Dernière lettre de Virginia Woolf à son mari Leonard

VirginiaWoolf

Virginia Woolf s’est suicidée le 28 mars 1941. L’immense écrivaine anglaise, romancière hors pair et féministe de la première heure, a épousé très jeune Léonard, auteur mineur qui eut la grandeur de s’effacer devant le talent de sa femme et de la protéger des appels de la folie. Si ce mariage fut non consommé, si Virginia trouva des âmes sœurs féminines où s’adonner à la sensualité, c’est à cet époux dévoué et exemplaire qu’elle adresse ses derniers mots avant de se noyer dans un lac, de nuit. Voici sa dernière lettre d’amour.

Mon chéri,

J’ai la certitude que je vais devenir folle à nouveau : je sens que nous ne pourrons pas supporter une nouvelle fois l’une de ces horribles périodes. Et je  sens que je ne m’en remettrai pas cette fois-ci. Je commence à entendre des voix et je ne peux pas me concentrer.

Alors, je fais ce qui semble être la meilleure chose à faire. Tu m’as donné le plus grand bonheur possible. Tu as été pour moi ce que personne d’autre n’aurait pu être. Je ne crois pas que deux êtres eussent pu être plus heureux que nous jusqu’à l’arrivée de cette affreuse maladie. Je ne peux plus lutter davantage, je sais que je gâche ta vie, que sans moi tu pourrais travailler. Et tu travailleras, je le sais.

Vois-tu, je ne peux même pas écrire cette lettre correctement. Je ne peux pas lire. Ce que je veux dire, c’est que je te dois tout le bonheur de ma vie. Tu t’es montré d’une patience absolue avec moi et d’une incroyable bonté. Je tiens à dire cela – tout le monde le sait.

Si quelqu’un avait pu me sauver, cela aurait été toi. Je ne sais plus rien si ce n’est la certitude de ta bonté. Je ne peux pas continuer à gâcher ta vie plus longtemps. Je ne pense pas que deux personnes auraient pu être plus heureuses que nous l’avons été.

VOIR ICI: http://www.deslettres.fr/lettre-de-virginia-woolf-son-mari-leonard-ce-que-je-veux-dire-cest-que-je-te-dois-le-bonheur-de-ma-vie/

Lêdo Ivo: a poesia do caminhante | Adelto Gonçalves

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       ledo_ivo_na_ablFeita essencialmente de imagens, a poesia de Lêdo Ivo (1924-2012) é, sobretudo, reflexiva. Como se o poeta precisasse andar muito, fazendo o seu próprio caminho, a exemplo do que sugere Antonio Machado (1875-1939), para poder refletir, “lavando com a água mais pura a ferida da vida”. É o que mostra em Quero ser o que passa: a poesia de Lêdo Ivo (Rio de Janeiro, Contra Capa Livraria; Maceió, Imprensa Oficial Graciliano Ramos, 2011), a professora Luiza Nóbrega (1946), com certeza, o estudo mais aprofundado feito aqui até da extensa obra do poeta alagoano.

Com título retirado da própria obra poética de Lêdo Ivo, o livro é constituído por ensaios que se foram formando a partir de 2002 com o retorno da autora à Literatura Brasileira, depois de anos de dedicação ao estudo de poetas portugueses – de Luís de Camões (1524-1580) a António Nobre (1867-1900) e à tríade da revista Orpheu, Fernando Pessoa (1888-1935), Almada Negreiros (1893-1970) e Mário de Sá-Carneiro (1890-1916) –, tarefa que lhe exigira longa permanência em Portugal em três estágios de investigação.

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‘Fita azul”: a reconstrução da memória | Adelto Gonçalves

Adelto-Goncalves                                                           I

Fita azul (São Paulo, Editora Babel, 2011), primeiro romance do contista e poeta Edmar Monteiro Filho, um dos finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura de 2012, surpreende da primeira à última linha pela segurança com que o seu autor desempenha o seu ofício. Escrito como se saísse da pena de uma mulher, acontecimento raro na Literatura Brasileira, o romance foi construído a partir de lembranças da mãe do autor sobre a infância e a adolescência vividas em Amparo, cidade hoje de 70 mil habitantes, estância hidromineral a 50 quilômetros de Campinas, terra de adoção de Bernardino de Campos (1841-1915), advogado e fazendeiro de café que foi um dos altos próceres da Primeira República (1889-1930) e duas vezes presidente do Estado de São Paulo (1892-1896 e 1902-1904).

O romance não está dividido em capítulos nem partes, mas em blocos que o leitor só consegue identificar plenamente na última linha, quando a memorialista revela a sua idade à época dos acontecimentos que narra.

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