25 de Abril de 1974, por Helena Pato, activista, ex-presa política, in Expresso, 25-04-2025

Retirado do Facebook | Mural de Paulo Marques

“Em abril de 1974 eu era professora, militante do PCP, ativista da CDE, dirigente dos Grupos de Estudo do Pessoal Docente (fundadores dos sindicatos de professores) e, então, casada com o dirigente político da CDE José Tengarrinha, libertado de Caxias pela Revolução. Neste testemunho não posso prescindir de uma breve referência ao período histórico imediatamente anterior. Porque me confronto, diariamente, com uma espécie de manto de silêncio sobre as atrocidades da ditadura, a troco da exibição da festa dos cravos; e porque, em meu entender, o 25 de Abril não teria passado de um golpe militar, nem chegado ao Largo do Carmo, já com uma revolução em marcha, se não houvesse uma predisposição dos portugueses para o derrube de um regime, cujas políticas vinham tendo crescentes e expressivas respostas populares e das forças da oposição. Como chegámos ao 25 de Abril? Exauridos.

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25 de Abril: uma revolução em ambiente de soberania limitada | Carlos de Matos Gomes

Todos os Estados, até mesmo os impérios, têm uma soberania limitada pela dos seus competidores. Contudo, a limitação da soberania do Estado Português tem características próprias, devido, por um lado, à sua pequena dimensão (um território de 89 mil km2), à diminuta população e à escassez de recursos e, por outro, a uma situação geográfica na fachada atlântica da Península Ibérica e da Europa continental, logo, possuidor de uma localização estrategicamente importante para as grandes potências europeias, como ligação do Atlântico Norte ao Mediterrâneo e à costa africana. Este quadro foi praticamente constante ao longo da história.

O Estado Português, dados os condicionalismos, foi desde a fundação o que podemos designar como um estado vassalo da potência marítima, a Inglaterra, e todos os momentos chave da sua história foram determinados por ela, desde logo a independência contra outros estados ibéricos e contra a tentativa de unificação peninsular. Os cruzados ingleses estiveram com Afonso Henriques na fundação do Reino, serão tropas inglesas que decidirão Aljubarrota, e será a uma inglesa, Filipa de Lencastre, que se deve a estratégia expansionista da ínclita geração. Será ainda a Inglaterra que viabilizará a restauração da soberania no processo iniciado em 1640 e que assegurará a independência na Guerra Peninsular, com Wellington a defender Portugal das tropas invasoras de Napoleão. Também serão os ingleses que introduzirão o liberalismo e a modernidade europeia em Portugal, que, a partir de 1822, conduzirão o processo de independência do Brasil e, que, na Conferência de Berlim, atribuirão as colónias a Portugal, complementares das suas. O colonialismo português começa pela mão dos ingleses. A instauração da República deve-se, em parte e ironicamente, aos ingleses, que tinham desencadeado fervores patrióticos com o Ultimato.

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