PORQUÊ ALFACINHAS? | Guilherme d’Oliveira Martins | Centro Nacional de Cultura

«Para começar apresento a ilustração de Luís Diferr sobre Lisboa antes do Terramoto…

E faço eco de uma persistente pergunta – por que razão são os lisboetas designados, desde tempos imemoriais, por alfacinhas? 

Almeida Garrett imortalizou o epíteto nas «Viagens na Minha Terra», mas não explicou: «Pois ficareis alfacinhas para sempre, cuidando que todas as praças deste mundo são como a do Terreiro do Paço».

Pois bem, alfacinha vem mesmo de alface (latim, lactuca saliva, do árabe al-khass) e o diminutivo é um sinal não apenas de afeto, mas também de uma certa depreciação… É que provavelmente foram os moçárabes dos arrabaldes, a quem os lisboetas chamavam saloios (da palavra çaloio, que era o tributo pago pelos padeiros mouros de Lisboa), que devolveram o cumprimento, comparando os lisboetas a grilos pelo gosto das alfaces que cultivavam, comiam e encomendavam aos almocreves que pagavam os seus tributos nas portas de Benfica para entrarem na cidade.

Correu a ideia de que no cerco de Lisboa de 1384 (de 4 meses e 27 dias) Lisboa se teria aguentado a comer alfaces. Não é verdade. O cerco foi levantado com o alarme de peste…

Em suma, «alfacinha» é um mimo dos moçárabes saloios, talvez cansados de exigências e sobrancerias…

Lisboetas, alfacinhas para sempre…»

Guilherme d’Oliveira Martins, Diário de Agosto, Centro Nacional de Cultura, 1/08/2017

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