Uma poeta interpretada por outra, por Adelto Gonçalves, 02/09/2025

Novo livro de Maria Estela Guedes reúne ensaios sobre as obras de Maria Azenha

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Aprofundados estudos sobre livros que fazem parte da extensa obra de Maria Azenha, talvez a mais significativa poeta portuguesa contemporânea, é o que o leitor vai encontrar em Na CasadeMariaAzenha (Lisboa, Edições Esgotadas, 2025), de Maria Estela Guedes, poeta e ensaísta. De início, a autora deixa claro que a maior parte dos poemas de Maria Azenha revela sinais muito fortes de misticismo, de que o seu livro Oúltimo rei de Portugal (Lisboa, Fundação Lusíada, 1992) é um dos mais marcantes exemplos.

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LETRAS | A imagem mítica de Antígona revivida, de Flávia Resende, por Adelto Gonçalves

Obra da atriz e doutora em Letras Flávia Resende discute a influência da peça de Sófocles em contextos pós-conflitos

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            Decifrar a imagem mítica de quatro Antígonas – duas europeias, duas latino-americanas, todas escritas num contexto de estado de exceção e, obviamente, totalitário – é o que busca a professora e atriz Flávia Almeida Vieira Resende em AntígonasApropriações políticas do imaginário mítico (Belo Horizonte, Editora da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, 2023), originalmente apresentado como tese de doutoramento na Faculdade de Letras da UFMG, em 2017.


A partir do texto fundador do dramaturgo grego Sófocles (497/496a.C-406/405a.C.), um dos mais importantes escritores de tragédia ao lado de Ésquilo (525/524a.C-456/455a.C) e Eurípedes (ca.480 a.C-406a.C.), a autora procura analisar as formas de organização do imaginário mítico de Antígona (em grego Ἀντιγόνη), figura da mitologia grega, irmã de Ismênia, Polinice e Etéocles, todos filhos do casamento incestuoso de Édipo e Jocasta.

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Fernando Mitre, jornalista | O jogo democrático na TV, por Adelto Gonçalves

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Obra reúne memórias do jornalista Fernando Mitre, que organizou vários debates televisivos entre candidatos a presidente da República


               Boa parte da história do regime democrático restaurado no Brasil após os 21 anos de trevas que marcaram o regime militar (1964-1985) pode ser revivida a partir dos acontecimentos que assinalaram os debates televisivos entre os candidatos às vésperas das eleições presidenciais. É o que se pode constatar no livro Debate na Veia – Nos Bastidores da Tevê –

 A Democracia no Centro do Jogo (Taubat&eac ute;-SP, Editora Letra Selvagem/Curitiba, Kotter Editorial, 2023), do jornalista Fernando Mitre, responsável por produzir os debates realizados sob as câmeras da Rede Bandeirantes de Televisão durante grande parte daquele período.


               Com larga experiência no jornalismo impresso, Mitre soube levar para o jornalismo televisivo o comportamento ético e isento que até então não se via naquele setor de mídia e que marcou especialmente aquela rede de televisão, já que o grupo concorrente, a Rede Globo de Televisão, haveria de afrontar tudo o que se podia esperar de uma atuação imparcial e responsável, ao editar e manipular o debate final entre os canditados Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor em 1989, privilegiando a atuação daquele que haveria de se eleger presidente da República.   

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Cartas trocadas entre autores | Livro do professor e crítico literário Miguel Sanches Neto reúne correspondência do seu arquivo particular, por Adelto Gonçalves

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            Algumas cartas (ou bilhetes) de natureza familiar e outras trocadas com literatos conhecidos, como os poetas Helena Kolody (1912-2004), José Paulo Paes (1926-1998) e Manoel de Barros (1916-2014), o contista Dalton Trevisan (1925-2024) e o historiador e crítico literário Wilson Martins (1931-2010), constituem o acervo pessoal que compõe o livro Cartinhas reenviadas (Ponta Grossa-PR, Container Edições, 2024), do professor universitário Miguel Sanches Neto, escritor profícuo, dono de vasta obra que abrange mais de 50 títulos. Trata-se de uma “espécie de ossos desemparceirados em um túmulo coletivo”, na definição do autor.

            É um material que revela ao leitor lances da vida literária do escritor, desde a época em que deixou a pequena Peabiru, no interior do Paraná, para se tornar um grande escritor, além de cumprir brilhante carreira acadêmica que o levou a reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), cargo que ocupa desde 2018. A obra reúne cartas de uma época em que o papel fazia parte da vida cotidiana, ao contrário destes tempos digitais em que a correspondência dura apenas até o momento em que aparece uma inovação tecnológica que a manda para os ares.

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Poemas de amor ao Campo Grande, de Ademir Demarchi e Paulo de Toledo, por Adelto Gonçalves

Obra conjunta dos poetas Ademir Demarchi e Paulo de Toledo homenageia tradicional bairro de Santos.

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            Um poemário que evoca o tradicional bairro do Campo Grande, em Santos, no Litoral do Estado de São Paulo, é o que o leitor vai encontrar em Poetas bairristas (São Paulo, Editora Primata, 2024), de Ademir Demarchi e Paulo de Toledo, obra premiada pelo 10º Concurso de Apoio a Projetos Culturais Independentes, promovido pela Prefeitura de Santos, por intermédio de sua Secretaria de Cultura – Programa de Apoio Cultural Facult 2022. Os poemas partem do fato de os poetas serem vizinhos de duas quadras no Campo Grande, assunto explorado com fina ironia e indisfarçável amor ao singelo bairro.

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HISTÓRIA | Para marcar os 90 anos de Goiânia, por Adelto Gonçalves

Com 16 textos extremamente ricos em pesquisas, obra traça o percurso histórico da capital de Goiás                         

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                Uma profunda reflexão sobre a história de Goiânia é o que o leitor vai encontrar em Goiânia, 90 Anos (Coleção Goiás +300, Instituto Histórico e Geográfico de Goiás – IHGG), obra lançada em 2024 dentro do programa de comemoração dos 90 anos de existência da cidade e que reúne 16 textos apresentados durante simpósio realizado nos dias 18, 19 e 20 de outubro de 2023, nas dependências do IHGG, por historiadores, professores universitários, ativistas culturais e técnicos em planejamento. A primeira parte do livro aborda aspectos históricos, enquanto a segunda apresenta artigos que tratam de temas relacionados ao urbanismo e à arquitetura, ficando a terceira seção reservada à discussão de elementos culturais e estéticos.

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Demarchi: relatos além da imaginação, por Adelto Gonçalves                                  

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                A tênue película que nos separa deste mundo (João Pessoa-PB, Ideia Editora, 2024), que obteve o primeiro lugar no Concurso Nacional de Literatura da União Brasileira de Escritores (UBE), da Paraíba, é o primeiro livro de ficção de Ademir Demarchi, poeta consagrado com mais de uma dezena de livros publicados no gênero, além daqueles que reúnem ensaios e crônicas. Obra de inspiração onírica, seu novo livro traz pequenos relatos escritos a partir de sonhos ou mesmo pesadelos que, muitas vezes, beiram o fantástico, fazendo o leitor penetrar num universo kafkiano em que as regras são dominadas ou violadas pela imaginação

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Uma viagem ao tempo do Império de Eliezer Moreira, por Adelto Gonçalves

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            Um romance que recupera o que teria sido a visita do aventureiro inglês Richard Francis Burton (1821-1890), cônsul de seu país de 1865 a 1869 no porto de Santos-SP, à Januária, cidade situada às margens do rio São Francisco, nos limites com o Nordeste, em setembro de 1867, é o que o leitor vai encontrar no novo livro do jornalista Eliezer Moreira, Crônica da passagem do inglês (Recife, Companhia Editora de Pernambuco – Cepe, 2024). O foco central do romance é um triângulo amoroso entre Quirina, negra, escravizada e defensora da causa abolicionista, Arcanjo, negro, escravo e alfabetizado, e Ballard, um aventureiro irlandês que se radicou naquele Brasil selvagem e inóspito do século XIX, atraído pelas cores, pela paisagem e pelas perspectivas de enriquecimento fácil.

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Raquel Naveira: uma viagem ao mundo guarani, por Adelto Gonçalves

Em novo livro, a autora recupera suas vivências com a herança indígena no Mato Grosso do Sul e no Paraguai.  
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Depois de lançar em 2021 Manacá, livro de crônicas em que mescla tradição e modernidade, a professora sul-matogrossense Raquel Naveira volta ao mercado com Mundo Guarani  Fragmento de uma alma da fronteira (São Paulo, Minotauro/Editora Almedina Brasil, 2023), obra de memória que está entre a crônica, a novela e o romance e obteve o Prêmio João do Rio, da União Brasileira de Escritores (UBE), do Rio de Janeiro.

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Braga Horta: a infância revivida em versos, por Adelto Gonçalves

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            Nascido em Carangola, o poeta Anderson Braga Horta, filho de poetas, ainda criança, acompanhando a família, trocou o interior de Minas Gerais pelo interior de Goiás, mais especificamente pela tradicional Vila Boa de Goiás, ou Goiás Velho, onde fez o curso primário em duas “escolinhas domésticas”. Depois, transferiu-se para Goiânia, jovem capital àquela época, onde fez o curso de admissão ao ginásio para ingressar no Ateneu Salesiano Dom Bosco. Mas, aos 12 anos, retornou para Minas, onde ficou na casa dos avós, em Manhumirim, e concluiu o ginásio. Depois, foi para Leopoldina, ainda em Mina s Gerais, e fez o curso clássico.
            Tempos depois seguiu para o Rio de Janeiro, onde, em 1959, formou-se pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil. Advogado, mudou-se para Brasília, onde desempenhou o cargo de diretor legislativo da Câmara dos Deputados. Ao mesmo tempo, cumpriu uma vitoriosa carreira nas letras, publicando extensa obra que inclui títulos de poesia, crítica literária e ensaística.

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 Floriano Martins: a prosa poética à flor da pele, por Adelto Gonçalves

Em seu novo livro, ‘Sombras no Jardim’, o poeta reafirma sua busca pela experimentação linguística.

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Se a prosa poética se dá a partir da fusão do enredo e da poesia, com “a narratividade desenvolvida em ambiência lírica ou épica”, como observou o professor Massaud Moisés (1928-2018) em A Criação Literária – Prosa II (São Paulo-SP, Editora Cultrix, 2015, p. 29), é, certamente, essa a definição mais apropriada para Sombras no Jardim (Natal-RN, Arc Edições/Sol Negro Edições, 2023), de Floriano Martins (1957), poeta, dramaturgo, ensaísta, crítico literário, artista plá ;stico e tradutor, dono de vasta obra que inclui mais de uma centena de livros publicados no Brasil, em Portugal e em outros países.

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Nova obra de Silas Corrêa Leite, “Ensaios Gerais”, por Adelto Gonçalves

Silas Corrêa Leite, em “Ensaios Gerais”, reúne resenhas e breves ensaios que valorizam os autores nacionais

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O romancista, contista, poeta e ensaísta Silas Corrêa Leite acaba de reunir em livro resenhas, críticas literárias, artigos e breves ensaios publicados nas duas últimas décadas em jornais, revistas e sites, direcionados especialmente às obras de autores brasileiros, entre os que já fazem parte da história da literatura nacional e outros, mais jovens, que ainda buscam o reconhecimento da crítica e dos historiadores, sem deixar de analisar também alguns clássicos da literatura mundial. O resultado está em EnsaiosGerais: compêndiodecríticaslítero–culturais, lançado pela Caravana Grupo Editorial, de Belo Horizonte, editora que, em seu início, chamava-se Sangre Editorial e produzia apenas formatos artesanais, costurados manualmente, em sua oficina de Buenos Aires.

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A Inconfidência revisitada de Kenneth Maxwell, por Adelto Gonçalves

Nova obra do historiador britânico Kenneth Maxwell analisa a trajetória do Brasil no século XXI e reconstitui a história da conjuração mineira de 1789.

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               Uma revisão, praticamente, completa da chamada Inconfidência Mineira – até porque, em História, nunca se pode definir um estudo como completo porque sempre haverá a possibilidade de se localizar documentos esquecidos ou perdidos – é o que o leitor vai encontrar no longo ensaio “Imagined Republics: the United States of America, France, and Brazil (1776-1792)”, que constitui a segunda parte de Brazil in a Changing World Order – Essays by Kenneth Maxwell (Robbin Laird, editor, Second Line of Defense, 2024), obra que acaba de sair à luz na Inglaterra e que, por sua importância capital, está a exigir a sua publicação o mais rápido possível por uma editora brasileira.

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Espantalhos – 25 anos de escrita | Ademir Demarchi | por Adelto Gonçalves

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               Editar uma revista dedicada à poesia no Brasil é um desafio que sempre beirou a utopia. Mesmo assim, o poeta e ensaísta Ademir Demarchi, doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), decidiu enfrentá-lo em 2000, quando começou, com o apoio de mais três coeditores, a editar a Babel – Revista de Poesia, Tradução e Crítica, que, em sua primeira fase, teve seis edições e durou até 2004. Depois de muita luta junto a órgãos governamentais para obter apoio e até conquistar o primeiro lugar na seleção do Programa Cultura e Pensamento 2009/2010 do Ministério da Cultura, a revista com o título Babel Poética voltou a ser editada por mais seis vezes, de 2009 a 2013. Em 2017, a revista teve uma terceira fase com mais três edições, resultado de premiação do Programa de Ação Cultural (ProAC) do Governo do Estado de São Paulo, chegando a 15 edições no total.

             A história dessa odisseia literária o leitor pode conhecer a partir da leitura de “Babel Poética: a poesia na era Lula”, ensaio que abre a segunda parte do livro Espantalhos (Florianópolis, Nave Editora, 2017), de Ademir Demarchi, em que o editor conta a sua decepção com a Lei Rouanet, que, a princípio, apoiaria iniciativas culturais. “(…) o governo proclama o investimento em cultura através de uma renúncia fiscal que não se cumpre, uma vez que delega aos empresários o poder de decisão de usar essa renúncia. Ocorre que o empresariado, além de massivamente ignorante e inculto, com um imenso contingente habitando confortavelmente os índices de analfabetismo funcional, não tem interesse em cultura e os que têm algum interesse não o têm em revistas. Ainda mais de poesia (…). 

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Eufrásia e Nabuco: uma história de amor | Neusa Fernandes | por Adelto Gonçalves

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Eufrásia Teixeira Leite (1850-1930), nascida em Vassouras, no interior do Estado do Rio de Janeiro, foi mulher avançada para o seu tempo, que viveu sua infância e adolescência numa bela residência senhorial conhecida como a Casa da Hera e recebeu educação esmerada, pois apreciava literatura de alto nível, especialmente os textos do filósofo alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) e os contos e poemas do norte-americano Edgar Allan Poe (1809-1849).

Ela viveu um romance clandestino de 14 anos com Joaquim Nabuco (1849-1910), advogado, diplomata e herdeiro de José Tomás Nabuco de Araújo Filho (1813-1878), presidente da província de São Paulo (1851-1852), ministro da Justiça (1853-1857) e senador do Império pela Bahia (1857-1878), a quem o filho dedicou o livro Um estadista do Império, obra seminal para se conhecer a história política brasileira daquela época.

Apesar de pertencer à elite brasileira, que sempre se caracterizou por sua ancestral maldade para com as classes menos favorecidas, Joaquim Nabuco destacou-se como defensor da liberdade para os escravos, além de ter sido grande tribuno e combativo jornalista, que despertava a ira dos conservadores que o consideravam um “arrogante mulato nordestino e perigoso abolicionista”. Foi também intransigente defensor das reformas sociais de base, que até hoje o Brasil ainda não conheceu.

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Agostinho da Silva, um pensador lusófono | Adelto Gonçalves

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        O filósofo, poeta e ensaísta Agostinho da Silva (1906-1994) sempre teve múltiplos interesses, mas concentrou-se em áreas como literatura portuguesa e brasileira e as questões portuguesas, deixando obras, artigos e ensaios que o colocam hoje como um dos maiores – senão, o maior – pensadores luso-brasileiros do século XX. Em Ensaios sobre Cultura e Literatura Portuguesa e Brasileira, volume I (Lisboa, Editora Âncora, 2000), que tem merecido reedições, o leitor encontrará textos pedagógicos e filosóficos, especialmente aqueles que apareceram a partir da década de 1950, embora possam ser encontrados alguns de décadas anteriores, mas que são suficientes para dar uma ideia geral do pensamento agostiniano.

Um dos textos que se destaca entre os 28 artigos, prefácios de livros e ensaios aqui reunidos é aquele que carrega o título “Ensaio para uma teoria do Brasil”, publicado originalmente na revista Espiral, nºs. 11-12, de 1966, em que o autor diz que “a grande base do retardamento do Brasil como civilização nova vai estar no ciclo do açúcar e, mais que tudo, no ciclo do ouro, que provoca o quase despovoamento de Portugal em homens, fixa no Brasil uma tão elevada percentagem de europeus que o equilíbrio anterior se rompe e se perde aquele hibridismo de cultura que se apresentava como tão promissor”.

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‘Atlas do impossível’: contos surrealistas | Edmar Monteiro Filho, por Adelto Gonçalves

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            Um livro de contos, geralmente, é o resultado da reunião de textos literários dispersos e autônomos que o autor produz ao longo dos anos, quase sempre sem um fio narrativo que os una. São também textos que escapam a qualquer critério quantitativo, ou seja, não podem ser definidos com base em sua extensão. Mas, ao contrário da novela e do romance, o conto exige, antes de tudo, a atenção concentrada do leitor para produzir nele um “efeito preconcebido, único, intenso, definido”, com observou o professor, ensaísta e investigador venezuelano Carlos Pacheco (1948-2015) em Del cuento e sus alrededores. Aproximaciones a una teoria del cuento (Caracas, Monte Ávila Latinoamericana, 1997, p. 20), com base no que dizia o poeta norte-ame ricano Edgar Allan Poe (1809-1849), para quem o “conto devia ser lido de uma assentada”.

             Atlas do impossível (Guaratinguetá-SP, Editora Penalux, 2017), de Edmar Monteiro Filho, quinto livro de contos do autor, não preenche todos esses critérios. Mas, entre os 15 relatos que o compõem, há dois que provam que a extensão em número de páginas ou palavras não é mesmo critério seguro para definir um conto. Por exemplo, o texto de abertura, “Autorretrato em espelho esférico”, tem apenas 18 linhas, enquanto aquele que encerra o volume, “Galeria”, ocupa 49 páginas, dividido em dez capítulos ou trechos, aproximando-se do que se poderia chamar de novela.

            O livro, porém, vai além. São relatos caudatários do movimento surrealista da década de 1920, liderado pelo poeta e crítico francês André Breton (1896-1966), que, tanto na pintura ou na gravura como na poesia ou na prosa, procurava incorporar elementos desconexos, formas abstratas e ideias irreais, com o objetivo declarado de escapar da lógica e da razão. Em outras palavras: levar o poder da subversão à criação.

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