para operações especiais uma das perguntas aos candidatos era: quem escolhias para te acompanhar na travessia de um rio perigoso? Isto é, em quem confias.

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A convergência em alternativa ao ódio, por João Oliveira, in DN, 03-11-2024

O discurso que procura virar portugueses contra imigrantes, incitando ao ódio e ao conflito social entre quem partilha, no dia a dia, dificuldades semelhantes, não é um discurso inocente. É o discurso de quem procura impedir a convergência que pode ser construída a partir de soluções comuns para problemas também eles comuns.

Vias seguras e legais para as migrações. Rejeição das discriminações e combate à instrumentalização das migrações pelos grandes interesses económicos. Investimento em condições adequadas de integração social. Respeito pelos direitos sociais e laborais como direitos universais.

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O futuro seria uma boa ideia, por Viriato Soromenho-Marques, in DN, 03-11-2024

O desfecho das eleições nos EUA não irá alterar a colisão das nações do Atlântico Norte com a dureza do destino esculpido pelos seus próprios erros. Em 30 anos, Washington protagonizou todos os pesadelos que as suas maiores figuras históricas consideravam fundamental evitar. Contra os autores de O Federalista (1788) – um dos 10 livros obrigatórios de filosofia política do Ocidente -, a categoria republicana da representação parlamentar, que deveria ser preenchida por um escol, eleito na base da honra e do intelecto, está hoje entregue a gente que faz do Congresso um lugar onde as leis são compradas e vendidas (John Rawls dixit).

Contra F. D. Roosevelt (presidente entre 1933 e 1945), voz infatigável a favor da justiça económica e social como escudo contra o risco de fascismo (que ele temia em caso de regresso à concentração capitalista anterior ao crash de 1929), hoje, nos EUA campeia uma plutocracia obscena que tudo controla, desde a comunicação social ao sistema político, incluindo as eleições (veja-se como Kamala e Trump se encostam ao apoio dos bilionários).

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A Índia e a China à margem da conferência dos BRICS, por Carlos Matos Gomes, 26-10-24

Um artigo do jornalista António Caeiro, correspondente da Lusa durante longos anos em Pequim, «China — Índia, a hora do degelo», refere o “pormenor” de, pela primeira vez em cinco anos, os líderes da China e da Índia se terem encontrado e que esse encontro ocorreu em Kazan, na Rússia, enterrando o machado de guerra que ensombrava as relações entre os dois países mais populosos do planeta.

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A cultura da vitória e da violência é uma faca de dois gumes — lições d’ Os Lusíadas, por Carlos Matos Gomes

A propósito da guerra na Ucrânia, numa entrevista recente, Sergei Lavrov, o ministro dos negócios estrangeiros russo, afirmou que ela apenas poderá terminar com a vitória da Rússia, porque vitória e derrota são as únicas linguagens que o Ocidente entende.

Independentemente do que cada um possa pensar sobre as causas do conflito e das justificações dos contendores, a vitória com esmagamento do adversário é a doutrina da Europa e do Ocidente desde que a Europa iniciou a sua expansão no século XV.

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Venham daí fazer uma sesta. Comigo? Não, com Brigitte Bardot, por Manuel S. Fonseca. Publicado no Weekend, Jornal de Negócios

ESTÁ DEITADA E NUA

Levantei-me agora da cama – sesta das três da tarde de fim de semana – e, se me deitara a não pensar em coisa nenhuma, levantei-me a pensar na nudez. Já de pé, saiu-me esta conclusão tão trivial como todas as que nascem de uma sesta de fim de semana: há uma dissimulada diferença entre a nudez americana e a nudez europeia. 

Lembro-me, em Los Angeles, eram 10 da noite, ou talvez fossem já umas tardias 11, estávamos todos vestidos, numa bebida pós-prandial, a música techno a acariciar a azulíssima piscina do Chateau Marmont, e uma mulher deixou cair o alvo roupão aos pés. Estava nua, mergulhou na transparência azul, e a sua nudez nadou uns bons inefáveis minutos. Mulheres e homens à volta tragaram o seu espanto com a displicência de quem bebe a última gota de uísque. A mulher nua saiu das venusianas águas, logo coberta pelo roupão. Não houve um ah! de espanto aos seus seios e delicada púbis, nem um sentido aplauso à nudez asséptica da jovem mulher americana.

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Kipling, o ‘Fardo do Homem Branco’ e o imperialismo americano, pelos Editores da Monthly Review | (Nov 01, 2003)

Estamos a viver um período em que a retórica do império conhece poucas limitações. Numa matéria especial sobre “A América e o império”, o número de Agosto da revista londrina Economist perguntou se os Estados Unidos estariam, na eventualidade de “mudanças de regime…efectuadas pacificamente” no Irão e na Síria, “realmente preparados para arcar com o fardo do homem branco em todo o Médio Oriente”. A resposta dada foi que isto era “improvável” — o compromisso americano para com o império não ia tão longe. O que é significativo, entretanto, é que a questão tenha chegado a ser perguntada.

O original encontra-se em http://www.monthlyreview.org/1103editors.htm .
Tradução de JF.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info

O “fardo perdido do homem branco”, por Viriato-Soromenho Marques, in DN 12-10-2024

Quando em 1898, R. Kipling publicou o seu famoso poema – The White Man’s burden – exaltando a anexação colonial das Filipinas pelos EUA, a autoconfiança imperial do Ocidente estava no seu auge.

Pelo contrário, a atual deriva de Washington, enredada na perigosa teia de guerras que julgava poder controlar – na Europa e Médio Oriente –, reconduz-nos ao tema, também vetusto, do declínio do Ocidente. Mesmo antes de, após o fim da guerra-fria, a hegemonia unipolar dos EUA ter iniciado o seu errático trajeto de intervencionismo bélico e incompetência estratégica, que nos conduziu à beira do abismo onde nos encontramos hoje, vozes sensatas, como a de Samuel Huntington, denunciavam o perigo da hubris norte-americana e ocidental, dessa arrogância de tentar impor uma cultura unidimensional a um mundo com múltiplas vozes e civilizações.

Em 1996, aconselhava Huntington: “Uma postura prudente para o Ocidente seria não tentar suster a deslocação do poder, mas aprender a navegar em baixios, a suportar tormentas, a moderar as apostas e a preservar a sua cultura”.

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Freitas do Amaral – 5.º aniversário do seu falecimento, por Carlos Esperança, 04-10-2024

Há cinco anos faleceu Freitas do Amaral, um notável jurista e último líder dos partidos fundadores do regime democrático. Era um conservador fiel à Democracia-cristã a cujo ideário se manteve fiel. Ao contrário do CDS, era um honrado democrata a quem o seu partido maltratou.

O envio da sua fotografia do Largo do Caldas para o Largo do Rato foi o ato gratuito e acintoso do CDS para com o fundador, que nunca pactuou com a deriva reacionária dos que lhe sucederam e que levaria o PPE, de que ele foi presidente, a expulsar o CDS, que só foi reintegrado por necessidade de coligação para Durão Barroso de tornar PM.

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Vamos financiar a russofobia no OE de 2025?, por Viriato Soromenho-Marques, in DN 28-9-24

A União Europeia (UE) não cessa de mostrar sintomas da sua doença incurável. Não só as instituições existentes constituem uma imitação descolorida de um federalismo de contrafação, sem constituição, nem cidadania europeia, como os titulares das mesmas não revelam nem a formação, nem o talento ou a vontade de aprender indispensáveis para o razoável desempenho dos cargos.

Numa altura em que a guerra na Ucrânia parece hesitar entre uma solução coreana – fim das hostilidades nas linhas atuais do campo de batalha, deixando tratado de paz para o futuro -, ou um enfrentamento direto NATO-Rússia, capaz de incendiar grande parte do mundo, o Parlamento Europeu (PE) escolheu esta última opção, ao aprovar no dia 19 uma “Moção conjunta” sobre a continuação “do apoio financeiro e militar à Ucrânia pelos Estados-membros da UE”.

A Moção, grosseiramente russófoba, cheia de exigências aos Estados da UE, é mais brutal do que muitas declarações de guerra registadas pela historiografia.

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Cúpula do BRICS na Rússia em outubro: o que deve ser discutido na mesa

26/09/2024 |Faltando menos de um mês para a cúpula anual do BRICS na cidade de Kazan, sob a presidência russa, Moscou está mergulhada em discussões sérias e muito bem informadas. O que está em jogo é o projeto extremamente complexo de um sistema financeiro totalmente novo – descentralizado e com tecnologia digital.

O riso das mães | Miguel Esteves Cardoso in jornal “Público”, 7 de Maio de 2017

A minha mãe está sempre a voltar. Aparece-me mais vezes do que quando estava viva. Sinto-a a rir-se dentro de mim, a desafiar-me a lembrar-me dela: “Diz lá então o que é que diz esta mãe tão chata que não te deixa em paz?”

Antes de morrer ela confidenciou-me “as mães, por muito boas que sejam, acabam sempre por deixar mal os filhos”. Em inglês: they always let you down. Senti-me imediatamente culpado: não estaria ela a falar nos filhos? Não somos nós que as desiludimos, num instantinho?

As mães não nos deixam ficar mal: não nos deixam. Por muito bem que estejamos elas voltam. Até voltam mais quando estamos bem e esquecemos as saudades que temos delas. Voltam para nos fazer rir, voltam para nos mostrar como, voltam para ver as coisas com os olhos delas.

Há um grande amor que se solta quando a presença física desaparece. Há um grande amor que espera por esse vazio para se mostrar. É como a voz dela dentro de mim: só comecei a ouvi-la no silêncio que caiu à minha volta quando ela se foi embora. Durante uns tempos — que nunca mais acabavam — doía-me que eu não pudesse falar com ela. Mas doía-me ainda mais ela não poder falar comigo.

Sim, não posso telefonar-lhe. Mas já não preciso. Ela fala comigo várias vezes por dia. Eu conto à Maria João, tal e qual tivesse acabado de falar com ela. Ela ajuda-me a rir, a perceber, a entregar-me.

As mães só fingem que nos deixam ficar mal. A verdade — que também é triste — é que não nos largam. Porque nós não as deixamos. Nem podemos.

Miguel Esteves Cardoso

https://www.publico.pt/2017/05/07/sociedade/noticia/o-riso-das-maes-1771242

Ministra da Saúde quer “amplo consenso nacional” para reforma estrutural do SNS, in Sapo24, 16-09-2024

A ministra da Saúde apelou hoje a um “amplo consenso nacional” para concretizar a “reforma estrutural” do Serviço Nacional de Saúde (SNS), uma tarefa que disse precisar de uma legislatura ou mais.

“Este trabalho não terá resultados em semanas ou meses. É um trabalho de uma legislatura, ou mais, e necessita de um amplo consenso nacional”, afirmou Ana Paula Martins, que falava na sessão que assinala o 45.º aniversário do SNS promovida pela comissão parlamentar de saúde.

https://24.sapo.pt/noticias/ministra-da-saude-quer-amplo-consenso_66e7fe5c40a30a421233963b

Poder, Solidão, Amargura, por Manuel S. Fonseca

Salazar é, mãos dadas com Cunhal e Mário Soares, uma das figuras do século XX português que mais me fascina.

Toda a minha infância, adolescência, começo da idade adulta foi marcada, nos meus anseios, na minha educação, na escassa economia familiar dos meus pais, pela acção política de Salazar. Salazar entrou na minha vida, como na vida de milhões de portugueses, sem pedir licença. Ao longo de quase cinco décadas, de 1928 a 1970, Salazar exerceu um poder autocrático que influenciou os costumes, o bem-estar, o pensamento, as liberdades, ou seja, a vida de cada um dos portugueses, mesmo dos que se exilaram ou emigraram.

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Eixo da Resistência vs. Poder Hegemônico: como tudo evoluiu desde o início do milênio

12/09/2024 | Como evoluem conflitos eternos? O que os atentados de 11 de setembro têm a ver com a tensão perene no Oriente Médio/Oeste da Asia? E como tudo se interliga com a ascensão do BRICS?

Entre o aberrante e a vulgaridade, por Carlos Matos Gomes, 15-09-2024

A relação entre os comentadores públicos europeus e as eleições americanas lembram-me os comentários que numa noite de insónia num hotel em Londres ouvi a propósito de um jogo de cricket. Desconhecia e desconheço as regras do cricket. O meu interesse residia em descobrir o que levava os ingleses a interessarem-se pelo jogo. 

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QUEM TEM MEDO DE SARA WAGENKNECHT?, por Viriato Soromenho-Marques – DN 7-9-24

Sahra-Wagenknecht-wikipedia

As recentes eleições nos estados alemães da Saxónia e da Turíngia têm três leituras imediatas: a queda catastrófica dos partidos que integram o Governo Federal (SPD, Verdes e Liberais); o crescimento da extrema-direita (AfD); o sucesso da nova esquerda alemã obtido pelo terceiro partido mais votado, que assumiu o nome da sua líder: Aliança Sahra Wagenknecht – Razão e Justiça (BSW). A perda de credibilidade do Governo é tanta que a soma dos votos dos partidos que o suportam é praticamente igual à do BSW na Saxónia (cerca de 12%), e bastante inferior na Turíngia (9,3% contra 15,8%). França e Alemanha tornaram-se sociedades clivadas com Governos de legitimidade residual.

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BANCO MUNDIAL: RÚSSIA ULTRAPASSA JAPÃO E TORNA-SE 4ª ECONOMIA EM PARIDADE DE PODER DE COMPRA 

Rússia vence sanções e se torna 4ª maior economia global | Por Glenn Diesen, no X, e retirado do Facebook, mural de Carlos Fino. 

De acordo com uma recente atualização do Banco Mundial, a Rússia é agora a 4ª maior economia do mundo em termos de Paridade de Poder de Compra (PPC), sugerindo um desacoplamento bem-sucedido do Ocidente. Por 300 anos, desde Pedro, o Grande, a Rússia olhou para o Ocidente em busca de modernização e integração econômica. No entanto, após o golpe apoiado pelo Ocidente em 2014, que transformou a Ucrânia de uma ponte em uma linha de frente, a Rússia abandonou sua política externa centrada no Ocidente.

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Que faire à New York en 4 jours ? Conseils d’itinéraire, par Alexandra DAVID, in www.petitfute.com, le 14/08/2024 

Bienvenue dans la ville qui ne dort jamais, New York ! Dans cette métropole dynamique et vibrante, chaque quartier possède sa propre personnalité et chaque journée offre une nouvelle aventure à découvrir. Vous avez la chance de passer un court séjour à New York ? Ce périple mémorable vous emmènera à travers les incontournables de la ” Grosse Pomme “. Alors, préparez-vous à plonger dans un itinéraire de quatre jours qui vous guidera à travers les divers quartiers de New York. De Manhattan à Brooklyn, en passant par Ellis Island, votre voyage magique en Amérique commence !

Jour 1 : Chinatown, Little Italy, Soho et Greenwich Village

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Brasil e Portugal: uma parceria que o passado uniu e o presente reuniu, por Raimundo Carreiro Silva, in DN, 03-09-2024

Há 202 anos, no dia 7 de setembro de 1822, o Brasil nascia como nação independente pelas mãos de ninguém menos que Dom Pedro, herdeiro do trono de Portugal. O príncipe português chegara ao Brasil em 1808, juntamente com a família real, transferida ao Rio de Janeiro na esteira das Guerras Napoleónicas na Europa. Em 1821, com o retorno de D. João VI a Lisboa, coube a Dom Pedro, já na qualidade de príncipe-regente, a missão de administrar o Brasil.

O que se deu na sequência, no entanto, seguiu roteiro distinto: precipitaram-se os acontecimentos e D. Pedro proclamou a Independência, tornando-se imperador do Brasil, com o nome de D. Pedro I.

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Timor-Leste e o papel de Portugal no mundo, por Bernardo Ivo Cruz, in DN 03-09-2024

Na semana passada comemorámos os 25 anos sobre a consulta popular que determinou a independência de Timor Leste. E, simbolizando o apoio de vários Governos portugueses, António Guterres – que era Primeiro-Ministro à época – recebeu a cidadania Timorense.

A independência de Timor-Leste deve-se, antes de mais e principalmente, à vontade do seu povo. Antes, os 25 anos de resistência em condições dificílimas, quando a realidade da Guerra Fria e a importância da Indonésia no combate ao comunismo no Sudoeste Asiático impunham um pragmatismo nas relações internacionais que impediam o reconhecimento da razão e do direito internacional que assistiam à causa dos timorenses. E, depois, quando finalmente o mundo e a Indonésia mudaram e foi possível escolher, as filas intermináveis de pessoas que depositaram mais de 75% de votos a favor da independência de Timor.

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A Turquia apresentou hoje o pedido de adesão aos BRICs, in Facebook, mural de Miguel Castelo Branco, 02-09-2024

A Turquia apresentou hoje o pedido de adesão aos BRICs. Fê-lo depois de esperar 63 anos (Portugal esperou 15), primeiro ao candidatar-se à então CEE, cumprindo todos os requisitos e, depois, aprofundando-os em quatro movimentos sucessivos de adesão à UE e à zona Euro.

Membro do G20, é a 18ª economia mundial, possui o segundo maior exército da NATO e é uma potência regional de assinalável influência no Cáucaso e no Médio-Oriente, ocupando geograficamente uma posição invejável de charneira entre a Europa e a Ásia.

A adesão aos BRICs é um sucesso para chineses e russos e uma limitação evidente para a UE e para a NATO, para além de fechar definitivamente o ferrolho do Mar Negro, convertendo-o num grande espaço da coligação euroasiática.

No quadro da nova Guerra Fria, tão insensatamente pedida pelos EUA e seus satélites europeus, a consolidação do bloco económico dos BRICs antecipa o aprofundamento de laços políticos e de defesa entre os seus membros e deixa antever o acesso livre do comércio russo e chinês ao Mediterrâneo e Mar Vermelho, bem como das marinhas respectivas armadas. Lentamente, o mundo pós-imperial de amanhã vai-se definindo perante os nossos olhos.

Portugal no espelho do terramoto, por Viriato Soromenho-Marques, in DN, 31-08-2024

Todos os sismos em Portugal evocam o Terramoto de 1755. A reconstrução de Lisboa expõe a ação excecional daquele que seria imortalizado como Marquês de Pombal. A recente discussão sobre a ausência de legislação e fiscalização adequadas para prevenir o pior, quando se repetir um megassismo em Lisboa, ajuda a perceber o motivo por que uma tão grande parte da elite nacional recusa, alergicamente, estudar o legado da ação política de Pombal.

É impossível resumir o que fez Sebastião José pelo país nos 22 anos como Secretário de Estado dos Negócios Interiores do Reino, o equivalente atual ao cargo de primeiro-ministro (1755-1777). Já nem menciono o percurso anterior como diplomata e Secretário dos Negócios Estrangeiros e da Guerra (1738-1755). Mas a sua liderança na reconstrução de Lisboa manifesta o seu estilo singular de governação, grandioso na luz, excessivo na sombra.

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A VERDADEIRA HISTÓRIA DA DESTRUIÇÃO DO GASODUTO NORD STREAM 2, 15-08-2024

Retirado do Facebook | Mural de Carlos Fino, 15-08-2024

Uma noite de bebedeira, um iate alugado: a verdadeira história da sabotagem do gasoduto Nord Stream. Era o tipo de esquema absurdo que poderia surgir num bar na hora de fechar.

The Wall Street Journal | Em maio de 2022, um punhado de altos oficiais militares ucranianos e empresários se reuniram para brindar o sucesso notável de seu país em deter a invasão russa. Estimulados pelo álcool e pelo fervor patriótico, alguém sugeriu um próximo passo radical: destruir o Nord Stream.

Afinal, os gasodutos gêmeos de gás natural que transportavam gás russo para a Europa estavam fornecendo bilhões para a máquina de guerra do Kremlin. Qual melhor maneira de fazer Vladimir Putin pagar por sua agressão?

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PÚTIN E O PENSAMENTO ÚNICO, por Miguel Sousa Tavares in Expresso, 2 de julho de 2023  

Vi uma reportagem de um canal de televisão americano passada recentemente na SIC e intitulada “Como Putin enganou cinco Presidentes americanos”.

Era um tipo de trabalho jornalístico-político clássico da TV americana — parte-se de uma tese que se quer “provar” e vai-se procurar cuidadosamente “testemunhos” que a demonstrem: o secretário de Estado Antony Blinken, antigos embaixadores americanos na ONU, na NATO ou em Moscovo, jornalistas da estação.

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O DIA EM QUE O “EM ÓRBITA” MORREU, por Júlio Isidro (está) com Cândido Mota, in Facebook

Retirado do Facebook | Murais de Carlos Fino e Julio Isidro está com Cândido Mota.

Estou sentado no Greek Theater de Los Angeles para um concerto que nunca tinha pensado assistir. Don McLean o “trovador da América” ali à frente vestido de preto, viola nos braços para nos cantar o que queríamos ouvir e até sabíamos de cor.

Deixou para o fim o que eu mais queria ouvir, “Vincent”e finalmente “American pie”, esta com quase nove minutos de duração.

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Quando o óbvio não é óbvio, Major General Carlos Branco

A mudança na linguagem de Zelensky sobre conversações com Moscovo não é genuína, é um fingimento, um gesto de simpatia para aliviar a pressão a que começa a ser sujeito.

Apesar das reticências em o admitir, tanto por Kiev como pelas chancelarias europeias, a guerra na Ucrânia só terminará quando Kiev mostrar disponibilidade para entrar em conversações com Moscovo, aceitar fazer concessões territoriais e adotar um estatuto de neutralidade estratégica semelhante àquele promovido pelo presidente Yanukovych, em 2010, uma inevitabilidade que começa aparentemente a fazer caminho e a impor-se. Mas será mesmo assim?

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Manuel Duran Clemente: o amargo da derrota, in DN 4 agosto 2024, por António Araújo

São oito minutos e 26 segundos, hoje disponíveis no Arquivo RTP, e o que neles vemos é um hippie fardado, de longos cabelos negros, e barba mais longa ainda, a dissertar, em voz empastada, sobre coisas como “a sociedade da anti-cultura”, “o obscurantismo de tantos anos de fascismo com que o povo português foi massacrado”, “o ponto de vista dos explorados”, “a disciplina revolucionária”, “a incompetência revolucionária de certos oficiais do MFA”, “a direcção internacional capitalista” e até o famoso “princípio de Peter”. De permeio, frases históricas, antológicas, como esta: “não é recuando, recuando, que se chega à meta final.” 

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Portas-te mal, vais para a mitra, in Expresso

Mitra sempre foi um dos vários nomes que ouvi nas histórias de infância contadas pela minha mãe e tios, dos tempos em que brincavam nos Olivais, em Lisboa. O Mitra era um João com quem ela partilhava turma e sobre quem nunca soube ao certo explicar como é que este João se tornou no Mitra. Talvez pela cabeça rapada. Talvez porque apenas herdou a alcunha de um irmão mais velho. Talvez. Mas era certo: não era um elogio. Aliás, uma busca rápida no Priberam, confirma-me isso mesmo:

Jovem urbano, geralmente associado às camadas sociais mais desfavorecidas, de comportamento ruidoso, desrespeitoso, ameaçador ou violento e que tem gostos considerados vulgares.”

Mitra não é o João nem sequer uma pessoa: é um lugar. E é desse lugar que lhe quero falar: o Albergue da Mendicidade da Mitra. Um depósito de “miseráveis”, onde a polícia durante o Estado Novo prendia, sem condenação nem recurso, quem queria fazer desaparecer das ruas: mendigos, pedintes, vadios, aleijados, loucos e prostitutas. Rapavam-lhes o cabelo, metiam-lhes uma farda de cotim e um número ao pescoço, a lembrar um campo de concentração.

Na “cidade dos mal-amados”, mais de 20 mil adultos e crianças foram escondidos do olhar público, muitos por várias décadas. Alguns deles ainda lá estão. É o caso de Catarina, que aos 23 anos foi levada para a Mitra por ser “pobre, aleijada e anormal”. As autoridades pediam o seu internamento num asilo para não ser mais um encargo para a tia com que vivia. Passaram 70 anos e Catarina ainda lá está.

Esta história – e outras – são contadas pela Joana Pereira Bastos, a Raquel Moleiro, o Rúben Tiago Pereira e o Tiago Miranda. Hoje, a reportagem chega-lhe em forma de documentário, amanhã, nas páginas da Revista E, em prosa. Sou suspeita, mas aconselho a ver, a ouvir e a ler tudo.

Paris 2024: Mais uns Jogos Olímpicos do Fim de uma Era, por Carlos Matos Gomes

Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 são um acontecimento típico dos tempos que antecipam a conhecida “armadilha de Tucídides” que os dirigentes europeus deviam conhecer e lhes devia servir de orientação, se fossem cultos e sensatos, e se a História não fosse uma prova de que em situações de crise a humanidade escolhe ser dirigida pelos mais grotescos dos seus exemplares, os que fecham os olhos e investem contra o que lhes surge entre a sua ambição e a parede onde vêm o inimigo, mais uma prova de que a racionalidade é um bem descartável, sempre à mercê da arrogância e da ambição.

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Será a Rússia o papão “fascista” retratado na propaganda liberal ? Autor : Brecht Jonkers

É um texto grande, eu sei, mas demasiado importante para ser deixado passar ao lado 😉 Tita Alvarez

🇷🇺 Será a Rússia o papão “fascista” retratado na propaganda liberal ⁉️

Num artigo de 2015, o Atlantic Council, um influente grupo de reflexão dedicado a promover as políticas do atlantismo e a, nas suas próprias palavras, “galvanizar a liderança e o envolvimento dos EUA no mundo”, publicou um artigo no seu sítio Web com o título bastante simples “A Rússia de Putin é fascista?”. Publicado numa altura imediatamente a seguir ao golpe de estado apoiado pelos EUA na Ucrânia no ano anterior e à subsequente resposta revolucionária em Donetsk e Luhansk, a máquina de propaganda atlantista estava a fazer horas extraordinárias.

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A solução para o problema ucraniano, 🇺🇦🇺🇲🇪🇺 🌍 🇷🇺, por Major-General Carlos Branco

Apesar do futuro da Ucrânia resultar daquilo que os EUA e a Rússia acordarem, é importante perceber as contradições de Zelensky. A sua ação e a sua vida estão condicionadas.

Apesar da resistência em o admitir, torna-se cada vez mais óbvia nas chancelarias europeias a necessidade de pôr fim à guerra na Ucrânia através de uma solução política. Vários analistas têm elaborado sobre possíveis soluções. Embora seja comum em todas as propostas a cedência de territórios ucranianos, já a adesão à NATO, a causa primária da intervenção russa, não o é.

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‘Poesia, saudade da prosa’, por Guilherme d’Oliveira Martins, in DN, 23-07-2024

Luís Filipe Castro Mendes cita Manuel António Pina no início de Tentação da Prosa (Exclamação, 2024) – Poesia, saudade da prosa, e assim se compreende o ofício da escrita. E Francisco Seixas da Costa diz, na nota inicial: “Conhecia-lhe já a prosa, a sua limpidez, a riqueza vocabular, o fluir fácil e elegante no estilo, saído de alguém para quem a produção de textos constitui um óbvio ato de prazer.” E estas crónicas “espelham alguém (…), já sem algumas das ilusões geracionais, mas com notas permanentes de esperança e de otimismo”. E assim há “uma imensa e invejável felicidade” na busca dos acontecimentos e das leituras… “É das coisas miúdas que se fazem os grandes encontros”.

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De “Cartas inéditas de Fradique Mendes” (edição póstuma) – e com uma intenção temporal específica. É sobre insensatezes…

“Quando a ideia é chata ou trivial, alteia-se, revestindo-a de palavras gordas e aparatosas – como todas as que se usam em política.”

A … E. Sturmm, alfaiate | Lisboa, Abril.

Meu bom Sturmm. – A sua sobrecasaca é perfeitamente insensata. Ali a tenho, arejando à janela, nas costas de uma cadeira; e assenta tão bem nessas costas de pau, como assentaria nas do comandante das Guardas Municipais, nas do Patriarca, nas de um piloto da barra ou nas de um filósofo, se o houvesse nestes reinos. Quero, pois, severamente dizer que ela não possui individualidade.

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ESCOLHA DE TRUMP PARA VICE-PRESIDENTE PROMETE “ENCERRAMENTO RÁPIDO” DA GUERRA NA UCRÂNIA

Os EUA devem mudar o seu foco para a China, em vez das hostilidades entre Moscovo e Kiev, disse JD Vance 

Candidato presidencial republicano, Donald Trump, e candidato a vice-presidente, JD Vance, na Convenção Nacional Republicana em Milwaukee, Wisconsin. ©  AFP / Win McNamee

Donald Trump trará um “rápido fim” ao conflito na Ucrânia se for reeleito como presidente dos EUA em novembro, disse o recém-anunciado companheiro de chapa do republicano, JD Vance. Vance argumentou que Washington deveria mudar seu foco para a China, descrevendo Pequim como a “maior ameaça” aos EUA.

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A Cimeira da Guerra e Duas Mulheres, por Carlos Matos Gomes, 11-07-2024

Hoje, que se tocam os tambores de guerra na sede do império, e onde uma mulher, Ursula Von Der Leyen, presidente da Comissão da União Europeia, da Europa, está em lugar de destaque, trago à memória Rosa Luxemburgo. Um figura incómoda, feminista, pacifista, socialista, judia sem religião, revolucionária. E também o conjunto de mistificações que serviram para os dirigentes justificarem a guerra aos seus povos.

A causa imediata para a Primeira Guerra foi o assassinato do arquiduque Francisco, herdeiro do trono austríaco, e da sua mulher a 28 de junho de 1914.

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A CAMARADA GRETA GARBO, por Manuel S. Fonseca, in Jornal de Negócios e Facebook

Gosto de quem muda de opinião. E muito mais se quem muda de opinião é a sueca Greta Garbo. Ainda mais quando muda de um sorumbática tristeza para um riso esfuziante.

A CAMARADA GRETA GARBO

De que matéria é que se fazem os sonhos? De letras, diria eu. Ora vamos e vejamos, os sonhos dos filmes, antes de serem sonhos, antes de serem aventuras, antes de serem gargalhadas, são palavras escritas. Há, para cada filme, um argumentista, a senhora ou senhor que escreve os textos, que hão de guiar o realizador e ser frases na boca aos actores. Há tempos, os argumentistas mais reputados em actividade elegeram o melhor de sempre na profissão.

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IMMANUEL KANT: O HOMEM E DEUS, por Anselmo Borges, Diário de Notícias, 29/06/2024

“Neste tempo dominado por maquinarias de estupidificação, quando o que mais falta é, por isso mesmo, pensar criticamente, não podia deixar passar o terceiro centenário do seu nascimento sem uma brevíssima referência. Refiro-me a Immanuel Kant, que nasceu no dia 22 de Abril de 1724 em Königsberg, antiga Prússia, actualmente Kaliningrado, um enclave russo entre a Polónia e a Lituânia, e que morreu nessa mesma cidade no dia 12 de Fevereiro de 1804. É lá, na catedral de Kaliningrado, que se encontra uma lápide com a sua frase célebre: “Duas coisas enchem a mente de uma admiração e um respeito sempre novos e crescentes quanto mais frequentemente e com maior persistência delas se ocupa a reflexão: o céu estrelado sobre mim e a lei moral em mim”.

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O cómico e o riso no Vaticano, por Anselmo Borges, 15-06-2024 in DN

1. Este texto foi escrito antes da realização de um acontecimento que julgo muito significativo e que teria lugar no Vaticano no dia de ontem: o encontro do Papa Francisco com mais de 100 humoristas de todo o mundo, entre eles Joana Marques, Maria Rueff e Ricardo Araújo Pereira.

Um encontro organizado pelo Dicastério para a Cultura e a Educação e pelo Dicastério da Comunicação. O seu objectivo: “estabelecer um diálogo entre a Igreja Católica e os humoristas”. “Francisco reconhece o grande impacto que a arte da comédia tem no mundo da cultura contemporânea. Através do talento humorístico e do valor unificador do riso nos dias de hoje, são oferecidas reflexões únicas sobre a condição humana e a situação histórica. Além disso, a arte da comédia pode contribuir para um mundo mais empático e solidário”, referia o comunicado do Vaticano, acrescentando que “o encontro entre Francisco e os actores cómicos do mundo pretende celebrar a beleza da diversidade humana e promover uma mensagem de paz, amor e solidariedade, e promete ser um momento significativo de diálogo intercultural de partilha de alegria e esperança.”

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Vamoláver | Europeias apenas beliscam Parlamento, mas arrasam França e Alemanha

O “coração” que manda na União manteve-se a “bombar”: PPE, S&D e RE têm uma maioria de 402 lugares para resistir ao avanço tremendo da extrema-direita. Mas França e Alemanha ficaram em maus lençóis.

Resultado das Europeias apenas belisca Parlamento, mas arrasa França e Alemanha

  • PPE vence europeias e conquista mais oito eurodeputados do que em 2019
  • Em Portugal o vencedor foi o PS, com mais um eurodeputado que a AD
  • Marta Temido é a primeira política a vencer umas eleições
  • Extrema-direita sobe em geral, mas não em todo o lado

A União Europeia acordou esta manhã a digerir um aumento no apoio a partidos de extrema-direita e uma rejeição aos governantes centristas, liderada pelas maiores nações do continente — França e Alemanha. O euro desceu nas operações matinais; os mercados de ações europeus sofreram quedas; e o mundo económico mostra-se apreensivo.

As forças conservadoras nacionais e de extrema-direita registaram avanços significativos, ficando com cerca de um quarto dos eurodeputados no parlamento de 720 lugares – o seu melhor resultado de sempre. No entanto, o desempenho não foi uniforme em todos os países, com alguns surpreendentemente a ficarem abaixo das expectativas.

França e Alemanha: o grande problema

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Maria da Conceição Tavares (1930-2024)

O percurso da economista luso-brasileira, nas suas vitórias e derrotas, é uma inspiração para a República dos Pijamas.

No passado sábado, a economista Maria da Conceição Tavares faleceu aos 94 anos. Apesar de ser um nome relativamente desconhecido em Portugal, a economista nascida em Anadia, no dia 24 de Abril de 1930, foi uma das principais referências do debate económico brasileiro e latinoamericano do século XX.

A vida de Maria da Conceição Tavares desdobrou-se entre a academia, a formação de políticas públicas e o combate político. No plano académico, o seu livro “Da Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro” analisa o processo de transformação capitalista da economia brasileira no século XX, no início do período da sua industrialização.

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Europa: Reinvenção ou subjugação, por Carlos Matos Gomes, 09-06-2024

«Leituras para compreender a Europa em perigo» é o titulo de um artigo na Babelia, o suplemento cultural do El País (nenhum jornal português tem um suplemento cultural) — e começa com uma declaração do escritor Jean-Baptiste Andre, vencedor do último prémio Goncourt (em Portugal nenhum escritor, premiado ou não, é ouvido sobre o mundo que o cerca e que é matéria de reflexão nos seus romances) — diz o escritor: Estamos à beira de um regresso da extrema direita. Não deveria surpreendermos neste tempo que a História tende a repetir-se . A pergunta é, portanto, a de sabermos se é possível detê-la ou não.

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A emergência constitucional | Guilherme d’Oliveira Martins, 04-06-2024, in DN

A derrota de Napoleão na Batalha de Trafalgar levou o imperador francês a abandonar o plano de invasão da Grã-Bretanha e a conceber como alternativa o Bloqueio Continental, visando asfixiar economicamente o inimigo, tão dependente do comércio marítimo. Em novembro de 1806, chegado a Berlim, Bonaparte proclamou o fecho de todos portos do Velho Continente aos navios britânicos. E em Tilsit, deu conta ao imperador russo do seu objetivo de depor as casas reais da Península Ibérica, resistentes ao bloqueio.

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A febre do empreendedorismo dos anos da Troika foi um beco sem saída que convenientemente caiu no esquecimento, in República das Bananas

Sinais de Fumo, romance de Alex Couto, captura o espírito do empreendedorismo vazio de Portugal durante os anos da Troika.

Se tivermos de selecionar o que se destacou em Sinais de Fumo, primeiro romance de Alex Couto, para os autores desta República, foi de uma memória dos tempos da Troika. Entre o bairro do Viso em Setúbal e o consumo de cannabis, o motor desta história são as narrativas sobre o empreendedorismo que eram injetadas em doses massivas nas cabeças dos portugueses, em especial nas dos mais jovens sobre quem pairava o desemprego e a precariedade. 

Enquanto o país se “ajustava” sob a supervisão do trio Comissão Europeia-Banco Central Europeu-FMI, a solução para o desemprego quase nos 18% (o desemprego jovem rondava os 40%) e a vaga de emigração em massa, passava pelo empreendedorismo.

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TÓPICOS DA IMPRENSA | 03-06-24 | VCS

Retirado (parcialmente) com a devida vénia e aplauso de : Vamoláver vamolaver@substack.com | https://vamolaver.com

Economia

🇵🇹 A grande maioria do aumento da dívida portuguesa entre 2000 e 2023 deveu-se ao pagamento de juros, totalizando mais de 136 mil milhões de euros, segundo um relatório do Banco de Portugal. Em dezembro de 2023, a dívida nacional atingiu os 263 mil milhões de euros, um aumento de 194 mil milhões desde o início do século. O Banco de Portugal alerta para a necessidade de uma política orçamental prudente, dado o esperado aumento da taxa de juro implícita, para minimizar os riscos orçamentais futuros. • expresso.pt

🇵🇹 Portugal atingiu 87% de energia renovável no consumo de eletricidade nos primeiros cinco meses deste ano. A energia hídrica foi a maior fonte, representando 43%, seguida da eólica com 30%, solar com 8% e biomassa com 6%. Apenas 9% do consumo foi abastecido por gás natural e 4% por importações. • publico.pt

MUNDO

🇬🇧 O Partido Trabalhista britânico está prestes a alcançar a sua maior vitória de sempre nas próximas eleições gerais, superando o recorde de 1997 sob Tony Blair, segundo a YouGov. A sondagem MRP prevê que os Trabalhistas ganhem 422 assentos, garantindo uma maioria de 194 assentos, enquanto os Conservadores de Rishi Sunak enfrentam a sua maior derrota em mais de um século, com apenas 140 assentos. • reuters.com

🇲🇽 Claudia Sheinbaum foi eleita como a primeira presidente mulher do México, conquistando cerca de 60% dos votos. A sua vitória esmagadora pode garantir uma supermaioria no congresso, permitindo ao governo alterar a constituição. Sheinbaum, ex-presidente da Câmara da Cidade do México, pretende continuar o legado do Presidente Andrés Manuel López Obrador, e o seu programa inclui propostas controversas como enfraquecer o Supremo Tribunal. • reuters.com

OPINIÃO

Ricardo Paes Mamede critica a falta de discussão sobre política industrial em Portugal, contrastando com o debate global sobre o papel dos Estados na promoção de sectores específicos. O autor sublinha que, no contexto português, qualquer tentativa de estratégia selectiva é rapidamente rotulada de estatizante ou mesmo soviética por figuras políticas de destaque.. 🗣 publico.pt

SONDAGENS

📰 Quatro em cinco: PS continua a liderar sondagens mas deverá perder um eurodeputado

A cabeça de lista do Partido Socialista, Marta Temido, lidera a intenção de voto dos portugueses para as eleições europeias na sondagem da Aximage para o DN, o JN e a TSF. Temido apresenta 30,6% das intenções de voto, seguida por Sebastião Bugalho, cabeça de lista da AD, com 26,6%, e Tânger Corrêa, do Chega, em terceiro lugar com 15,5%.

Quais são os resultados em mandatos se a sondagem se confirmar?

Se estes resultados se confirmarem, o PS consegue eleger oito eurodeputados (menos um do que teve no período 2019-2024), a AD seis, o Chega quatro e o Bloco de Esquerda, o Livre e a Iniciativa Liberal um cada. A CDU ficaria sem representação europeia, tal como o PAN.

Outras sondagens recentes mostram cenários variados:

  • Sondagem CNN/IPESPE Duplimétrica: PS com 25%, AD com 23%, Chega com 7%
  • Sondagem ICS/ISCTE para Expresso/SIC: PS com 32%, AD com 26%, Chega com 18%
  • Sondagem Intercampus para CM: PS com 27,5%, AD com 23,2%, Chega com 10,7%
  • Sondagem RTP/Antena 1/Público: AD com 31%, PS com 30%, Chega com 15%

Fonte: cnnportugal.iol.pt

Editor: Paulo Querido. Ilustrador: Mário Pires. Etiquetas: Ana Roque. Apoio na pesquisa e filtragem: Cecil. LLM usados: GPT-4 e Claude.


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A União Europeia (U.E.) e a guerra na Ucrânia, por Carlos Esperança

Não discuto a bondade do apoio da U.E. a esta guerra, mas gostaria de pôr em causa a sensatez das suas decisões perante as consequências, sem ser acusado de estar ao lado da Rússia.

Há mais de dez anos que acompanho a guerra civil na Ucrânia e, há mais de dois, a sua escalada após a invasão russa. Já ouvi todos os prognósticos, e demasiados argumentos para justificar a continuação da guerra que devora as juventudes da Ucrânia e da Rússia e os recursos financeiros da UE.

Não me atrevo a discordar das boas razões, mas permitam-me a reflexão, sem anátemas ou insultos, para prosseguir a guerra, arriscando a vida de todos os europeus, o que só é legítimo se essa for a vontade democrática dos europeus, livremente expressa.

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Vamos lá, centímetro a centímetro falar de cambutas. O que é isso? Ora leiam. | Manuel S. Fonseca, in Jornal de Negócios e Facebook

Glória aos baixinhos

Um metro e meio basta para pôr o mundo arder. Olhem para Elizabeth Taylor. Por esse metro e meio, de uma geografia alcantilada, diga-se, incendiaram-se corações, mentes e corpos. O pobre Richard Burton, que estava a menos de um dedo do 1,80, tinha todos os centímetros em fogo quando via essa pequena Liz. Pior, ainda mais quando a não via.

Liz Taylor não foi caso único. O metro e cinquenta e dois de Joana d’Arc pareceu gigantesco aos franceses guerreiros que queriam expulsar os ingleses invasores. Baixinhas como ela foram Cleópatra e a Rainha Victoria, o que não as impediu de terem o mundo a seus pés. 

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Preparar a saída do euro é a procura de um modelo de desenvolvimento soberano, por República dos Pijamas

Os debates da integração europeia vão bem além de ser pró ou contra a Europa. Uma agenda soberanista passa por boas políticas em áreas como transportes, uso de solos, energia e produção alimentar

No âmbito das eleições europeias, a CDU organizou uma sessão pública sobre a economia portuguesa na União Europeia. Num painel que maioritariamente partilhou o diagnóstico que o processo integração europeia, e em especial o Euro, foram danosos para o desenvolvimento nacional, foi possível encontrar discordâncias sobre a capacidade de transformar a economia nacional dentro destes constrangimentos. Ricardo Paes Mamede e Paulo Coimbra, ambos economistas e autores do blogue Ladrões de Bicicletas, representaram os polos opostos.

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Economia Humana, por Guilherme d’Oliveira Martins, in Diário de Notícias, 28-05-2024

Foi Eduard Bernstein (1850-1932) quem melhor leu criticamente a obra de Karl Marx, uma vez que acompanhou diretamente o percurso intelectual do autor alemão, sendo também muito próximo de Friedrich Engels, de quem, aliás, foi testamenteiro. Estudioso dos economistas marginalistas, demonstrou com clareza as limitações da conceção de David Ricardo sobre o valor dos bens, corrigindo a dialética de Hegel, com recusa do determinismo e da ideia do capitalismo como fase transitória, antes de um final comunista. Por outro lado, libertou-se do utopismo de Saint Simon, com a distinção de ociosos e laboriosos, pondo a tónica na afirmação essencial do movimento e não do objetivo. Ou seja, o fundamental seria a ideia de reforma gradual associada ao respeito pela liberdade expressa na legitimidade do voto dos cidadãos e na mediação das instituições.

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O milagre chinês deveu-se ao planeamento estratégico | REPÚBLICA DOS PIJAMAS, Maio 20

A ideia de uma nova Guerra Fria entre Estados Unidos da América e China tem-se popularizado nos últimos anos. Por detrás desta ideia está o crescimento do poder político, económico e militar da China, que veio substituir a União Soviética, três décadas depois da sua dissolução.

Tanto a queda do poderio sovietico como o crescimento chinês têm origem na década de 1980. Ambos os países passaram por um período de transformações políticas e económicas, com métodos e resultados opostos. Por um lado, a Rússia, inicialmente liderando a União Soviética, implementou uma liberalização agressiva da sua economia, legitimada pelas reformas políticas e eleições abertas, que levou a um colapso social. Este processo foi apelidado por Naomi Klein de terapia de choque. Por outro lado, a China optou por reformar o seu modelo económico, de forma gradual, sempre com o objetivo de preservar  o seu sistema político.

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Joseph Praetorius | Poder. Infinitivo verbal. Tema obsessivo do português médio.

Os fracos imaginam o “outro lado” da força que os esmaga. Fantasiam em torno do poder. E que coisa pode ser o poder? 

Uma velha história chinesa sublinha a imaterialidade dessa estranha relação que o poder vai sendo. E diz-nos então que um cavador escavava no sopé de uma montanha e viu passar ao longe o séquito de um príncipe. Não sabemos o que aconteceu. Mas alguém ou alguma coisa o fez aquele príncipe, naquele séquito. Mas o príncipe estava atormentado pelo poder maior do sol de que nenhuma sombrinha conseguia protegê-lo. E pelo mesmo mistério, o cavador se fez sol. Percebeu então que não iluminava – e menos ainda queimava – o que queria, porque as nuvens o limitavam. E porque a nuvem pode mais que o sol, fez-se nuvem. E assim descobriu que a nuvem não vai para onde quer, mas para onde o vento a leva. E foi vento. Mas o vento era barrado e desviado pela montanha. Foi montanha. E olhando para baixo verificou que um cavador a escavava, sem que contra ele pudesse haver qualquer defesa sua. 

Para uns esta história significa que o trabalho é o único poder, para outros significa que o poder reveste apenas a natureza (evidentemente relativa) de uma relação concreta. Na história, curiosamente, o menos poderoso é o príncipe. Porque está simplesmente a passar. 

O poder é imaterial em alguma medida. O único poder ilimitado, com efeito, é o da sugestão lúcida e oportuna. O seu lugar de exercício não é localizável. O seu modo de exercício não é controlável. O seu conteúdo não é impugnável. O carácter determinante que revista no processo de formação da vontade do decisor não é examinável.

O único poder é o da inteligência e do conhecimento. Exerce-se com palavras discretas e, às vezes, um sorriso.

Retirado do Facebook | Mural de Joseph Praetorius

Pacheco Pereira: “Não temos um verdadeiro Governo”. E repete: “Nós não temos um verdadeiro Governo” | in CNN Portugal

“Não basta dizer que nós tínhamos esta proposta no nosso programa, quer para o Governo, quer para os partidos da oposição. Porque isso significa deixar margem zero para uma palavra que, para mim, é a chave nesta legislatura, que é compromisso.” 

Pacheco Pereira, comentador da CNN Portugal, considera que “era bom que houvesse mais responsabilidade na campanha [para as europeias], quer por parte da AD, quer por parte do PS”, uma vez que o novo Executivo “teve uma entrada complicada e difícil, não tem estado de graça” e não “vai conseguir cumprir as suas promessas”.

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A BATALHA PELA VERDADE FACTUAL, Soromenho Marques – DN

Quando em 1968 as forças do Vietname do Norte e da guerrilha Vietcongue iniciaram a sua poderosa Ofensiva do Tet, contra as tropas de Saigão e dos EUA, tinha eu acabado de completar 10 anos.

Lembro-me, vivamente, de como, apesar da censura, o trabalho dos repórteres ocidentais revelava cruamente, em imagens ainda hoje icónicas (como a da execução, à queima-roupa, de um prisioneiro comunista), a brutalidade da guerra. Nos lares de meio mundo, era possível ver as baixas e o sofrimento dos militares vindos das grandes cidades e do recôndito rural dos EUA. Nessa altura, a expressão “quarto poder” não era um exagero retórico, como o Caso Watergate o voltaria a provar em 1972. Contudo, os poderes que contam – o dinheiro e o seu braço político – aprenderam a prevenir, com mais ou menos sofisticação, essa liberdade capaz de manifestar a exuberância nua dos factos.

Sem o poder da imprensa livre, a Guerra do Vietname teria continuado e Nixon completaria tranquilamente o seu mandato.

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Livros dos 500 Anos Camões-Sena | Manuel S. Fonseca, Abril 23, 2024

Os governos de Portugal lá saberão de si. E saberão, porventura, porque esqueceram ou temem vir recitar em público o «Alma minha gentil» ou esse outro verso «Que eu canto o peito ilustre Lusitano / A quem Neptuno e Marte obedeceram»!  

E, no entanto, diz-nos Jorge de Sena, explicando-nos tudo com uma arrebatadora erudição e com uma devastadora sedução, Camões é um poeta do futuro. Não o poeta do passado, anacrónico, imperial, colonial (e despejem-se aqui os ismos que se queiram), mas um poeta que transcende hagiografias nacionais e que, n’Os Lusíadas e sobretudo n’Os Lusíadas, apela a toda a humanidade. Camões é um expoente de universalidade, diz, quase nos fazendo o desenho, Jorge de Sena. 

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Na cidade e nas serras, por Viriato Soromenho Marques, in Diário de Notícias

Marcelo Rebelo de Sousa encontra-se, mais uma vez, onde sempre gostou de estar: no centro das atenções. Não pelo seu pensamento próprio sobre um assunto relevante, apesar de estes não escassearem, mas, simplesmente por ter transformado a sua própria pessoa no assunto mais incontornável que concita as palavras ditas e escritas por esse país fora.

É impossível, quando se entra nesta arriscada aventura de tentar perceber o que motiva as ações do Presidente Marcelo, não cair num arriscado exercício de psicologia artesanal. Ficamos todos na posição de parceiros involuntários da terapia de grupo de Marcelo como pessoa singular.

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Deixem a direita ensinar-nos o que foi o 25 de Abril | in “República dos Pijamas”, 2-5-2024

Com os 50 anos da Revolução dos Cravos, é crucial disputar verdadeiro significado desta. Enquanto entre a esquerda existem dúvidas sobre a componente social de Abril, a direita radical não as tem.

O ano de 2016 mostrou que os oito anos de governos de António Costa ficaram aquém do que poderiam ter sido.

Embora as desilusões com Costa possam parecer um mero palpite lançado nesta newsletter, não estamos sozinhos, e é à direita que encontramos suporte. Esta ajuda-nos a interpretar não só as reformas perdidas de Costa, como também o grande período de reformas estruturais à esquerda – a Revolução de Abril.

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A sociopatia e a compreensão das reparações coloniais | por Carlos Matos Gomes

Nem quero imaginar quanto vai pagar a Espanha ao Iraque, ou à Siria,de reparações pela Mesquita de Córdova e pelo Alhambra de Granada, obras dos árabes que vieram de Damasco e da Mesopotâmia com Abderramão, o príncipe fugitivo, e chegaram à Península Ibérica através do Norte de África!

A proposta de reparações coloniais feita pelo presidente da República causou perplexidade a quem ainda é dado a surpresas e interrogações a quem procura estabelecer relações de causa e efeito nas suas atitudes. De um modo geral serviu para alimentar os comentadores e entreter os programas das televisões após as eleições. O elenco do “circo comentarial” dividiu-se entre malabaristas do Bugalho e ilusionistas do Marcelo. O que terá levado o senhor prior Montenegro a elevar o menino de coro a cónego da sua confraria em Bruxelas e o mestre de fogos-de-artifício de Belém a sacudir a esfarrapada passadeira que se desenrolou de Lisboa ao Índico durante cinco séculos?

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OTELO | o fantasma da Revolução, por Carlos Matos Gomes, 25 Abril 2024

A ação que celebramos, o 25 de Abril de 1974, foi planeada e comandada por um fantasma. Um fantasma com o nome dissolvido num ácido de conveniências.

Os fantasmas são por definição aparições de inconvenientes. Terei lido num texto de Miguel de Unamuno, o filósofo espanhol, que Dom Quixote, a personagem de Cervantes prenunciou o destino final, solitário e triste, de todos os cavaleiros andantes, fantasmas, digo eu, que citaria também uma declaração de Simón Bolívar, em que o revolucionário das Américas, admitia que Jesus Cristo, Dom Quixote e ele próprio eram (tinham sido) os maiores ingénuos da História.

Otelo pode com propriedade ser incluído nesta lista.

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A herança traída de Immanuel Kant, in DN

A 22 de abril passam 300 anos sobre o nascimento de Immanuel Kant (1724-1804). Prussiano, viveu como professor na Universidade de Königsberg, hoje a cidade russa de Kaliningrado. A sua obra pertence a uma galáxia superior do espírito. Na história da Filosofia ocidental, ele figura ao lado de uma reduzida minoria: Platão, Aristóteles, São Tomás de Aquino, Espinosa…

Desde a sua morte, milhares de estudiosos têm-se dedicado à interpretação do seu pensamento, mas é uma tarefa inacabável (e para os apressados, uma proeza impossível…). Portugal não está ausente da sua obra. Dedicou três pequenos ensaios ao terramoto de Lisboa de 1755 (publicados em 1955 pela CM de Lisboa). Nos seus estudos de Geografia menciona a orografia portuguesa, e outros territórios, na altura colonizados por Lisboa. Muitos anos antes das Invasões Francesas, Kant previu que tal iria suceder, numa impecável análise geoestratégica.

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A Ordem do Capital: A Tecnocracia é um projecto de classe | REPÚBLICA DOS PIJAMAS, ABR 15, 2024

O NOSSO CICLO DE ABRIL
Hoje, a República dos Pijamas inicia uma série de textos focados nos 50 anos da Revolução de Abril. Por isso, nas próximas semanas irás receber textos com mais frequência do que é o habitual. O objetivo desta série não é relembrar as conquistas de abril, mas usar o passado como um veículo de reflexão sobre o presente e futuro. As “reformas estruturais”, quer aquelas que a direita quer fazer para apagar o legado da revolução, quer aquelas que a esquerda deve fazer para o revitalizar são o centro desta série.

Iniciamos com um ensaio em torno do livro A Ordem do Capital, de Clara Mattei. Na primeira parte do ensaio, faremos a síntese da obra; na segunda parte refletimos o papel do a compreender a revolução e acontecimentos mais recentes na economia e política.

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Os dias da nossa glória . Abril 13, 2024 . Manuel S. Fonseca . Publicado no Jornal de Negócios

Há de vir o Verão e o meu neto fará então 3 anos. Agora, fala muito, repete, recria, e inventa com uma liberdade que faz sorrir a gramática. Corrijo: a gramática fica vaidosíssima com as surpresas e prendas que a linda boca dele lhe dá. O meu neto faz-me pensar nos poetas da minha juventude, ou não fossem os dias da nossa juventude também os dias da nossa glória, como num verso nos ensinou Byron.

Não me falem, por isso, dos grandes nomes da História. E é o que eu prometo ao meu neto: falar-lhe só dos poetas da minha juventude. Dir-lhe-ei que veio uma revolução e o avô deixou-se ficar, sozinho, sem pai nem mãe, ao Sul e ao Sol, em África, na cidade do Lobito, cuja bela perna esquerda era uma sedutora e erotíssima restinga, em sussurro sobre o mar para que o oceano deixasse em sossego a feminina baía onde vinham, de terras longínquas, descarregar os grandes navios.

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Quadriláteros e círculos: a geometria no comportamento humano | Maria Teresa Carrapato

Que coisa curiosa, a forma da praça propicia o comportamento! Se for quadrada ou rectangular, convida a ficar. Sentar conversar conviver desfrutar. Fazer sala! Assim acontece no Príncipe Real, Rossio, Terreiro do Paço. Place des Voges em Paris, Piazza Della Signoria em Florença, Praça da Cidade Velha em Praga, Praça Vermelha em Moscovo… Apetecíveis praças quadrangulares.

Por outro lado, se a praça for redonda, circular é a sua predestinação! Pouco mais será que uma rotunda para escoar o trânsito. Não convida a ficar, é passagem. Por mais interessante que possa ser a estátua que a embeleza. Não atrai. Veja-se o caso da Praça Marquês de Pombal, Entrecampos, Saldanha, Álvares Cabral. Belíssimas estátuas que não fazem parar ninguém. Afugentam.

Assim acontece com as pessoas. Há-as interessantes, com diferentes cambiantes, ângulos e recantos, conforme as encararmos. Fazem convites implícitos e são apetecíveis. Companhia que apetece ter; há-as também circulares, redondas rotundas, sempre iguais. Sem nuances de tons nem panoramas. Sempre a mesma coisa, falam sempre do mesmo. Cansativas, repetitivas, obsessivas.

Excepção: Piazza del Populo, Florença ( circular mas sem carros, onde apetece estar).

Como a geometria influencia!

Retirado do Facebook | Mural de Maria Teresa Carrapato | 09-04-2024, TC

A burguesia portuguesa está a promover a sua eutanásia, in “República dos Pijamas”

As últimas décadas mostram a burguesia portuguesa a diluir-se entre a burguesia internacional. Fica a questão se isso poderá tornar-se numa clivagem política.

Na ressaca imediata das privatizações da governação de Pedro Passos Coelho, um autor lamentava como a abertura de parte do capital das empresas públicas portuguesas ao setor privado, iniciada nos 80, se tinha prolongado. A dinâmica iniciada então culminava na completa privatização de vários grupos de referência.

Para explicar esta “tragédia nacional”, este falava de um “fascínio pelo modelo inglês” e salientava “o processo de alienação da empresa a grupos empresariais internacionais.”

Para concluir, afirmava que “os nossos filhos mais promissores terão de emigrar, não por falta de emprego, mas por ausência de empresas onde aprendam e cresçam profissionalmente, como nós tivemos.”

O autor não era um quadro do Partido Comunista Português, nem do Bloco de Esquerda. Nem sequer vinha do espaço da esquerda. As linhas foram escritas por Luís Todo Bom, que conta no seu CV com registos como membro do Conselho Consultivo do PSD, antigo secretário de Estado da Indústria e Energia (de um governo liderado por Aníbal Cavaco Silva) e o primeiro presidente da Portugal Telecom (PT).

Todo Bom, que é sem dúvida parte da burguesia nacional, toca num ponto fulcral: o destino dos seus filhos, ou mais especificamente, o destino dos filhos na burguesia portuguesa.

ABR 09, 2024 | CLIQUE NESTE URL para ler todos o artigo

https://republicadospijamas.substack.com/p/a-burguesia-portuguesa-esta-a-promover

“Ancoradouro” | Carlos Barroso Esperança

O «Ancoradouro», que começou a chegar esta semana às livrarias, já está na FNAC e Bertrand das grandes cidades e em várias cidades de média dimensão.

Está também disponível na âncora Editora e nas livrarias online. Em Coimbra já está em livrarias da Baixa e em Lápis de Memória, no Bairro Norton de Matos.

ALTA CULTURA: LUXO OU NECESSIDADE?

O que é Alta Cultura? Qual a missão desta página (no Facebook)? Pareceria, dado a adjetivação, que pretendemos hierarquizar diferentes culturas arbitrariamente, um apelo etnocentrista ou “elitista”, com algum viés ideológico ou religioso. Mas não se trata disso. A página não tem qualquer finalidade ou compromisso político e ideológico.

Matthew Arnold, poeta e crítico britânico, em seu célebre ensaio “Cultura e Anarquia”, publicado em 1865, definiu ‘alta cultura’ como “o melhor do que uma sociedade pensou e falou”. 

No uso popular, o termo “alta cultura” identifica a cultura da classe alta (a antiga aristocracia), ou de uma classe de status (como a intelligentsia – elite intelectual); ou, ainda, e o principal, segundo o filósofo britânico e especialista em estética, Sir Roger Scruton, “o conjunto de produções culturais, principalmente artísticas, realizadas por meio de grande apuro técnico, levando em conta a tradição e a beleza”.

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OS GREGOS TÊM QUE VER COM TUDO | Manuel S. Fonseca

E depois de se entreterem com esta prosa, vá lá, meio-cinéfila, comecem a dirigir-se para o El Corte Inglès. Lá vos espero, esta 2.ª feira, às 18:30, no 6.º andar para  vos apresentar o livro mais vivo e irreverente sobre o 25 de Abril. Façam o favor de não me deixar a falar sozinho.

OS GREGOS TÊM QUE VER COM TUDO

O cinema é uma invenção grega. Digo isto, com o meu melhor ar de Mickey Rourke, e já sei que tenho o Matt Dillon aos gritos comigo. Lembram-se da explosão dele no Rumble Fish do Coppola? “Man, what the fuck did the Greeks have to do with anything?”

Desculpa Matt Dillon, mas têm! Homero inventou o cinema há 30 séculos, inventando as duas grandes formas narrativas que, mais às escondidas ou mais à descarada, estão presentes em centenas de filmes. 

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Camões e Jau | Frederico Lourenço

Uma das razões pelas quais a vida de Camões continua a ser um objecto de permanente fascínio é o facto de sobre ela sabermos quase nada.

Além da realidade material do livro «Os Lusíadas» publicado em 1572, são poucas as provas documentais que atestam acontecimentos na vida de Camões (note-se que, na sequência do Concílio de Trento, a obrigatoriedade dos registos de baptismo só entrou em vigor no reinado do cardeal D. Henrique). O que temos então de concreto? Há o documento do perdão concedido por D. João III (7 de Março de 1553), depois de Camões ter sido preso por causa da briga em que se envolveu perto do Rossio (em Lisboa), documento esse que também refere a partida iminente de Luís para a Índia. E há vários documentos relacionados com a pensão («tença») que lhe foi concedida por D. Sebastião. 

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A criação de uma clivagem geracional é um retrocesso no debate político, in “República dos Pijamas”

A constante chamada de “jovens brilhantes” para o espaço público e a criação de um ministério da Juventude apenas aprofundam a tecnocratização do debate político e a vilificação dos mais vulneráveis.

Celebrava-se o 45º aniversário do 25 de Abril, em 2019, quando João Marecos, co-fundador d’Os Truques da Imprensa Portuguesa, foi desafiado num programa do Prós e Contras a criar uma lista de autodesignados especialistas com menos de 30 anos. Chamou-lhe “100 Oportunidades” e a iniciativa consistiu num website com jovens dispostos a serem ouvidos pelos meios de comunicação social. Quatro anos depois de criar uma página nas redes sociais que contestava coberturas mediáticas, Marecos deixara de escrutinar os meios de comunicação para lhes pedir mais espaço mediático.

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