POEMA 165 DO LIVRO INÉDITO “SILÊNCIO QUASE” E UMA ESCULTURA DE RODIN | Casimiro de Brito

Amo-te porque sou dependente do teu odor. 
Amo-te porque balanças nos ventos futuros.
Porque sou uma árvore que se abriga à tua sombra.
Amo-te porque só sei respirar na cidade de Eros.
Amo as marcas indecifráveis de todas as etnias
que produzem a beleza do teu rosto.
Bebo nas tuas coxas o linho molhado da minha infância.
Amo-te porque és alucinação e mulher real
no mesmo corpo volátil. Amo-te
porque também de noite és o meu sol quotidiano.
Amando-te não preciso de correr por montes e vales
em busca da mais antiga das mães. Tu, a irmã
da minha vagabundagem sempre inaugural. Amo-te
porque deixei de ter pressa. Um poema infinito,
uma cascata em cada sílaba. Uma lua que me engole
quando começo a ser sábio. A vegetação
no jardim que foi de pedra. Conheci na tua carne
a lama do meu reino luminoso. Amo-te
porque me fazes saltar o coração e lá vai ele
a caminho do país dos cedros. E assim renasço
no enigma da tua carne que no chão deitada, voa.
Amo-te porque dependo da tua cor do teu odor.
Amo-te porque me acolhes à tua sombra de árvore
para sempre iluminada. Amo-te
porque não tenho pressa e também as tuas águas
parecem um ribeiro por entre as colinas
da manhã. Amo-te mistura de linho e do mármore
macio da manhã. Amo-te porque os teus caracóis
se transformaram em carícia onde sou mais só.
Amo-te porque te vejo arder
como se desejasses que também eu ardesse
a teu lado.

Casimiro de Brito

Retirado do Facebook | Mural de Casimiro de Brito

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